postado em 22/04/2009 08:00
O governo brasileiro se antecipou a possíveis queixas e anunciou que aproveitará a visita do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, para expressar ;preocupação; pelo teor de seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre o Racismo, em Genebra. Falando no primeiro dia da reunião, ele uma vez mais se referiu ao Holocausto dos judeus sob a Alemanha nazista como ;uma questão ambígua e dúbia;, para depois classificar Israel como um ;governo racista;. Em nota oficial, o Itamaraty confirmou que Ahmadinejad é esperado em Brasília no próximo dia 6 e antecipou que a parte brasileira vai ;reiterar ao governo iraniano suas opiniões sobre esses temas;.
;O governo brasileiro tomou conhecimento, com particular preocupação, do discurso do presidente iraniano que, entre outros aspectos, diminui a importância de acontecimentos trágicos e historicamente comprovados, como o Holocausto;, diz o texto. Na avaliação do Itamaraty, ;manifestações dessa natureza prejudicam o clima de diálogo e entendimento necessário ao tratamento internacional da questão da discriminação;. A delegação brasileira à conferência de Genebra não se retirou durante o discurso de Ahmadinejad, ao contrário do que fizeram os representantes europeus, mas não aplaudiu.
A redação da nota parece sob medida para neutralizar desde logo qualquer mal-estar com Israel, que, embora se abstenha de comentar oficialmente a aproximação do governo Lula com Teerã, tem deixado sua insatisfação patente, por canais diplomáticos. No mesmo dia em que o presidente iraniano discursou, a chancelaria israelense chamou de volta seu embaixador em Berna como protesto pela reunião mantida pelo presidente suíço, Hans Rudolf Merz, com Ahmadinejad. O comunicado oficial censura o ;encontro de um presidente de um país democrático com um notório negador do Holocausto;, tanto mais realizado ;na véspera do Dia de Recordação das Vítimas do Holocausto;.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon, equilibrou-se entre a defesa da conferência ; boicotada desde a convocação por Israel, pelos Estados Unidos, pela Alemanha e outros aliados europeus ; e a repreensão ao presidente iraniano. Ban lamentou que Ahmadinejad tenha ;desvirtuado; o espírito da conferência ;para propósitos políticos;, com um discurso que ;acusou, dividiu e até mesmo incitou;. O secretário-geral falou à imprensa sobre o ;longo encontro; que manteve com o presidente iraniano antes de este se pronunciar. ;Pedi a ele que fizesse uma contribuição equilibrada e construtiva à conferência;, como único chefe de Estado presente.
Em campanha
De volta ao Irã, o presidente foi recebido no aeroporto por ;uma multidão;, segundo o relato da agência oficial de notícias Fars. Um jornal governista qualificou o discurso de segunda-feira como ;o tiro de misericórdia; para as potências ocidentais. Ahmadinejad disputará no início de junho a reeleição, tendo como principal adversário um candidato da facção reformista do regime, que se apresenta como o mais credenciado a corresponder às iniciativas de aproximação por parte do novo presidente dos Estados Unidos.
Desde a campanha pela Casa Branca, Barack Obama fala em dialogar com o Irã e outros adversários. Em relação ao governo de Teerã, Obama convidou-o a compartilhar os esforços para estabilizar o Afeganistão e a negociar diretamente com as seis potências (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha) que coordenam esforços para impedir que o país desenvolva armas nucleares.
Principais passagens do discurso do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, na Conferência das Nações Unidas sobre o Racismo, em Genebra: ;As potências vitoriosas (nas guerras mundiais do século 20) chamam a si mesmas de conquistadoras do mundo, ao mesmo tempo em que ignoram ou suprimem os direitos de outras nações pela imposição de leis e acertos internacionais opressivos.; ;Depois da 2ª Guerra, (as potências vencedoras) transformaram uma nação inteira (os palestinos) em sem-terra sob o pretexto do sofrimento dos judeus. Elas enviaram emigrantes da Europa, dos Estados Unidos e de outras partes do mundo com o fim de estabelecer um governo totalmente racista na Palestina ocupada. Em compensação pelas terríveis consequências do racismo na Europa, elas ajudaram a levar ao poder na Palestina o mais cruel e repressivo regime racista.; ;É ainda mais lamentável que um punhado de governos ocidentais e os Estados Unidos tenham se comprometido a defender esses racistas genocidas, enquanto as consciências despertas e as pessoas de mente aberta de todo o mundo condenam a agressão, a brutalidade e o bombardeio contra civis em Gaza.; ;Hoje, a comunidade humana confrenta um tipo de racismo que mancha a imagem da humanidade. No início do terceiro milênio, o sionismo mundial personifica o racismo, que recorre falsamente à religião e abusa dos sentimentos religiosos para ocultar o ódio.; ;Todos vocês estão conscientes da conspiração de algumas potências e de círculos sionistas contra as metas desta conferência. Deveria ser reconhecido que o boicote a esta sessão é uma indicação verdadeira do apoio a esse exemplo descarado de racismo.;