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Simulação de afogamento: Condoleezza Rice teria dado aprovação

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postado em 23/04/2009 19:06
A CIA pediu autorização para aplicar métodos severos de interrogatórios, em maio de 2002, em suspeitos de terrorismo, e Condoleezza Rice, então conselheira para a Segurança nacional do governo George W. Bush, deu seu aval, diz um relatório do Senado americano. "A agência de inteligência recebeu sinal verde para utilizar a simulação de afogamento, técnica conhecida como "submarino" e considerada tortura, desde que em 26 de julho de 2002 o ministro da Justiça, John Ashcroft, considerou legal a utilização desse tipo de sevícia", segundo documento do comitê de inteligência do Senado publicado na quarta-feira, voltado para esclarecer desvios consecutivos aos atentados de 11 de setembro de 2001. Nove dias antes, de acordo com documentos da CIA citados no relatório, Rice havia se reunido com George Tenet, diretor da agência de inteligência naquela época, e deu seu consentimento ao interrogatório previsto de Abu Zubaydah com este procedimento. Zubaydah estava nas mãos dos americanos, acusado de ser um dirigente de alto nível da Al-Qaeda. A autorização dada por Rice constituiria a primeira aprovação de um alto responsável da administração Bush para empregar uma técnica de interrogatório que o atual ministro da Justiça, Eric Holder, considera "tortura", segundo o relatório. Este relatório é, até agora, o mais completo baseado em documentos liberados que marcam o apoio do governo Bush aos métodos de interrogatório altamente polêmicos. Segundo o informe, Rice fazia parte dos pelo menos cinco ou seis altos funcionários, entre eles o vice-presidente Dick Cheney, que se reuniram em 2002 ou 2003 para debater práticas de interrogatório utilizadas em Abu Zubaydah e outros suspeitos - técnicas essas aprovadas e consideradas legalmente corretas. Após reunião em julho de 2003 durante a qual George Tenet informou, principalmente, a Condoleezza Rice, Dick Cheney, John Ashcroft e Alberto Gonzales (então conselheiro da Casa Branca) da utilização da simulação de afogamento, entre outras práticas, autres, estes últimos "reafirmaram que o programa da CIA era legalmente correto e refletia a política da administração", indica o relatório. O documento aparece em meio à polêmica, após a publicação, pelo governo Obama de informes internos da era Bush que fornecem justificativa jurídica ao emprego de tais métodos, proibidos pelo atual presidente, dois dias após a posse. O líder da maioria democrata do Senado, Harry Reid, diz-se oposto, por enquanto, à criação de uma comissão de investigação independente à imagem daquela sobre o 11 de Setembro, sobre os métodos de interrogatórios da era Bush. A CIA submeteu 183 vezes aquele que é considerado o cérebro dos ataques do 11 de Setembro, Khaled Cheikh Mohammed, ao método de simulação de afogamento e pelo menos 83 vezes a Abou Zoubaydah, segundo a edição de segunda-feira do New York Times de lundi, citando um memorando do departamento de Justiça datado de 2005. O relator especial das Nações Unidas sobre a tortura havia pedido na terça-feira que o ex-presidente George W. Bush e seu ex-secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, fossem processados por torturas e maus-tratos aos prisineiros de Guantánamo. "Judicialmente falando, os Estados Unidos têm uma clara obrigação", afirmou Manfred Nowak, referindo-se à necessidade de abrir um procedimento contra Bush e Rumsfeld, em entrevista ao canal alemão ZDF. Ele enfatizou que Washington ratificou a convenção da ONU contra tortura que exige a lei seja usada contra as pessoas que a violam. "Temos documentos que estão disponíveis ao público e provam que esses métodos de interrogatório foram intencionalmente ordenados por Rumsfeld", afirmou. "Obviamente as mais altas autoridades do país estavam cientes disso", acrescentou Nowak, que autorizou um relatório investigativo das atividades na prisão de Guantánamo. Um relatório bipartidário do Senado americano divulgado no mês passado revelou que Rumsfeld e outras altas autoridades estavam a par do abuso cometido contra os detentos da prisão em Cuba. Dizia ainda que Rumsfeld autorizou técnicas ilegais de interrogatório em 2 de dezembro de 2002 e que essas atos de coação se baseavam num documento assinado por Bush em fevereiro de 2002.

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