postado em 14/04/2009 08:38
A Somália é exemplo de enciclopédia para um verbete sobre ;Estados falidos;. O país paga por uma conjunção de fatores: desajustes entre povos nômades do interior, comerciantes árabes do litoral e colonizadores europeus; as lutas entre chefes de clãs, que minaram o poder central; e a localização estratégica entre África e Península Arábica.
Independente desde 1960, a Somália foi atraída para a órbita da hoje extinta União Soviética, que apoiou o general Siad Barre no início de uma guerra contra a Etiópia, nos anos 1970. No decorrer do conflito, Moscou mudou de lado.
A queda de Barre, em 1991, precipitou o país na anarquia da guerra de clãs e motivou os Estados Unidos a enviar tropas, retiradas em 1993, depois que milicianos abateram um helicóptero Black Hawk, lincharam os ocupantes e exibiram os corpos pelas ruas de Mogadíscio. O episódio inspirou o filme Falcão Negro em perigo.
Promessa de vingança
Piratas da Somália prometeram se vingar da morte de cinco companheiros durante duas operações militares estrangeiras na semana passada. A ameaça pode significar o aumento da violência na costa da Somália, no Oceano Índico. No domingo, franco-atiradores da Marinha norte-americana mataram três piratas durante a operação de resgate do capitão do navio Maersk Alabama, Richard Phillips. Na mesma semana, militares franceses recorreram à força para recuperar o controle de um iate, matando dois piratas.
;Estes americanos mentirosos mataram nossos amigos que haviam aceitado libertar o refém sem resgate, mas eu afirmo que isso levará a medidas de represália. Atacaremos em particular cidadãos americanos que viajarem em nossas águas;, afirmou o chefe do grupo de piratas, Abdi Garad, na cidade costeira de Eyl, 800km ao norte de Mogadíscio. Ele garantiu que a morte dos companheiros não vai evitar futuros ataques. ;Não é o fim do mundo. Vamos intensificar nossos ataques, inclusive bem longe das águas somalis. Da próxima vez que pegarmos um americano, não esperem nenhuma piedade do nosso lado;, completou.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu ontem à comunidade internacional que combata a pirataria e ressaltou a importância do trabalho de prevenção dos ataques. ;Devemos estar preparados para enfrentá-los e assegurar que quem comete atos de pirataria seja responsabilizado por seus crimes;, disse Obama, durante visita ao Departamento de Transporte americano.
Insegurança
William Gortney, chefe do comando naval central dos EUA, acredita que, apesar do sucesso da operação do resgate, a morte de piratas pode deixar a costa somali ainda mais insegura por causa de possíveis retaliações. ;Isso pode causar uma escalada da violência nesta parte do mundo, não há dúvidas;, afirmou. A pirataria assola a costa somali há anos, obrigando as embarcações a mudarem de rota ou a pagar seguros mais elevados. Em 2008, os piratas lucraram mais de US$ 150 milhões em resgates. Em geral, o tratamento que os reféns recebem é relativamente cortês, com direito a churrasco de carneiro e uso de celular. Tudo para garantir o pagamento. Mais de 12 navios e 260 reféns estão sob o controle dos piratas.
Inimigo eleito
O grupo islâmico Xarakada Al-Shabaab Al-Mujaahidiin assumiu o ataque com morteiros contra o congressista Donald Payne e elegeu os EUA como inimigos. ;Este governo (da Somália) acolhe favoravelmente os EUA, que são nosso principal inimigo, e não deixaremos nunca de atacá-los;, prometeu Husein Ali Fidow, um dos líderes da facção.