postado em 17/04/2009 07:00
Ela descobriu que a perda de moléculas chamadas de microRNAs no ouvido interno leva à deficiência auditiva. Em entrevista ao Correio, a geneticista israelense Karen Avraham contou que a ciência está agora "mais perto do que nunca de encontrar a cura para a surdez". A especialista da Universidade de Telavive revelou detalhes de sua pesquisa.Como a senhora descobriu que uma das causas da surdez estaria nas moléculas microRNA do ouvido interno?
Nós sabíamos que os microRNAs estão envolvidos em cada parte do corpo e pensávamos que eles também seriam importantes no ouvido interno. Para descobrir o nível de importância, a melhor maneira é remover as microRNAs do ouvido e olhar suas consequências. Felizmente, podemos realizar esse experimento em ratos, que são mamíferos com ouvidos muito parecidos com os de humanos.
Ao bloquear a produção dos microRNAs nos ratos, o que vocês constataram?
O ouvido interno parecia normal quando os ratos nasceram. Mas quando nós os checamos novamente depois de um mês, descobrimos que as células ciliadas, as células do ouvido que nos permitem escutar, são anormais. O formato em "V" no topo das células é muito ordenado e essa ordem é crucial para que essas células ciliadas convertam as ondas sonoros em impulsos elétricos que podem ser interpretados pelo cérebro e que nos permitem ouvir. Quando os ratos não têm microRNAs, o topo das células se torna arredondado. Os sinais não podem ser transmitidos adequadamente. E o mais importante: quando realizamos um teste de audição, descobrimos que os ratos estavam completamente surdos.
O mesmo processo ocorre nos humanos?
Um grupo na Espanha descobriu que isso pode ocorrer em seres humanos. Nesse caso, eles descobriram que um microRNA, chamado microRNA-96, tem uma mutação em dois famílias com progressiva perda de audição. Esse trabalho foi publicado na revista Nature Genetics do último domingo e coincidiu com nossa descoberta.
A ciência está próxima de encontrar a cura da surdez?
Estamos mais próximos do que nunca, porque descobrimos moléculas cruciais para a audição. As moléculas que identificamos poderiam ser usadas como "ferramentas", diretamente enviadas aos ouvidos de deficientes auditivos para induzir a regeneração de importantes células sensoriais que melhorariam a audição.
É possível estimar um prazo para que isso ocorra?
Não posso fornecer uma estimativa. Agora, o trabalho está completo em cobaias. Uma vez realizado em animais, a pesquisa precisa passar pelos testes clínicos em humanos e, é claro, isso leva muito tempo.
Quais os próximos passos da pesquisa?
Nós queremos tentar bloquear a produção de proteínas que são prejudiciais ao ouvido, usando microRNAs. Nós publicaremos nossas descobertas e transferiremos o conhecimento aos pesquisadores e médicos que trabalham com humanos.