postado em 20/03/2009 17:29
O Papa Bento XVI pediu ao governo de Angola que faça mais para enfrentar a pobreza, em declarações dadas nesta sexta-feira, na última escala de sua viagem pelo continente, ofuscada por sua rejeição ao uso dos preservativos na prevenção da Aids.
Em seu primeiro dia de visita, o Sumo Pontífice também insistiu na proibição do aborto, mesmo nos casos em que a mãe esteja correndo risco de vida. Mas, em um país que ainda se recupera de décadas de guerra e onde dois terços da população vivem com menos de US$ 2 por dia, Bento XVI preferiu se concentrar nos apelos pela luta contra a pobreza e por uma melhoria no governo.
"Infelizmente, dentro dos limites de Angola, ainda há muitas pessoas pobres pedindo que seus direitos sejam respeitados", declarou o Papa, ao desembarcar.
"A multidão de angolanos que vivem no limiar da absoluta pobreza não pode ser esquecida. Não desapontem suas expectativas", acrescentou.
Mais tarde, em um discurso transmitido pela TV, do Palácio presidencial, Bento XVI convocou a África a mostrar "uma determinação nascida da conversão de corações para acabar com a corrupção de uma vez por todas".
"Armados com integridade, magnanimidade e compaixão, vocês podem transformar esse continente, libertando seu povo dos flagelos da ganância, violência e da inquietação", frisou.
O Papa também pediu "respeito e promoção dos direitos humanos, transparência do governo, um Judiciário independente, imprensa livre, um serviço social de integridade, uma rede de escolas e hospitais que funcione adequadamente".
Muitos desses pontos ainda são pendentes em Angola, país que durante 30 anos foi governado pelo presidente Eduardo dos Santos e onde a sangrenta guerra civil terminou apenas em 2002.
Desde então, a economia angolana se expandiu, graças às exportações de petróleo, mas o governo continua restritivo e foi considerado o mais corrupto do mundo pela organização Transparência Internacional.
No país, a Igreja Católica é uma das poucas vozes fortes fora do governo, e seus líderes locais expressaram a esperança de que o Papa pressione o presidente a permitir que a estação de rádio católica (uma das poucas da mídia independente) possa transmitir para todo o território.
Em seu discurso, Bento XVI se voltou contra um trecho da Carta da União Africana que garante às mulheres o direito de fazer aborto em casos de estupro, incesto, ou de riscos à saúde da mãe, alegando que essa não é uma questão de saúde.
"Que triste ironia a dos que promovem o aborto como uma forma de cuidar da saúde da mãe. Quão desconcertante é a alegação de que o fim da vida é uma questão de saúde reprodutiva", atacou Bento XVI.
Esse comentário se seguiu às polêmicas declarações dadas na última terça, no caminho para Camarões, quando afirmou que a Aids "não pode ser superada com a distribuição de camisinhas, o que até agrava o problema".
As palavras do Papa provocaram um grande mal-estar entre os militantes contra a Aids, assim como em alguns governos, que alertam que poderiam prejudicar as campanhas de prevenção.
Ainda assim, a polêmica não arrefeceu o entusiasmo com a visita do Papa à Angola, onde 55% da população é católica. Milhares de pessoas esperaram, desde a madrugada, para vê-lo no aeroporto, com faixas que diziam "Seja bem-vindo Papa Bento XVI" e "Abençoe nosso país".