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Cuba: Fidel ameniza críticas aos Estados Unidos

Um dia depois de se negar a ;pedir esmolas; para Washington, ex-presidente afirma que suspensão de restrições é ;medida positiva;, pede o fim do embargo comercial à ilha e ataca Cúpula das Américas

postado em 15/04/2009 08:10
A primeira resposta de Cuba à decisão de Washington de suspender as restrições a viagens e ao envio de dinheiro a partir dos Estados Unidos veio do ex-presidente Fidel Castro. O líder cubano, afastado do governo desde 31 de julho de 2006, classificou as medidas adotadas por Barack Obama de ;positivas;, porém ;mínimas;. Em artigo publicado ontem no site oficial Cubadebate, Fidel reconheceu ;avanços; a atitude do mandatário norte-americano, mas alegou que faltam ;muitas outras; decisões a serem tomadas, como a eliminação da ;Lei assassina de Ajuste Cubano;, que concede residência automática aos cubanos que chegam por qualquer meio aos EUA. O tom, no entanto, já foi mais brando do que o usado em artigo anterior, publicado no dia em que Washington anunciou as medidas. ;Cuba tem resistido e resistirá. Não estenderá jamais as mãos para pedir esmolas;, disse o líder no texto. ;Cuba não aplaude as erroneamente chamadas Cúpulas das Américas, onde os nossos países não discutem em igualdade de condições. Se serviram para algo, foi para fazer análises críticas de políticas que dividem nossos povos, saqueiam nossos recursos e impõem obstáculos a nosso desenvolvimento;, acusou Fidel. O ex-presidente cubano, de 82 anos, ainda destacou que nada foi falado sobre a suspensão do embargo comercial à ilha. ;Do bloqueio, que é a mais cruel das medidas, não se disse uma palavra;, afirmou, classificando o embargo como ;medida genocida;. ;Os danos (causados pelo bloqueio) não se medem só por seus efeitos econômicos. Constantemente custam vidas humanas e causam sofrimentos dolorosos a nossos cidadãos;, disse, no primeiro texto. Para Obama em si, Fidel usou um discurso mais ameno, alegando que o presidente americano ;não tem responsabilidade com o que ocorreu; e que ;ele não cometeria as atrocidades de Bush;. Também reconheceu o esforço de Obama em cooperar para lidar com o problema das mudanças climáticas. ;Depois dele, no entanto, pode vir outro igual ou pior que seu antecessor. Os homens passam, os povos perduram;, observou o cubano. Insuficiente A reação de Fidel não surpreendeu José Flávio Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). ;A decisão de Obama fica no meio do caminho. Ela não altera estruturalmente as relações EUA-Cuba e é insuficiente para a necessidade de modernização das relações dos EUA com a América Latina;, opina. Segundo Saraiva, a suspensão das restrições a viagens e ao envio de dinheiro à ilha é um ;paliativo;, bem pensado e articulado para evitar ;mais radicalização e pressão dos países latinos; na Cúpula das Américas, que ocorre a partir de sexta-feira em Trinidad e Tobago. O temor do líder cubano de que um sucessor de Obama desfaça qualquer ação positiva de agora também tem fundamento no passado, de acordo com Saraiva. ;O fato de os EUA terem tomado essa medida não é garantia de uma negociação positiva e altaneira na direção do fim do embargo. Isso já foi praticado antes pelo governo de Jimmy Carter e foi retirado por Ronald Reagan, no governo que o sucedeu;, lembra. ;É um gesto unilateral importante, sobretudo para os interesses dos cubano-americanos que o apoiaram na eleição, mas é insuficiente para Cuba e a América Latina.;
Embargo e crise em pauta Viviane Vaz Da equipe do correio O documento final da Cúpula das Américas está praticamente fechado. Porém, dois assuntos serão tratados à parte por 34 chefes de Estado e de governo: a crise financeira e o embargo norte-americano contra Cuba. Para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o encontro é uma possibilidade de colocar os Estados Unidos e o Canadá em ;um diálogo frutífero; com a América Latina e o Caribe (Alc). ;Se América Latina e Caribe não estão totalmente presentes ali, isso é algo que tem que ser solucionado. Não creio que vai ser solucionado lá;, admitiu Amorim. Na opinião dele, a cúpula será um momento importante para que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama ouça as opiniões. ;A sabedoria vai ser mostrar com firmeza quais são as posições da região e, ao mesmo tempo, fazer isso de maneira não agressiva, não confrontacionista;, disse Amorim. Retiro O ministro acredita que o presidente Lula terá a ocasião de falar sobre o tema durante a cúpula. Apesar da agenda apertada, o anfitrião ; o premiê de Trinidad e Tobago, Patrick Manning ; conseguiu encaixar um ;retiro; para os chefes de Estado, no domingo, entre 8h e 11h, em sua residência. ;Eles vão ter ocasião ali de ter um contato mais direto;, disse Carlos Duarte, chefe do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty.

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