postado em 21/03/2009 08:00
Especialistas liderados pelo norte-americano Paul A. Newman simularam como seria a Terra se a destruição da camada de ozônio não fosse contida. Cientista atmosférico do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa (agência espacial dos EUA), Newman contou ao Correio as principais conclusões de seu estudo.
Qual seria o cenário projetado para a Terra em 2065, em termos de luz solar e efeitos da radiação ultravioleta no planeta, caso o Protocolo de Montreal não tivesse sido assinado?
Se nenhuma ação tivesse sido tomada para regular o clorofluorcarbono e se a emissão dessa substância continuasse a crescer a uma taxa de 3% ao ano, os níveis de cloro na estratosfera teriam sido cerca de 40 vezes mais alto que os níveis naturais. Isso teria resultado na destruição de dois terços da camada de ozônio. No Rio de Janeiro, sob céu claro, o índice de ultravioleta ao meio-dia aumentaria de 12 para 39. O risco de o ultravioleta danificar o DNA seria seis vezes maior. A radiação ultravioleta pode provocar câncer de pele, queimaduras solares, catarata, supressão do sistema imunológico etc. Em nossa simulação, o índice de ultravioleta para o Rio de Janeiro varia de 12 (em 2009) para 39 (em 2065). Uma pessoa de pele branca levaria entre 10 e 20 minutos para desenvolver uma queimadura solar perceptível para um índice de ultravioleta 10. Para um índice 39, esse tempo seria reduzido para 4 minutos. Alguém com pele morena queimaria em cerca de 9 minutos.
O que ocorreria à camada de ozônio se os países não tivessem tomado ações para preservá-la?
Felizmente, o Protocolo de Montreal foi assinado em 1987 e ratificado por 193 países. Todos os países estão agora regulando o CFC e controlando a produção de outras substâncias nocivas ao ozônio.
Os países que assinaram o Protocolo de Montreal serão capazes de evitar um planeta sem a camada de ozônio?
Sim. Compostos contendo CFC e bromo eram as grandes ameaças à camada de ozônio. Agora que os países têm atuado para controlar a produção desses compostos, a camada de ozônio lentamente começa a se recuperar. Enquanto as nações continuarem a falar e agir juntas, faremos com que a nossa camada de ozônio volte à condição natural.
Levando em consideração que o Protocolo de Montreal foi assinado, qual cenário podemos esperar para 2065?
Os CFCs têm uma durabilidade muito longa. Por exemplo, o CFC-11 tem um tempo de vida de 50 anos, enquanto o CFC-12 pode durar um século. Por isso, a camada de ozônio levará bastante tempo para se recuperar. Atualmente estima-se que a camada de ozônio das latitudes médias estará de volta ao nível natural por volta de 2050. O famoso buraco de ozônio da Antártida estará recuperado aos níveis de 1980 por volta de 2070.
O senhor poderia descrever como essa simulação foi realizada e de que modo os cientistas medem a camada de ozônio?
O modelo que usamos para produzir essa simulação do "Mundo evitado" é um dos modelos estratosféricos mais sofisticados do mundo. Os CFCs são liberados nesse modelo e carregados até a baixa atmosfera pelos ventos (nosso modelo tem seus próprios sistemas meteorológicos e nuvens). Os CFCs são carregados até a estratosfera, onde a radiação solar os quebra, liberando o cloro para a destruição do ozônio. A química é uma sopa de moléculas, partículas e radiações. Como o ozônio é destruído pelos processos químicos e os CFCs são liberados de modo contínuo, a temperatura do modelo é ajustada, em resposta. Essas mudanças de temperatura modificam os padrões de ventos, e essas mudanças de ventos mudam a forma com que os CFCs e o ozônio são carregados pelo mundo. As observações de ozônio são feitas por satélites, instrumentos em solo e balões. O observatório em Natal é a mais antiga estação de ozônio dos trópicos que fornece medições a longo prazo.