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A um passo da pandemia

Organização mundial de saúde eleva o nível de alerta para 5, recomenda aos governos que se preparem para reduzir contágio pelo vírus h1n1 e adverte que comportamento da doença é incerto

postado em 30/04/2009 08:20
Toda a humanidade estará sob ameaça da gripe suína que começou no México. O alerta da chinesa Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi feito por volta das 17h30 (hora de Brasília), no exato momento em que a entidade elevou o nível de alerta de 4 para 5 ; em uma escala de 6 ;, diante da rápida disseminação do vírus H1N1. Na prática, isso significa que uma pandemia é iminente e que se torna cada vez mais curto o tempo para os governos tomarem medidas de mitigação. ;Um vírus pandêmico é imprevisível e pode nos surpreender;, declarou Chan. ;Todos os países deveriam ativar imediatamente seus planos de preparação pandêmica;, acrescentou. De acordo com Kenji Fukuda, diretor-geral adjunto para segurança sanitária e de meio ambiente da OMS, é possível que o nível suba para a última fase ;muito rapidamente;. Ele pediu aos governos que se mantenham vigilantes e notifiquem a entidade sobre suspeitas. Numa amostra da gravidade da situação, a OMS convocou os laboratórios do mundo inteiro a uma corrida em busca de ferramentas eficazes de diagnóstico. ;Em muitos países, há laboratórios muito competentes para fazer o diagnóstico da influenza (gripe) sazonal. Mas não temos reagentes para diagnosticar o H1N1;, explicou a diretora geral. Apesar de a pior pandemia de influenza da história moderna (gripe espanhola) ter matado 50 milhões em 1918, ainda não há indícios de como o vírus vai se comportar. ;A maior questão é quão grave será a pandemia, especialmente agora no começo;, declarou Chan. ;É possível que o espectro clínico vá de uma doença leve a outra grave.; Durante a coletiva de imprensa na sede da OMS, em Bruxelas, ela tentou dissociar a situação atual do passado e garantiu que o mundo está mais bem preparado do que nunca para lidar com a ameaça. Os esforços de mitigação, no entanto, dependerão uma ação conjunta da comunidade internacional e de medidas individuais básicas. ;Os hospitais têm de tomar medidas para controlar as infecções. Você pode lavar suas mãos, não tossir nas pessoas e cobrir a boca com as mãos ao espirrar e tossir;, sugeriu Fukuda. Margaret Chan foi além e disse que ;muitos abraços e beijos não são necessários neste momento;. No entanto, ela pediu à população mundial que continue comendo carne suína. ;A carne de porco pode ser consumida de forma segura, se bem cozinhada;, comentou. A OMS espera contar com o Banco Mundial para ter apoio financeiro no combate à pré-pandemia. Chan telefonou para Robert Zoellick, presidente da instituição, mas se recusou a revelar o montante necessário para controlar a doença. ;Vai depender de como o vírus vai evoluir. Precisamos de mais tempo para observar o comportamento dele (%u2026) Zoellick se colocou à nossa disposição;, assegurou a diretora, antes de deixar claro que aguarda uma cooperação social por parte de muitas companhias. Previsão pessimista Em entrevista ao Correio, o norte-americano Arnold Monto, especialista em influenza e epidemiologista da Universidade de Michigan, explicou que a elevação do nível de alerta indica que a nova variante do vírus da gripe está em ampla disseminação pelas Américas, região da OMS. ;Ainda não tivemos contaminações extensivas na Europa, Ásia e Nova Zelândia, mas é provável que elas ocorram;, alertou. ;Tão logo isso aconteça, iremos à fase 6 (%u2026) O H1N1 se espalha de modo eficiente e estará em todos os países logo. A questão é quanto tempo a epidemia vai durar.; Monto informou não haver indicações de que o HN1 esteja atuando como o vírus da gripe espanhola, que dizimou 2% das pessoas que contraíram a doença. Além da morte de um bebê nos EUA (leia na página 37), um fenômeno detectado ontem na Espanha pode ter sido fundamental para a decisão da OMS de decretar o estágio pré-pandemia. Pelo menos uma das infecções na Catalunha foi produzida por contágio indireto: o paciente não havia viajado ao México, ainda que a noiva tenha contraído a doença ao visitar o país. Até as 23h de ontem, a OMS havia registrado 148 infecções em 11 nações. O H1N1 se espalhou para mais cinco estados norte-americanos, aumentando o número de contaminados nos EUA de 65 para 91 em um único dia. No México, a epidemia já teria causado 159 mortes e infectado 2.500. Fase 5 Caracterizada pela disseminação do vírus entre pessoas em pelo menos dois países de uma mesma região da OMS. Uma pandemia é iminente. O tempo para finalizar a organização, comunicação e implementação das medidas de mitigação planejadas é curto. Glossário SURTO Caracteriza-se pela ocorrência de determinada doença em números acima da média registrada em determinada população, em limite restrito ; um bairro, uma escola, um local de trabalho. Caso não seja contido, pode se tornar a antessala de uma epidemia. EPIDEMIA É a ocorrência de contágio rápido e maciço em uma região determinada, porém por tempo determinado. Costuma decorrer do primeiro contato de uma população com um determinado agente infeccioso (vírus ou bactéria), para o qual não existem anticorpos desenvolvidos. Pode ser combatida com campanhas de vacinação. Exemplos mais marcantes: a peste bubônica, na Europa medieval, e a gripe espanhola, em 1918-1919. PANDEMIA É uma epidemia de amplo alcance geográfico, atingindo um continente ou mesmo todo o planeta, caracterizada pela ocorrência de surtos epidêmicos em vários países, com multiplicação dos focos de contágio. Não implica necessariamente a morte de grande número de vítimas ; o que dependerá da maior ou menor letalidade da doença. O combate exige a adoção de medidas coordenadas entre as autoridades sanitárias nacionais. A peste medieval e a gripe espanhola são exemplos mais drásticos. ENDEMIA É a ocorrência de uma doença em taxas estáveis e persistentes, em regiões determinadas, sem contágio progressivo e o alastramento que caracterizam os surtos e epidemias. É comum para males com baixa mortalidade, como a malária ou parasitoses intestinais. Endemias são enfrentadas com campanhas sanitárias regulares, bem como vacinação e outras medidas. Colaborou Carlos Gropen Jr., consultor de saúde do Correio Braziliense e professor da UnB

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