postado em 28/04/2009 10:32
Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, Ron Huff -- presidente da Sociedade Americana de Criminologia e doutor em sociologia pela Ohio State University -- falou sobre as nova política adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua guerra contra o terror.
Como o senhor vê os 100 primeiros dias de Obama no campo dos direitos humanos? O fechamento de Guantánamo e a abertura dos arquivos da CIA estão rompendo com a guerra ao terror do governo Bush?
A eleição de Obama refletiu um forte mandato para a mudança em um número de políticas do governo Bush, incluindo a questão dos direitos humanos para suspeitos. Guantánamo é um exemplo, já que suspeitos foram mantidos ali por um longo tempo sem amparo legal. Muito desses prisioneiros têm sido libertados sem acusações depois de encarcerados por um longo período. Isso não significa que Obama esteja menos preocupado com o terrorismo. Na verdade, é um aviso de que na luta contra o terror, os Estados Unidos não deveriam violar os direitos humanos e a lei internacional.
Qual é sua opinião sobre o impacto das denúncias da tortura cometida pela CIA? Obama está lidando bem com esse escândalo?
Tanto o presidente Obama quanto o seu rival nas eleições, o senador John McCain (vítima de maus-tratos em uma prisão no Vietnã), se opuseram à tortura. Obama acredita fortemente na transparência e, por isso, defende a divulgação de documentos justificando a tortura. Se aqueles que justificaram a tortura serão perseguidos, ainda não está claro. E há diferenças de opinião sobre isso. Os ataques em 11 de setembro de 2001 levaram alguns a justificarem a tortura, como forma de prevenir mais perdas de vidas.
O presidente Obama prometeu reforçar as tropas no Afeganistão e capturar Bin Laden. Ele está corrigindo um erro de Bush em focar a atenção no Iraque?
Obama está focando mais atenção no Afeganistão (a fonte dos atentados de 11 de setembro) e no Paquistão (que tem armas nucleares), onde os extremistas do Talibã têm sido bem-sucedidos. Os Estados Unidos vão gradualmente retirar suas tropas do Iraque e posicioná-las no Afeganistão, e Obama está mantendo sua promessa de campanha. Ele se opôs à invasão do Iraque e disse que foi um desvio do alvo real, o Afeganistão.
A decisão de Obama de abrir os memorandos da CIA e processar os oficiais envolvidos na tortura é um indício de que a guerra ao terror não existe mais?
A oposição de Obama à tortura não deveria ser confundida com ser "suave" com o terrorismo. Ele continuará a defender os EUA e seus aliados contra o terrorismo, mas seus métodos não incluirão a tortura. Ele claramente se difere de Bush-Cheney no que diz respeito à tortura. Como ex-professor de lei constitucional na Universidade de Chicago, o presidente Obama é um forte defensor dos direitos humanos e das liberdades civis. No entanto, ele manterá uma presença militar forte naqueles períodos em que a diplomacia falhar ou quando os EUA ou seus aliados forem atacados.