Mundo

Relações EUA x Irã: Surpresa na tela

Barack Obama grava mensagem pelo ano-novo persa e propõe ;começar de novo; as relações entre os dois países. Convite ao diálogo é recebido com cautela e governo de Teerã diz que ;palavras não bastam;

postado em 21/03/2009 08:09
Os iranianos festejaram ontem a chegada da primavera e o ano-novo persa, o Nowruz, como fazem há 1387 anos: na companhia de familiares, vestindo roupas novas e saboreando pratos à base de arroz, ervas e peixe. A novidade foi a mensagem do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que ensaia uma virada na política americana em relação ao país. Obama propôs ;um novo começo;, em vídeo disponibilizado no site oficial da Casa Branca e distribuído a empresas de comunicação do Golfo Pérsico, com legendas em persa. ;Meu governo está comprometido agora com uma diplomacia que aborde toda a gama de assuntos pendentes entre nós, e com a busca de laços construtivos entre EUA, Irã e a comunidade das nações;, afirmou. O presidente da República Islâmica do Irã, Mahmud Ahmadinejad, também manifestou o desejo de que, no Nowruz, ;a justiça substitua o ódio e a discriminação no cenário internacional;. As relações entre Washington e Teerã estão rompidas desde abril de 1980, cinco meses depois que a Revolução Islâmica derrubou o xá Mohamad Reza Pahlevi e uma monarquia de 2 mil anos. Mas o clima é especialmente tenso desde 2002, quando a administração do presidente George W. Bush, acusou o Irã de manter um programa nuclear paralelo e secreto para desenvolver armas atômicas. Ontem, Obama deu o primeiro passo para mudar esse cenário e defendeu que o Irã assuma seu lugar de direito na comunidade internacional. ;Vocês têm esse direito, mas ele vem com responsabilidades reais;, disse, ressaltando que isso não pode ser alcançado com o uso de armas. No Irã, o discurso foi bem-vindo, porém com ressalvas. ;Recebemos a mensagem de boa fé, mas palavras não são suficientes. A administração de Obama deve também atuar de forma concreta para resolver um problema que tem raízes históricas;, disse Javanfekr, um dos assessores mais próximos do presidente Ahmadinejad. O professor Mohsen Ashtiany, do Centro de Estudos Iranianos da Universidade de Columbia, consultado pelo Correio, vai na mesma direção de Javanfekr. Ele avalia que toda mensagem de boa vontade pode ser considerada positiva: ;É muito melhor uma linguagem de reconciliação. Mas se as relações vão melhorar%u2026 vai depender das ações posteriores, palavras seguidas de medidas concretas;. Um primeiro gesto do novo governo americano foi a defesa da presença do Irã na cúpula internacional sobre o Afeganistão, prevista para o início de abril. Ashtiany, que trabalha há 10 anos nos EUA, espera que a Casa Branca modifique o olhar sobre seu país natal, inclusive em relação às pesquisas nucleares. ;É uma questão de progresso, de avanço na física. Seria um insulto para uma nação impedir que continue seu desenvolvimento tecnológico;, argumenta. Ele sustenta que o Irã tem utilizado a tecnologia atômica para fins pacíficos, e recorda que os países vizinhos também detêm esse conhecimento, como Paquistão e Israel. ;Não é justo que se escolha que uns continuem a pesquisa e outros não.; Na opinião de Ashtiany, o caminho para a solução dos conflitos bilaterais é que haja mais transparência no diálogo entre Estados Unidos e Irã. ;Com mais entendimento, aumenta também a confiança entre os dois países, deixando pouco espaço para teorias da conspiração;, conclui o pesquisador iraniano.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação