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Medicina testa novas armas contra o vitiligo

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postado em 15/03/2009 08:40
As primeiras manchas surgiram na região dos glúteos, quando o estudante de direito Kaio Barros de Oliveira tinha 12 anos. ;Com o aparecimento de outra mancha perto da boca, fiquei sabendo que tenho vitiligo;, contou ao Correio o rapaz de 22 anos, natural de Itororó (BA). Ele afirma conviver bem com a condição. ;Apesar de vaidoso, não sou neurótico a ponto de ter perturbações psicológicas por causa dela;, acrescenta. Kaio tentou quase todos os tipos de simpatia e usou alguns remédios.

Se a doença nunca foi um incômodo maior para o universitário baiano, não se pode dizer o mesmo do popstar norte-americano negro Michael Jackson, que descobriu ser portador em 1996 e se tornou branco, depois de uma série de cirurgias. Davi Costa Feitosa, de 26 anos, também não convive bem com as manchas desde os 18 anos. ;Tenho vitiligo em todo o meu corpo e é desesperador;, disse o empresário da cidade de Santa Inês (MA), que culpa as autoridades pela ;falta de interesse em buscar a cura;.

Cientistas admitiram à reportagem o otimismo em relação à prevenção e a tratamentos mais eficientes do vitiligo. As novas armas da medicina incluem transplante de pele, química e manipulação genética. Os métodos revolucionários se somam ao banho de luz ultravioleta, ao laser e aos medicamentos.

A britânica Karin Schallreuter, do Instituto para Desordens Pigmentárias da Universidade de Bradford (Reino Unido), pesquisa o vitiligo desde 1986 e é a responsável por uma das grandes descobertas sobre o tema: a de que a pele dos pacientes ;abriga; uma superprodução de peróxido de hidrogênio e um baixo nível de catalase, enzima que fragmenta esse composto químico e o converte em água e oxigênio. O estudo da desordem cutânea permitiu que a equipe de Karin decifrasse a causa de os cabelos ficarem brancos ; o mecanismo é idêntico. ;Nós temos desenvolvido um tratamento para reduzir esses altos níveis de peróxido de hidrogênio. A aplicação diária da pseudocatalase

PC-KUS, por exemplo, é capaz de deter a doença e fazer com que a pele volte a ganhar a cor original;, disse a estudiosa.

Médico do Centro de Dermatologia Multicultural do Hospital Henry Ford, em Detroit (Michigan), o escocês Iltefat Hamzavi tenta comprovar a eficiência do transplante de melanócitos e queratinócitos em pacientes com vitiligo (MKTP, pela sigla em inglês). Os melanócitos são células produtoras da melanina, que confere pigmentação à pele, enquanto os queratinócitos são responsáveis pela síntese da proteína queratina e formam 80% da epiderme (camada exterior da pele). ;O MKTP tenta transplantar células normais com cor, originadas do próprio paciente, nas manchas brancas;, explicou. ;Mas é preciso que o vitiligo não esteja progredindo nessas pessoas por no mínimo seis meses.; Hamzavi selecionou 20 voluntários e pretende encerrar o estudo até janeiro de 2010.

Mistério
;A técnica que usamos, uma modificação dos métodos usados na Arábia Saudita e na Índia, nos permite repigmentar uma área de até 100cm2 em apenas duas sessões;, declarou o escocês. Ele considera um mistério a causa do vitiligo, mas acredita que exista alguma relação com o colapso do sistema imunológico. ;O fenômeno leva as células de defesa a matarem suas próprias células produtoras de cor. Penso que seremos capazes de tratar e prevenir a doença, mas não sei em quanto tempo;, acrescentou o especialista de um dos principais centros de pesquisa sobre vitiligo do mundo.

O norte-americano Richard Spritz, diretor do Programa de Genética Médica Humana da Universidade do Colorado, também comanda o Vitgene. ;Esse projeto é um estudo genético mundial do vitiligo e tentará identificar genes de predisposição;, explicou. A primeira fase da pesquisa consiste na análise do DNA de 1.500 pacientes. ;Queremos descobrir como eles se diferem daqueles que não têm a doença;, disse o médico, que comanda 40 especialistas de 20 países.

Por enquanto, Spritz suspeita do gene NALP1. ;Acreditamos que ele seja parte do mecanismo de ;detonação; do vitiligo;, comentou. Spritz afirma que se a ciência encontrar um modo de controlar o processo autoimune de destruição das células de pigmentação da pele, os tratamentos serão bem mais eficientes.

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