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Morte na madrugada

Terremoto de 6,3 graus sacode a região de Abruzzo, no centro-leste italiano, mata 150 pessoas, fere 1.500 e deixa pelo menos 50 mil desabrigadas. Cidade medieval de Áquila sofre a maior destruição

postado em 07/04/2009 08:09
;Foram 20 segundos infernais.; As lembranças daqueles instantes na madrugada de ontem provavelmente vão atormentar por muito tempo o italiano Davide Di Benedetto, de 24 anos. O estudante de ciência da computação contou ao Correio, pela internet, que a terra tremeu forte duas vezes. ;Um abalo de 3,9 graus na escala Richter (aberta, mas que raramente atinge os 9 graus) ocorreu às 22h48 (17h48 de domingo em Brasília). À 0h39, tivemos outro de 3,5;, disse Davide. Era o prenúncio de uma tragédia: o maior dos abalos ainda estava por vir. Às 3h32, todos os móveis no alojamento começaram a balançar. ;A estante desabou, tudo a meu redor sacudia. Ouvi os gritos de uma pessoa e me refugiei sob a escrivaninha, no centro do quarto;, relatou. Ele acredita que só está vivo pelo fato de seu prédio ter sido construído recentemente e projetado para resistir a tremores. O tremor de 6,3 graus transformou em cemitério partes de Áquila, uma cidade histórica de 751 anos, situada na região de Abruzzo. Pelo menos 150 pessoas morreram e, até o fechamento desta edição, muitas ainda lutavam pela vida, sob os escombros. ;Alguns de meus amigos não foram encontrados;, acrescentou Davide. O jornal italiano Corriere della Sera divulgou ontem que 250 pessoas estão desaparecidas. Somente ontem, 100 moradores foram retirados vivos das ruínas. O pior terremoto registrado na Itália desde 1980 ; quando um abalo de 6,9 graus golpeou Eboli, ao sul de Nápoles, matando 2.700 pessoas ; deixou ainda 1.500 feridos e pelo menos 50 mil desabrigados. Entre eles, estão Paolo e Ida, pais de Francesco Rapinesi, estudante de música em Pescara, a 100km de Áquila. Pouco depois da catástrofe, o rapaz de 22 anos recebeu um telefonema da mãe. ;Ela demonstrava pavor e me contou que ambos estavam vivos por milagre e que o quarto deles ficou cheio de buracos;, disse à reportagem. Ida e Paolo se refugiaram em um estádio de futebol próximo à cidade. ;Eles relataram que a situação é dramática. Os hospitais não dão conta do número de feridos.; As cidades de Paganica, Camarda, Tempera, San Demetrio nei Vestini e Castelueno, vizinhas a Áquila, pareciam ter sofrido um bombardeio. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, considerou o terremoto ;uma tragédia sem precedentes;, ao sobrevoar de helicóptero a área atingida. ;Ninguém será abandonado;, prometeu o premiê. Assim que retornou a Roma, Berlusconi presidiu uma reunião do Conselho de Ministros ; o gabinete anunciou a imediata liberação de 30 milhões de euros (R$ 92,1 milhões) para recuperar a infra-estrutura devastada. Na opinião de Alessio Minetti, um estudante de 21 anos, o dinheiro será bem-vindo. ;A situação aqui é terrível. Precisamos de muita ajuda, pois tudo está destruído;, comentou. Ele revelou que parte do prédio da Universidade de Áquila desabou. ;Perdi uma amiga, soterrada sob os escombros da casa, e há muitos mortos.; A noite em Áquila prometia ser dura e fria: à 1h (21h de ontem em Brasília), os termômetros marcavam cerca de 14 graus Celsius e a previsão era de chuva para a madrugada. Os sobreviventes aguardavam dentro de carros nos estacionamentos ou se protegiam nas tendas improvisadas em áreas livres, longe de prédios ameaçados de desabamento. Berlusconi afirmou que 2 mil barracas, capazes de abrigar até 10 pessoas cada, começaram a ser montadas. Enquanto isso, cerca de 4 mil bombeiros e voluntários trabalhavam de modo frenético nos escombros e distribuíam 25 mil refeições. Patrimônio Como se não bastassem as vidas em ruínas, a Itália também chora por seu patrimônio artístico e histórico. A Basílica de Santa Maria de Collemaggio e a cúpula da Igreja do Espírito Santo foram destruídas. ;O centro histórico de Áquila está devastado. (%u2026) Quase toda a cidade está inutilizada;, lamentou o prefeito Cialente Maximum. Cerca de 15 mil construções estão interditadas. O prédio da prefeitura também não suportou a força dos tremores e desabou. Sob os escombros de um dos edifícios, uma cena tornou-se símbolo da catástrofe: os bombeiros retiraram o corpo de uma mãe abraçada aos dois filhos pequenos mortos.

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