postado em 09/03/2009 11:05
No período julho-agosto, uma temporada de violência lembra aos irlandeses as raízes históricas do conflito na Irlanda do Norte, integrada ao Reino Unido como a província do Ulster. Vestidos de laranja, militantes de ordens político-religiosas marcham pelas ruas para celebrar a vitória do nobre protestante William de Orange sobre o rei católico James, em 1690. A batalha consolidou a submissão dos irlandeses, majoritariamente católicos, à coroa britânica, rompida com o Vaticano desde o século anterior, quando Henrique VIII criou a Igreja Anglicana.
Religioso na aparência externa, o conflito da Irlanda é fundamentalmente étnico-nacional. Os irlandeses, primeiro povo das ilhas britânicas a ser cristianizado (por São Patrício, no século V), são descendentes dos celtas, como os bretões que deram nome às ilhas. Até hoje, além da fidelidade à Igreja Católica, afirmam sua identidade cultural pelo idioma gaélico, de origem céltica. A população protestante, concentrada no norte, descende dos anglo-saxões (ingleses e escoceses) enviados nos séculos 16 e 17 para colonizar terras confiscadas de católicos.
Anexada formalmente ao Reino Unido em 1801, a Irlanda é castigada na segunda metade do século 19 por uma seca que destrói plantações e causa fome. Um milhão de pessoas morrem e dois milhões emigram, principalmente para os EUA. No início do século 20, o nacionalismo volta a fermentar e culmina com o Levante da Páscoa, em 1916. Em resposta, Londres aceita a separação dos condados do sul, mas mantém o controle sobre o Ulster em nome de proteger a maioria protestante da região.
Desde então, e até a atualidade, a minoria católica da Irlanda do Norte (42% da população) insiste na independência em relação a Londres e na integração à República da Irlanda. Denuncia sofrer discriminação por parte dos protestantes, que controlam as instituições públicas, em especial a polícia, e monopolizam os melhores empregos.