postado em 11/04/2009 08:49
Ser soldado da Legião Estrangeira é ;uma oportunidade para uma vida nova;. A promessa da instituição militar francesa é, para muitos brasileiros, a chance de recomeçar de novo, participar de batalhas e ganhar muito bem para isso. O paulista Josafá de Moura da Silva Pereira, 27 anos, acusado de matar quatro pessoas em uma missão no Chade na última terça-feira, é um deles. Ele passou por todas as fases de seleção, inclusive as avaliações psicológicas e um treinamento pesado. Detido no país africano, ele telefonou para uma irmã ontem e disse que matou por legítima defesa.
Josafá estava em Abéché, no leste do país africano, onde fazia parte da força de intervenção rápida da Eufor, da União Europeia, no Chade. O irmão dele, Jeremias, faz parte da mesma missão. No ano passado, o legionário brasileiro tinha servido em outro país africano, Djibuti, e teve problemas. Ele teria fugido para a Etiópia porque estava deprimido. Ontem, o porta-voz do Estado-Maior do Exército francês, capitão de fragata Christophe Prazuck, disse à imprensa que a decisão de enviar Josafá para uma nova missão foi estudada com ;atenção especial;. ;Ele sofreu sanções por essa fuga e, logo após o retorno à França, recebeu acompanhamento médico e realizou sucessivos exames psicológicos. Concluiu-se que ele poderia partir novamente de operações.;
O brasileiro teria matado dois legionários, um da Guiana Francesa e outro da Romênia, um militar togolês de uma missão das Nações Unidos e um fazendeiro chadiano. Segundo publicou ontem o principal jornal do Chade, Le Progrès, Josafá estava cansado de sofrer provocações e de ser ameaçado por seus companheiros. A embaixadora brasileira na Nigéria, Ana Cândido Perez, enviou um conselheiro ao Chade para manter contato com o governo do país africano e levantar informações sobre o brasileiro.
Josafá está detido no Chade, mas deve ser julgado em um tribunal militar na França. ;Como ele estava servindo sob a bandeira da França, é considerado francês e deve ser julgado por um tribunal francês;, disse Christophe Prazuck. A família suspeita que o soldado, cristão, tenha sido vítima de preconceito religioso dos companheiros que matou. Ontem, ele teve direito a fazer um telefonema de dois minutos e ligou para a casa da irmã, Vera, que mora em Santo André (SP). ;Ele estava dormindo e, quando acordou estava amarrado. Os colegas dele amarraram ele. Ele conseguiu escapar. Ele tinha escondido a arma e eles não acharam. Quando escapou, os caras queriam pegar ele. Então, ele teve que tomar essa atitude. E fugiu;, explicou Vera.
Para ser legionário não é necessário falar francês. Para se inscrever é preciso ter de 17 a 40 anos e pagar uma passagem até a França. Lá, o candidato vai ter alojamento e alimentação gratuitos. ;A Legião está aberta para novos combatentes 365 dias no ano. Não é complicado conseguir entrar aqui, mas é muito concorrido;, contou ao Correio o sargento Luciano Cardoso, que está em uma missão na Guiana Francesa. O pernambucano está há sete anos no serviço e revelou que a maioria dos brasileiros que escolhe a Legião foi militar dispensado pelas Forças Armadas no Brasil. ;Eu era da Aeronáutica e saí por limite de tempo. Aqui, a gente continua a vida militar e o salário também é atrativo. São 1.043 euros iniciais com comida e alojamento de graça. Se a missão for fora da França, o valor aumenta significativamente.;