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Droga e neurorradiologia são avanços contra o AVC

Substância que dissolve coágulo no cérebro e detecção de alterações na vascularização ajudam a evitar sequelas causadas pelo derrame

postado em 22/03/2009 08:00
A vida da empresária Simone de Borba Colzani, de 36 anos, mudou desde as 17h de 3 de maio de 2007. Dona de uma loja de peixes ornamentais em Blumenau (SC), ela sentiu uma dor de cabeça ;terrível;. Pensou que fosse uma enxaqueca ; as crises lhe acompanham desde o nascimento do filho, 14 anos atrás. Mas na mesma hora percebeu que a perna ;puxava; e a voz não saía. ;Fiquei três dias na UTI e nove na internação;, recorda. Simone sobreviveu ao acidente vascular cerebral (AVC), doença que custou a vida do deputado federal e estilista Clodovil Hernandes, na última terça-feira. ;Eu pedia muito a Deus para me levar, não tinha medo da morte;, contou a comerciante. Hoje, quase dois anos depois do derrame, ela precisa conviver com sequelas: como a mão direita praticamente não se move, Simone depende do marido para cortar carne ou amarrar o cabelo. Cientistas consultados pelo Correio falaram sobre os avanços na prevenção e no tratamento da doença, que atinge 15 milhões de pessoas em todo o mundo, mata 5,5 milhões e torna 5 milhões incapacitadas pelo resto da vida. No Brasil, 130 mil morrem a cada ano, uma incidência de 101 a 125 pessoas para cada 100 mil habitantes. Uma projeção da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que o derrame, o câncer e as doenças cardíacas serão as únicas causas de morte em ascensão até 2030 ; as infecções respiratórias, os acidentes automobilísticos, a Aids, a tuberculose e a malária matarão menos nos próximos 20 anos. Outro dado curioso aponta que as taxas de AVC em países de baixa e média renda pela primeira vez excederam em 20% a incidência em nações desenvolvidas. Diretor do Centro de Derrame e Doenças Neurovasculares da Universidade da Califórnia-San Francisco (UCSF, pela sigla em inglês), S. Claiborne Johnston destaca o ativador do plasminogênio tissular (tPA) como um dos principais avanços da medicina na luta contra o AVC isquêmico. ;A droga tornou o AVC isquêmico tratável, ao dissolver o coágulo que provoca a obstrução de artérias, e é capaz até de reduzir danos neurológicos;, afirma. ;Infelizmente, ela só funciona se administrada até quatro horas e meia depois do início dos sintomas.; Apenas 5% dos pacientes chegam ao hospital a tempo. O norte-americano alerta que a prevenção mais eficaz do derrame passa pelo tratamento da hipertensão. ;A alta pressão sanguínea é a causa mais comum de derrame e pode ser facilmente controlada;, explica Johnston. ;Podemos reduzir os riscos de derrame em 80% se as pessoas monitorarem a pressão.; A diminuição das lesões cerebrais pós-AVC é um desafio para a ciência. O médico não descarta a propensão genética ao derrame. ;Estamos começando a entender quais genes estão ligados ao AVC.; Cirurgia Jean Gonçalves de Oliveira, coordenador do Departamento de Neurocirurgia Vascular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), considera os avanços da medicina ;bastante grandes;. ;Do ponto de vista da neurorradiologia, podemos usar ressonância magnética, angiorressonância, angiografia digital e até tomografia computadorizada para detectar alterações que indicariam maior risco para AVC.; O neurocirurgião explica que a drenagem cirúrgica de hemorragias intracranianas pode estar indicada para a diminuição da pressão intracraniana, em alguns casos. As descobertas mais recentes da medicina incluem a constatação de que a aspirina reduz o risco de AVC isquêmico em mulheres entre 55 e 79 anos, e de que chá verde e preto são fatores de proteção. Professor de medicina da Universidade de Harvard, Rob van Dam constatou que o consumo de café está associado a uma redução modesta no risco. ;Precisamos de mais estudos;, comenta. Ele defende a abstinência do cigarro e a manutenção da pressão em níveis baixos. ;Uma vida baseada em atividade física; em uma dieta rica em grãos, frutas e vegetais e pobre em sódio; e no controle do peso pode diminuir bastante as chances de derrame.;

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