postado em 13/03/2009 17:07
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será recebido neste sábado por seu colega americano Barack Obama para falar da próxima reunião de cúpula do G20, confimando seu peso de interlocutor privilegiado na região.
Lula adiantou em Brasília, antes da viagem, que também pretende conversar com Barack Obama sobre as medidas necessárias para restabelecer o crédito em nível mundial.
"Espero poder conversar muito sobre a crise com o presidente Obama. Eu tenho uma preocupação, que é o restabelecimento do crédito no mundo. Quero conversar cde forma franca, sobre o que fazer", disse Lula à imprensa.
Os biocombustíveis do Brasil - primeiro produtor mundial - e suas imensas jazidas petrolíferas para exportação atraem o governo de Obama, que quer transformar drasticamente o horizonte energético de seu país.
No entanto, ambos países também são concorrentes comerciais, e as tentações protecionistas são fortes em tempos de crise, como assinala Paulo Sotero, do Instituto Brasil do Centro de Estudos Woodrow Wilson.
"As relações entre os Estados Unidos e Brasil são boas, mas superficiais. O desafio dos dois (Obama e Lula), se acreditarem que é importante, é aprofundá-las em coisas que são de interesse nacional para ambos os países: estabilidade, energia, comércio, reforma das instituiçõs financeiras internacionais", explicou Sotero à AFP.
Para Obama, imerso na política interna por causa da recessão e sem muito tempo para se dedicar à América Latina, o Brasil é um sócio idôneo, confiável e próximo ideologicamente, uma ótima ponte para negociar com uma região complexa.
"O Brasil emergiu como um intermediário, e Lula, que sabe ter esses meios diplomáticos em mãos, gostaria de ver uma suavização das tensões entre os Estados Unidos e a Bolívia, Venezuela ou Equador", afirmou Riordan Roett, especialista em América Latina da John Hopkins University.
"O presidente Lula, com modéstia e humildade, pretende ajudar a fazer com que Obama olhe para a região do ponto de vista correto", sugeriu o chanceler Celso Amorim durante a semana.
Para o Brasil, que tem sua própria agenda diplomática na América Latina, a tão criticada ausência americana na região não é um un problema e sim uma vantagem, recorda Sotero. "O Brasil não se ressente dessas coisas", assinala.
Mas Brasília também tem seu pontos fracos, e atritos regulares com seus vizinhos.
"É a primeira vez que o Brasil tem uma estabilidade econômica com democracia, e é certo que está emergindo, mas isso leva também a uma grande responsabilidade", explica Sotero.
Lula, que chega na noite de sexta-feira a Washington, manterá primeiro uma reunião com Obama acompanhado de ministros e, depois, outro encontro a sós, segundo a agenda oficial comunicada por fontes diplomáticas brasileiras.
Antes o presidente brasileiro se reunirá de forma privada com o líder da principal central sindical americana, a AFL-CIO, John Sweeney, com quem mantém uma amizade pessoal há anos.
Lula e Obama devem voltar a se encontrar no mínimo duas vezes nas próximas semanas: em Londres, por ocasião da reunião de cúpula dos países ricos e emergentes para avançar com as propostas de de reforma financeira, e na Cúpula da Américas, em meados de abril, em Trinidad.
Em seu papel de país emergente, o Brasil reclamará em Londres tanto dos Estados Unidos como do resto dos países ricos que encontrem mecanismos para normalizar o crédito, explicou Amorim.
"O Brasil, como o México, por suas histórias de instabilidade financeira, podem contribuir para o debate com propostas de regulamentação", argumenta Sotero.
Depois da visita à Casa Branca, Lula viaja para Nova York, onde se encontrará com empresários e investidores na segunda-feira.