Mundo

Mundo se prepara para evitar mesma pandemia que matou 48 milhões em 1918

;

postado em 03/05/2009 08:39
O ano era 1918. Uma sangrenta batalha entre soldados de 16 países já se arrastava havia quatro anos, cobrando a vida de 8,5 milhões homens e impondo um custo de quase US$ 200 bilhões. As trincheiras ajudaram a espalhar um inimigo invisível, mais letal que as munições e bombas. A gripe espanhola começou no Velho Continente, durou de março de 1918 a junho de 1920 e matou cerca de 48 milhões de pessoas em todo o mundo. Na Itália, a taxa de mortalidade ficou 172 pontos percentuais acima do esperado.

Nove décadas depois, o mundo ainda associa o termo ;pandemia; ao maior desastre da medicina da história contemporânea. Os tempos mudaram e o advento da tecnologia possibilitou viagens aéreas intercontinentais, o que em tese potencializaria a transmissão do vírus AH1N1, causador da chamada gripe suína. Se por um lado a globalização rompeu as barreiras sanitárias, deixando o mundo mais vulnerável à doença, por outro permitiu aos cientistas desenvolverem métodos mais eficientes de diagnóstico e exames avançados.

O Correio consultou infectologistas sobre um provável cenário para a pandemia atual e se seria possível comparar as gripes espanhola e suína. Professor de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da Vanderbilt University (em Tennessee) e secretário da Sociedade de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, William Schaffner acredita que as viagens aéreas podem espalhar rapidamente o vírus pelo planeta ; fenômeno já em evidência. ;Isso teria consequências socioeconômicas;, admite. ;A boa notícia é que nós temos tratamentos melhores e a capacidade de produzir uma vacina.;

O especialista garante que o mundo está mais preparado para lidar com uma pandemia do que cinco anos atrás. ;De qualquer modo, assim como os furacões, a preparação não vai deter o vento ; ou a influenza. Pode haver um grande número de doentes e mortes excessivas, apesar de nossos melhores esforços.;

Debate

Schaffner afirma existir um debate científico sobre a gripe espanhola. ;Ainda não sabemos se foi muito virulenta e matou diretamente mais pessoas ou se uma pneumonia bacteriana elevou a letalidade da influenza;, comenta. Segundo ele, a penicilina não existia à época da pandemia de 1918 ; só foi descoberta pelo escocês Alexander Fleming uma década depois ;, o que potencializou os danos da doença. ;Temos antibióticos para tratar a pneumonia e produziríamos drogas para prevenir infecções. Além disso, os antivirais de hoje não estavam à disposição durante aquela pandemia;, acrescentou.

A própria situação de guerra ajudou a alastrar as mortes no início do século passado. ;Os soldados lotavam os navios e se acumulavam nas trincheiras;, lembra Peter Katona, professor da Faculdade de Medicina David Geffen, da Universidade da Califórnia (Ucla). Ele atribuiu a alta mortandade da gripe espanhola à chamada tempestade de citoquina, uma super-reação do sistema imunológico. Além de reconhecer que a humanidade está mais bem preparada, Peter aconselha os países a aprender com o passado. ;O distanciamento social vai ajudar a controlar a pandemia;, garante.

Para Christian Sandrock, ex-diretor do Programa de Preparação do Hospital de Bioterrorismo da Califórnia, a gripe espanhola foi tão letal por causa da falta de tecnologia médica (ventiladores) e de antibióticos. ;A pneumonia secundária matou várias pessoas, enquanto o impacto da Primeira Guerra Mundial potencializou a disseminação da doença;, explica. A atual paz entre as potências não é, no entanto, garantia de que o vírus H1N1 manterá a população mundial quase ilesa. Christian teme pelos países em desenvolvimento, que ficaram relegados da prevenção ante a iminência da pandemia. ;Países ricos, como os europeus e os Estados Unidos, investiram bastante em um plano pandêmico e talvez estejam razoavelmente bem preparados;, afirma. ;Mas as nações subdesenvolvidas, como as da África Subsaariana, estão em risco muito alto, devido à mínima infraestrutura em saúde pública.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação