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Papa adverte os africanos contra o "etnocentrismo"

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postado em 18/03/2009 10:22
YAOUNDÉ - O Papa Bento XVI, que chegou na terça-feira a Camarões, em sua primeira viagem à África, fez uma advertência aos africanos contra "todo particularismo excessivo" e "todo etnocentrismo", em um discurso aos bispos camaroneses reunidos nesta quarta-feira (18/03) em uma igreja de Yaoundé. Bento XVI convidou os bispos camaroneses a serem "os defensores dos direitos dos mais pobres" e "incentivar o exercício da caridade". "Desta maneira, os fieis podem captar concretamente que a Igreja é uma verdadeira família de Deus, reunida no amor fraterno, o que exclui todo etnocentrismo e todo particularismo excessivo e contribui para a reconciliação e a colaboração entre as etnias para o bem de todos", afirmou. Bento XVI convidou a Igreja católica a "defender vigorosamente os valores essenciais da família africana" ante as consequências da "modernidade e da secularização na sociedade tradicional". Também enfatizou a formação dos fiéis para resistir à "expansão das seitas e dos movimentos esotéricos e a influência crescente das formas de religião supersticiosas, assim como o relativismo". O primeiro encontro de Bento XVI com a multidão será na manhã de quinta-feira, em uma missa ao ar livre no estádio Amadou Ahidjo de Yaoundé. Na segunda etapa de sua viagem pela África, o Papa parte ainda na quinta para Angola, um país de maioria católica, mas onde é crescente o fervor pelas seitas e os cultos evangélicos, como a brasileira Igreja Universal do Reino de Deus. O giro africano do Sumo Pontífice se viu marcado pela polêmica por sua declarações sobre o uso de preservativos, quando afirmou a bordo do avião em que viajava, que não se podia "solucionar o problema da Aids", pandemia devastadora na África, "com a distribuição de preservativos". "Ao contrário sua utilização agrava o problema", enfatizou. Isso levou à reação de várias ONGs, como a camaronesa Movimento Camaronês pelo Acesso aos Tratamentos (MOCPAT). "O Papa vive no século XXI?", questionou seu diretor, Alain Fogue. "As pessoas não vão fazer o que o Papa disse. Ele vive no céu e nós vivemos na Terra", acrescentou. "Dizer que o preservativo agrava o problema da Aids vai contra os esforços dos últimos anos do governo camaronês e dos atores envolvidos na luta contra a Aids no país", afirmou ainda. "Queira ou não, de cada 100 católicos, 99 usam preservativo. O Papa deve entender que a carne é fraca! Será que o Papa desconhecia, ao chegar a Camarões, que as pessoas soropositivas representam um número importante da população?". O governo francês também manifestou nesta quarta sua "forte preocupação com as consequências" das declarações de Bento XVI. "Apesar de não nos corresponder julgar a doutrina da Igreja, achamos que essas declarações colocam em perigo as políticas de saúde pública e os imperativos de proteção da vida humana", afirmou o porta-voz da chancelaria francesa, Eric Chevallier. O Vaticano se opõe a todas as formas de contracepção diferentes da abstinência e reprova o uso do preservativo, mesmo por motivos profiláticos (prevenção de doenças).

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