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Governo colombiano quer mais deserções nas Farc

Dois ex-líderes da guerrilha presos serão libertados para tentar convencer outros rebeldes a se entregarem. Autoridades negam que a medida seja um indulto e prometem supervisioná-los de perto

postado em 07/03/2009 08:05
O governo colombiano libertará dois dos principais integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na expectativa de que eles convençam outros guerrilheiros a se desmobilizarem. Raúl Agudelo Medina, mais conhecido como Olivo Saldaña, e Elda Neyis Mosquera García, a Karina, já foram condenados por assassinatos e sequestros. No entanto, tornaram-se ;gestores da paz;. O Executivo colombiano anunciou que Saldaña e Karina manifestaram ;sua vontade de paz e de contribuir com a aplicação efetiva do direito internacional humanitário, assim como seu compromisso de renunciar a toda atividade ilegal, de se reincorporar à vida civil e de colaborar com a Justiça;. Fabio Valencia, ministro do Interior e Justiça, assegurou que o governo dará aos dois todas as condições de segurança para que cumpram o compromisso assumido, enquanto que as autoridades carcerárias manterão uma supervisão permanente sobre ambos. Para realizar sua nova tarefa, os ex-guerrilheiros poderão entrar em contato com seguidores e dirigentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Karina, que se entregou ao Exército em maio de 2008, foi condenada em fevereiro a 33 anos de prisão por sua participação num ataque a um povoado do departamento (estado) de Caldas, que resultou na morte de 12 policiais e dois civis. Saldaña já tem um histórico de desmobilização. Ele liderou, segundo o jornal El Tiempo, a desativação da Frente Cacique Gaitana das Farc e, nos últimos anos, promoveu na prisão o programa Mãos pela Paz, que reúne 700 ex-guerrilheiros dispostos a nunca mais ajudar o grupo rebelde. A libertação de Karina, porém, preocupa mais os parentes de reféns e vítimas das Farc. Considerada a mais sanguinária guerrilheira, ela liderava a Frente 47. Pesavam contra ela seis ordens de captura por crimes como sequestro, terrorismo, rebelião, homicídio agravado e extorsão. Karina se rendeu em 18 de maio de 2008. O governo do presidente Álvaro Uribe tenta garantir que os dois ex-líderes das Farc não voltarão à clandestinidade, como ocorreu com o também rebelde Rodrigo Granda. De acordo com as autoridades, Saldaña e Karina não receberão anistia nem indulto, mas apenas uma ;suspensão da pena;. Caso cometam qualquer novo crimes, eles terão de voltar para a cadeira. Apelo por justiça Mais de mil pessoas saíram às ruas em Bogotá para protestar contra as execuções extrajudiciais realizadas por policiais e integrantes das Forças Armadas. Entre os manifestantes havia vários parentes de jovens que foram mortos por forças de segurança devido a supostas ligações com grupos guerrilheiros. Eles exigiram rapidez nas investigações desses casos, chamados de ;falsos positivos;, e caminharam do Ministério da Defesa até a Procuradoria Geral. ;É uma forma de mostrar à Colômbia e ao mundo que militares assassinam com frequência civis e, depois, os apresentam como terroristas;, disse Iván Cepeda, porta-voz do Movimento Nacional de Vítimas de Crimes de Estado, à agência de notícias Associated Press. Ao fim da caminhada, parentes das vítimas entregaram a procuradores um pedido para que os casos de execução extrajudicial sejam todos unificados em um só processo, o qual ficaria a cargo de um grupo de investigadores exclusivo. Hoje, há mais de 900 investigações sobre a morte de 1.454 civis.
Em dois anos, cúpula das Farc foi dizimada As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) tiveram em 2007 e 2008 os piores anos de sua história. Sofreram uma série de golpes impostos pelo governo do presidente Álvaro Uribe, que empenhou as forças de segurança numa luta sem piedade contra a maior guerrilha do continente. Saiba quais líderes da organização morreram, foram assassinados ou presos nos últimos meses. Negro Acacio (1º de setembro de 2007) ; Comandante da Frente 16 das Farc, Tomás Molina Caracas, conhecido como Negro Acacio, morreu durante bombardeios de militares colombianos no leste do país. Negro Acacio era peça-chave nas operações de narcotráfico atribuídas às Farc e mantinha relações com o traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar. Também foi o primeiro líder guerrilheiro a ter a extradição requisitada pelos Estados Unidos por acusações de tráfico de drogas. Martín Caballero (25 de outubro de 2007) ; Principal dirigente da guerrilha nos departamentos (estados) do litoral atlântico da Colômbia, Gustavo Rueda Díaz, conhecido como Martín Caballero, foi morto em combate com pelo menos outros 18 rebeldes. A operação das Forças Armadas, por terra e ar, ocorreu na regiãode Los Montes de Maria, no norte do país. Chefe da frente 37 das Farc, Caballero era um dos mais importantes mentores de seqüestros da organização. Raúl Reyes (1º de março de 2008) ; Raúl Reyes era porta-voz das Farc, membro do Secretariado e o contato de negociadores estrangeiros com o grupo guerrilheiro. Ele morreu durante um bombardeio da Força Aérea colombiana a um acampamento do movimento rebeldes do lado equatoriano da fronteira. Seu computador pessoal foi apreendido pelos militares e forneceu informações sobre contatos entre Reyes e os governos da Venezuela e do Equador, o que agravou a crise diplomática na região. Iván Ríos (3 de março de 2008) ; Era o mais jovem integrante do Secretariado das Farc. Foi traído por um de seus comandados, que disparou contra a cabeça de Ríos, roubou-lhe o notebook e arrancou a mão do líder guerrilheiro para entregá-la às autoridades. Como recompensa, o traidor recebeu US$ 2,7 milhões do governo. José Juvenal Velandia, verdadeiro nome de Ríos, era um dos principais negociadores da guerrilha. Formado em economia, servia como ;contador; das Farc. Manuel Marulanda (26 de março de 2008) ; Chamado de Tirofijo, era o dirigente maior da guerrilha. Um integrante da organização revelou que Marulanda morreu vítima de um ataque cardíaco fulminante. Para confirmar o fim de Tirofijo, algumas fotos do corpo foram divulgadas semanas depois. O verdadeiro nome do líder era Pedro Antonio Marin. Nascido em uma família de pequenos agricultores, em 1964 participou da criação do Bloco Sul, o embrião das Farc, com um programa de reivindicações cujo destaque era a reforma agrária. Karina (18 de maio de 2008) ; Nelly Ávila Moreno, conhecida como Karina, era uma das líderes mais sanguinárias das Farc. Ela se entregou às autoridades colombianas no domingo retrasado alegando que temia ter o mesmo destino de Iván Ríos. Karina é acusada de participação no assassinato do pai de Álvaro Uribe, atual presidente, embora negue envolvimento no crime. Já comandou a Frente 47 das Farc e disse que seu grupo está totalmente desmantelado. Segundo ela, a guerrilha está ;quebrada;.

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