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Ministério da Saúde monitora 11 pessoas no Brasil com suspeita de contaminação

Segundo o Ministério da Saúde, nenhum dos pacientes têm todos os sintomas. Aeroportos entram em alerta

postado em 28/04/2009 08:01
Vem principalmente da região Sudeste do Brasil o alerta de que o país pode não estar imune à gripe suína. O Ministério da Saúde monitora 11 pessoas que procuraram serviços de referência com suspeita de contaminação pela doença. De acordo com nota divulgada à imprensa, nenhuma dessas pessoas preenche a definição de caso suspeito. Mesmo assim, elas continuam acompanhadas pelas secretarias estaduais de Saúde. Três dos viajantes são de Minas, dois do Rio, dois do Amazonas, dois do Rio Grande do Norte, um de São Paulo e outro, do Pará. Em Minas, as três pessoas estão isoladas no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Ainda hoje, deve ser divulgado o resultado dos exames de material colhido de um casal recém-chegado do México e de um homem que voltou recentemente dos Estados Unidos. Em São Paulo, um homem que esteve na Cidade do México há 10 dias foi isolado por infectologistas do Hospital Emílio Ribas depois de apresentar gripe intensa, dores nas articulações e febre baixa. Ontem no início da tarde, uma mulher foi liberada depois de observada pelos médicos. Segundo um boletim, ela teria dengue ou sinusite. O governo mineiro optou pela precaução. A Secretaria de Estado de Saúde do estado mobilizou uma força-tarefa e elabora uma lista de hospitais de referência no estado para receber possíveis pacientes com sintomas ou mesmo com a enfermidade. Já a secretaria paulista descarta a possibilidade da doença com aval do Ministério da Saúde, que, em nota, informou que o paciente não tem a gripe suína. Porém o governador José Serra, que já foi ministro da Saúde, afirmou que é possível a gripe suína chegar ao Brasil. ;Tudo pode acontecer, mas até agora a situação está sob controle. Não é impossível ter vindo alguém para cá. O importante é a gente saber logo, porque a maneira de parar é saber quem está com o problema;, destacou. Funcionário do Hospital das clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais usa máscara: cautelaSub-secretário de Vigilância em Saúde em Minas Gerais, o médico Luiz Felipe Caram explica que a gripe suína assusta as autoridades sanitárias justamente pelo fato de o vírus ser proveniente de uma alteração genética. ;É um microorganismo desconhecido, que está circulando com uma velocidade muito grande. Por essa razão, toda a população mundial está suscetível a ele. Além disso, atinge pessoas com idades variadas. Cientistas estrangeiros estudam o motivo da letalidade do vírus, mas ainda não sabemos a estrutura dele ;, diz. Medo no saguão Desde ontem, os principais aeroportos do país estão em alerta. Mas em Guarulhos (SP), os passageiros dos primeiros voos vindos do México, a maioria brasileira, reclamaram que não havia funcionários da Angência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para dar orientações sobre a gripe suína. ;No avião, só se falava nessa doença. As pessoas que estavam sentadas ao meu lado usavam máscaras e não sabíamos se corríamos riscos;, reclamou a bancária Fernanda Rocha, 33 anos. Ela desembarcou com duas filhas e um sobrinho de uma viagem de férias. No saguão de desembarque, uma família de mexicanos chegou ao aeroporto por volta de 12h30 usando máscaras. Os parentes brasileiros que os aguardavam evitaram abraçá-los. ;Nós conversamos com eles pelo telefone e recebemos a orientação para não ter contato até junho;, justificou o publicitário Rogério Becker, 29. Em entrevista coletiva concedida ontem, o presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens em São Paulo, Edmar Bull, disse que as agências de viagens que fazem o trajeto São Paulo;México já registram cancelamento de cerca de 30% na emissão de passagens aéreas e pacotes turísticos. ;Está todo mundo com receio. Estamos com algumas alterações e cancelamentos. Vacina não existe. Então, não temos como orientar o turista a ir ou não ir;, disse. Lula: ;Que não chegue nunca; Lívia Gomes Inquietação, mas com cautela. Eis a postura adotada pelo governo brasileiro com relação à possibilidade de chegada da gripe suína ao país. O recado foi dado pelo diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Agenor Álvares, na tarde de ontem. ;Não é motivo para alarde, preocupação sim. A população tem que