postado em 20/04/2009 08:10
A iraniana Delara Darabi tinha 17 anos e passava boa parte do tempo tocando piano, pintando, escrevendo poesias, dedicando seu amor a Amir Hossein Sotoudeh, o namorado dois anos mais velho. Às 20h45 (hora local) de 28 de dezembro de 2003, a história de paixão ganhou contornos trágicos. Desde então, Delara enfrenta o medo da morte: ela aguarda o enforcamento, marcado para hoje, na prisão de Rasht (norte do Irã). A advogada e ativista de direitos humanos Lily Mazahery, uma iraniana-americana que vive em Washington, corre contra o tempo para evitar que sua cliente seja executada. Em entrevista ao Correio, por telefone, Lily contou que Delara assumiu um crime cometido por Amir, na expectativa de livrar o namorado da pena capital.
;Na noite do crime, Delara estava na casa de Mahin, prima de seu pai, e preparava um chá na cozinha. Ela ouviu barulhos na sala de estar e viu Amir chorando, depois de esfaqueá-la várias vezes;, relatou a advogado. Segundo Lily, o namorado dopou Delara com tranquilizantes e tentou convencê-la a assumir o assassinato, ao argumentar que ele escaparia da execução. ;Delara aceitou a proposta e o próprio pai levou-a à polícia, poucas horas depois do assassinato;, disse a advogada. ;Ela admitiu o crime e só fez isso para salvar o namorado;, acrescentou. Amir foi condenado a seis anos de prisão. A pintora redigiu uma carta, naquela ocasião, justificando a confissão. ;Sentindo-me abandonada e traída por minha própria família, decidi salvar Amir Hossain para que pudéssemos começar nossa própria família, então eu afirmei ter cometido o assassinato;, escreveu.
As autoridades de Rasht já teriam levado Delara para uma sala, onde faria as últimas preces. A pintora está isolada, sem acesso a advogados ou familiares. ;Falei com ela por telefone, dias atrás, e ela está devastada. É uma pintora, artista, com fortes emoções e está deprimida, se sentindo injustiçada, perdida e confusa;, contou Lily. Em janeiro de 2007, a jovem tentou o suicídio e foi salva pelos guardas da prisão ; que a encaminharam à sala de emergências do presídio. Naquela época, a depressão consumiu sua saúde e ela chegou a pesar apenas 35kg. Em sua cela, Delara passa o tempo pintando quadros que expressam o horror do cárcere, das torturas, da solidão e da perda da inocência.
Sua última esperança estava nas mãos dos cinco filhos de Mahin: o perdão. Mas uma longa carta de uma das filhas praticamente selou o destino da garota. Na mensagem, ela culpou Delara e se recusou a conceder-lhe o indulto, que comutaria a pena em prisão perpétua. ;Ela será enfocada por causa da ação do pai da vítima e do advogado;, lamentou a ativista, com a voz visivelmente amargurada.
Questionada sobre se a execução de Delara poderia ser adiada, Lily demonstrou ceticismo. ;A lei da selva prevalece no Irã e você nunca sabe o que pode ocorrer;, afirmou. Ela criticou a Justiça iraniana pela sentença sumária e as poucas chances de defesa. ;Sob a lei islâmica, o juiz, o júri e o promotor são a mesma pessoa. O tribunal vetou a presença de advogados e emitiu o veredicto em cinco minutos, apenas pelo fato de ela ter confessado o crime;, explicou. Os advogados tentam agora pressionar diretamente o governo iraniano para perdoá-la. ;Delara era menor de idade, à época do crime, e sua execução seria uma violação às leis e tratados internacionais. Isso é ilegal e deve ser condenado por todos os países signatários;, concluiu Lily.