Mundo

História em ruínas

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postado em 07/04/2009 08:14
Os terremotos têm sido o flagelo do patrimônio artístico e cultural concentrado na região de Abruzzo. Foi um deles que danificou a imponente fortaleza de Rocca Calascio, jamais testada em batalha, e reduziu a pó os edifícios barrocos do centro de Áquila, a capital regional. O tremor de ontem ;causou danos significativos; aos monumentos da cidade, lamentou o Ministério da Cultura, que mencionou em especial a catedral românica de Santa Maria de Collemaggio. Áquila, cidadela medieval que honra o nome (;a águia;) com magníficas construções incrustadas entre as montanhas da cadeia dos Apeninos, é testemunha de um dos períodos mais luminosos da história italiana desde o Império Romano ; o Renascimento, quando floresceu na atual Itália o reencontro da Europa com a cultura da antiguidade, transmitida aos mosteiros pelos sábios muçulmanos da Andaluzia espanhola. Não por acaso, foi cenário de dois filmes recentes ambientados nesse período histórico: O feitiço de Áquila (1985) e O nome da rosa (1986). A Rocca Calascio, fortaleza erguida no século 10, o maior castelo da Itália (e o mais elevado, a 1640m de altitude), assim como a basílica de São Bernardino de Siena, com a magnífica fachada renascentista do século 15, contam também histórias menos notórias e edificantes. São monumentos que se projetam além do valor artístico e imortalizam o período em que o poder nos centros de comércio e conhecimento era disputado por senhores feudais, bispos, o papa e o Sacro Império Romano Germânico, sucedâneo de Roma. Esse lado mais sombrio da história, no qual se entrelaçam querelas religiosas e temporais, está no âmago de O nome da rosa, mais ainda do livro de Umberto Eco que inspirou o filme. Foi precisamente nesse contexto que a cidade de Áquila foi construída, ao longo do século 13, pelo imperador alemão Frederico II e seu filho e sucessor, Conrado IV. Concebida como anteparo ao poder papal, Áquila integrou-se ao reino de Nápoles. A partir do século seguinte, tornou-se reduto da ordem franciscana, protegida pelo trono napolitano sempre que assediada pelo papado. Bernardino de Siena, que dá nome à basílica, foi um dos expoentes franciscanos da época e chegou a ser julgado em Roma por heresia. Absolvido, morreu em Áquila em 1444. Veja cenas dos dois filmes O Nome da Rosa O Feitiço de Áquila

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