ficar tranquila porque o governo está trabalhando para evitar que esse vírus entre no Brasil;, avisou Agenor depois de participar da reunião do Gabinete Permanente de Emergência. Agenor criticou as autoridades sanitárias mexicanas pela demora na divulgação dos casos da doença. Ele lembrou que, apesar de os primeiros casos terem ocorrido em março, o México fez a notificação na semana passada. ;Somos orientados a não ocultar casos graves. Isso não repercute apenas em um Estado, há reflexos gerais. É preciso ter responsabilidade com a saúde do povo;, disse. O Gabinete Permanente de Emergência, formado por técnicos dos ministérios da Saúde e da Agricultura e da Anvisa, foi criado em 2006 por conta da gripe aviária e reunia-se mensalmente. A partir de agora, os especialistas vão se encontrar diariamente para monitorar a situação da gripe suína e indicar meios preventivos. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, teve a rotina alterada por conta da doença. Ele, que desde sábado está na Turquia participando de um congresso de saúde coletiva, deve antecipar o seu retorno ao Brasil. A volta estava prevista para o domingo, mas foi remarcada para hoje. Temporão tem conversado por telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o caso. Lula afirmou ter sido informado pelo ministro que o Brasil, por enquanto, não tem motivos para se preocupar. Ao contar sobre a ligação, fazendo o sinal da cruz, o presidente afirmou: ;Graças a Deus, até agora, não chegou ao Brasil. Eu espero que não chegue nunca;. Para reforçar a ;calmaria;, uma nota do Ministério da Agricultura relatou os cuidados que serão tomados nos locais onde há possibilidade da doença. ;O sistema de vigilância do serviço veterinário oficial do Brasil, incluindo a Vigilância Agropecuária em portos, aeroportos e postos de fronteira, está em alerta. Qualquer alteração da situação sanitária animal será comunicada;, informou. » Áudio: ouça entrevista com o diretor da Anvisa, José Agenor Alvares da Silva Medo de ser o próximo Samanta Sallum Um congresso internacional sobre direito, com 932 participantes do mundo inteiro, foi cancelado ontem pelo governo mexicano por causa do surto da gripe suína. Entre os palestrantes do evento, estava o promotor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Diaulas Ribeiro. Da cidade de Mazatlán, ele contou ao Correio, por telefone, que o clima de medo, presente na população, tomou conta dele também. Diaulas chegou ao México, na sexta-feira passada, para ficar até o próximo sábado. ;Esse medo me traz à cabeça dois livros: A peste, de Albert Camus, e Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Nunca pensei que passaria por uma situação como as descritas por esses autores. Mas é assim que me sinto. Com o medo de ser o próximo;, descreve. Diaulas conta que estranhou ao chegar à Cidade do México na sexta-feira passada e ver que o trânsito estava tranquilo, bem diferente do tradicional caos das vias. Esta é a quinta vez que o promotor, também membro do Conselho Nacional do Ministério Público, visita o país. Por isso, conseguiu distinguir a diferença de cenário logo de cara, ainda sem saber o que provocava aquela mudança. Andou pelas ruas, se deparou com as pessoas de máscara e num primeiro momento chegou a resistir a usar uma. Só entendeu a gravidade da situação ao assistir à televisão. ;Todos usavam máscaras. Fui tomado pelo pânico e voltei para o hotel. Fiquei trancado lá;, conta. Da capital, Diaulas seguiu, após responder questionários e passar por inspeção médica no aeroporto, para Mazatlán, no litoral. Era lá que ocorreria o evento. No entanto, ontem pela manhã veio o aviso de cancelamento do congresso ;por ordens do governo;. Cerco sanitário Ele conta da dificuldade de conseguir uma máscara nas farmácias. ;Saí para comprar o Tamiflu, um antiviral que tem venda livre aqui. Sabia que não poderia usá-lo se não tivesse contaminado. Mas, nessa hora, a gente quer ter alguma arma de proteção. Não encontrei. Estava esgotado, como estão esgotadas as máscaras. Acabei ganhando uma do Exército, que distribuiu 6 milhões em um dia;, disse. Ele tenta agora voltar para Brasília. Foi à agência de turismo para antecipar as passagens e não teve sucesso. ;Por enquanto, não poderei sair. Devo aguardar novas decisões governamentais, que sinalizam que só poderei me movimentar no país depois de maio. Falam em cerco sanitário;, descreve.

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