postado em 28/03/2009 00:05
O balneário de Viña del Mar, no Chile, recebe hoje oito líderes progressistas, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma reunião de cúpula para discutir saídas conjuntas para a crise financeira global. O senador socialista chileno Ricardo Núñez, presidente do Instituto Igualdad, que organiza o evento com a fundação britânica Policy Network, explicou ao Correio os pontos principais do encontro.
Como definir quem são os líderes progressistas hoje?
É difícil definir quem são os progressistas. Penso que não devemos nos ocupar da nomenclatura, mas do conteúdo. Há elementos progressistas: trata-se basicamente de um profundo amante da liberdade e da democracia, da igualdade e da fraternidade; acredita num sistema econômico com um grau maior da participação do Estado, já que o mercado não resolve todos os problemas da economia. O movimento progressista de hoje é bastante mais plural, heterogêneo e apresenta soluções distintas, não há mais uma só visão de mudar a humanidade. Os progressistas são sempre os únicos a apresentar soluções de curto prazo para tentar resolver as crises. Durante a crise de 1929, quem se mostrou disposto a resolver a crise do capitalismo da época foi o presidente dos EUA, o progressista (democrata) Franklin Roosevelt.
Que soluções para a crise podemos esperar desse encontro?
É prematuro esperar que os presidentes saiam da reunião com soluções prontas, mas o encontro servirá para debater medidas que podem trazer algum alívio para a crise.
Como o senhor avalia a reação da opinião pública diante do resgate de bancos pelo Estado?
A opinião pública está surpresa. Os governos de direita tomaram medidas lamentáveis, nas quais a ética não esteve presente. O resultado é que agora o presidente dos EUA, Barack Obama, se viu obrigado a preparar um projeto de lei para regular as organizações financeiras no país. As pessoas estão desconfiadas, não se sentem respaldadas pelos governos.
E na América Latina?
Curiosamente, temos consciência de que somos o continente que não provocou a crise, mas somos os que resistimos da melhor maneira, graças às políticas implementadas por nossos governos progressistas. Mas existe a preocupação sobre até quando continuaremos resistindo.
Os líderes dos países do novo ;socialismo do século 21;, como Venezuela, Bolívia e Equador, participam dessa cúpula?
Não. Temos de iniciar outro tipo de diálogo com esses países. É importante evitar disputas de esquerda na América Latina. Não há uma só via, um homem progressista ou um homem de esquerda. É um grande erro a ideia de que existe uma só esquerda. Existem várias esquerdas.