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Criador de droga promissora contra o mal Alzheimer celebra resultados

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postado em 15/04/2009 07:00

O cientista britânico Mark Pepys, chefe da Divisão de Medicina e diretor do Centro para Amiloidose e Proteínas de Fase Aguda da University College London Medical School, produziu a droga CPHPC e constatou que essa molécula pode ser uma esperança no tratamento do mal de Alzheimer. Testes clínicos com cinco portadores da doença em estágio moderado mostraram que a droga fez com que a proteína Componente Amiloide P Sérico (SAP) desaparecesse do sangue e do cérebro dos pacientes. A SAP está ligada ao processo de deterioração neurológica dos doentes e pode ser encontrada nas placas e nos emaranhados de fibras nervosas dos cérebros de portadores do mal de Alzheimer. Em entrevista ao Correio, por e-mail, Pepys falou sobre a pesquisa.

Como o senhor descobriu que CPHPC pode ser eficiente no tratamento contra o mal de Alzheimer?
Nós estudamos cinco pacientes com estágio moderado de mal de Alzheimer que receberam CPHPC por 12 semanas. Sua condição mental permaneceu estável e não houve deterioração. Não houve efeitos colaterais. Esse período é muito curto para se obter qualquer conclusão definitiva sobre se o tratamento a longo prazo com a CPHPC será útil. No entanto, os resultados atuais são certamente encorajadores.


Sua equipe esperava que a proteína Componente Amiloide P Sérico desapareceria do sangue e do cérebro dos pacientes? Quantos doentes vocês acompanharam e que resultados obtiveram?
Nós sabíamos que o tratamento com CPHPC removeria a proteína Componente Amiloide P Sérico (SAP) do sangue, porque temos visto esse efeito em cada um dos 60 indivíduos com outras doenças que haviam recebido a droga antes. Nós prevemos que a remoção da SAP do sangue também o removeria do cérebro, mas até antes do estudo não tínhamos certeza disso. O atual estudo confirmou que o tratamento com a CPHPC realmente removeu por completo a SAP do fluido cérebro-espinhal que banha o cérebro. Isso foi uma descoberta dramática e encoraja mais estudos clínicos sobre o mal de Alzheimer com um maior número de pacientes tratados por um período maior.

É possível afirmar que a CPHPC é a mais promissora droga contra o Alzheimer até agora?

Nós definitivamente não podemos dizer que a CPHPC é a mais promissora droga contra o mal de Alzheimer. Tudo o que sabemos que a SAP está sempre presente no cérebro de pessoas saudáveis e de pacientes com mal de Alzheimer. No mal de Alzheimer, a SAP está conectada às placas amiloides e nos novelos neurofibrilares que são as marcas da doença. A concentração de SAP nesses locais é muito mais alta que o normal. Nós sabemos que a SAP protege a proteína amiloide e outros materiais de entrarem em colapso no corpo. A SAP também promove a formação de amiloide em testes com tubos de ensaio e, possivelmente, também no corpo. Finalmente, há publicações relatando que a própria SAP pode ser tóxica para as células nervosas, tanto em tubos de ensaio como no corpo. Por todas essas razões, acreditamos que a SAP possa contribuir para o desenvolvimento e a progressão do mal de Alzheimer. Agora nós temos uma droga muito poderosa e bastante segura que remove completamente a SAP do sangue e do cérebro. Testes clínicos de larga escala e longo prazo são necessários para determinar se tal tratamento é benéfico, do ponto de vista clínico. Até que tais estudos sejam feitos, não saberemos a resposta. Enquanto isso não ocorre, apesar do esforço intenso e de muitos estudos com outras drogas, nenhum tratamento ainda é disponível que significativamente beneficie os pacientes.
A questão de saber se a SAP é fabricado no cérebro, como algumas pessoas acreditam, ou se é produzido apenas pelo fígado e atinge o cérebro pelo sangue é controversa. Nós também não sabemos se o CPHPC entraria no cérebro por si, já que sua estrutura química sugere que ele não atravessaria facilmente do sangue para o cérebro. Eu pessoalmente espero que a redução da SAP pelo CPHPC removeria o SAP do cérebro, e é exatamente o que descobrimos no estudo atual.

Qual é o papel da SAP no mal de Alzheimer? A chave da doença estaria nessa proteína?
Eu não sei se a SAP é a chave para o mal de Alzheimer. Eu acho que há boas pistas de ele esteja envolvido na doença e que sua remoção seja proveitosa. A única madeira de responder a essa questão será fazer testes clínicos. Na melhor das hipóteses, a CPHPC pode atrasar o desenvolvimento e a progressão da doença, e isso já seria uma grande contribuição ao tratamento. Mesmo um atraso de poucos anos na progressão seria imensamente proveitosa. O pior resultado seria se a redução da SAP não provocar qualquer efeito. Qualquer coisa melhor que isso seria uma contribuição valiosa.

Que mudanças importantes no cérebro de pacientes com Alzheimer foram notadas depois que eles começaram a tomar CPHPC?
Não vimos qualquer mudança nos cinco pacientes que estudamos e que receberam CPHPC por 12 semanas, a não ser a quase total redução de SAP. A ausência de efeitos colaterais e de qualquer deterioração mental óbvio foi encorajadora.

Quais seriam os próximos passos de sua pesquisa e quando o mundo poderia ter a primeira droga para tratar o Alzheimer? Ainda estamos muito distantes disso?
O próximo passo será realizar um teste clínico com placebo e CPHPC em entre 80 e 100 pacientes com mal de Alzheimer, ao longo de dois anos. Isso seria um prazo suficiente para confirmarmos a segurança e a tolerância da droga, e também para mostrar evidências de benefícios, seja por meio da estabilização da função cognitiva ou da interrupção do encolhimento do cérebro, por meio de ressonância magnética. Em todos os pacientes com mal de Alzheimer sempre há redução do cérebro ao longo de um ano, associada à progressiva deterioração mental. Se ela for reduzida ou suspensa em pacientes que tomarem CPHPC a um grau significativamente diferente dos pacientes-controle (que receberem a droga), então teremos uma evidência de eficácia. Mesmo com muito bons resultados, ainda levará alguns anos antes de uma droga se tornar disponível, graças à lentidão e à alta demanda dos processos regulatórios para a aprovação do medicamento. Mas, na melhor das hipóteses, isso poderia ocorrer entre cinco e sete anos.

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