postado em 11/05/2009 18:59
Com 250 mil habitantes distribuídos em 33,5 quilômetros quadrados, divididos em 16 bairros, a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, vive dias de notoriedade indesejada e injustificada, na opinião de seus moradores.
Lá estão o aeroporto Tom Jobim, o Hospital do Fundão (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho) e as primeiras vítimas confirmadas do vírus da gripe suína na cidade.
Para agravar o quadro, três dos casos confirmados no país - o jovem que chegou do México, seu amigo e mãe de um deles - são de moradores da ilha. Eles moram no Jardim Guanabara e essas coincidências têm gerado comentários na imprensa. O primeiro rapaz contaminado do Rio de Janeiro desembarcou no Tom Jobim e, além disso, ele e os outros dois pacientes do estado estão internados em quarto isolado do Hospital do Fundão.
Mas os moradores seguem a vida normalmente, ignorando os comentários. Boatos de queda na frequência do Iate Clube, onde se formou o time de futebol que foi ao México, por exemplo, foram desmentidos pela presença maciça de sócios no Dias das Mães, cujo ponto alto é o almoço. Tanto no Rei do Bacalhau quanto no La Playa, onde os dois jovens internados estiveram no domingo anterior, o movimento foi igual ou superior ao do ano passado.
Glória Claro, funcionária do departamento financeiro do La Playa disse que as 110 mesas do restaurante estiveram ocupadas praticamente por três horas, desde as 11h30. Não vejo diferença nenhuma na freqüência do restaurante e nem da boate, que fica do lado. Aliás, não entendo por que dizem que os dois rapazes estavam bebendo cerveja na mesma garrafa na boate, se lá a cerveja é servida em copo descartável, por questões de higiene e de segurança.
A funcionária mostrou Agência Brasil a cozinha do restaurante, onde são utilizados copos de vidro, para mostrar como são lavados. Com detergentes e água na temperatura que a Anvisa determina, disse.
O mais provável, na sua opinião, é que os dois jovens tenham comprado cerveja em ambulantes, na praça em frente boate. A casa promove shows quase diariamente, sempre a partir das 22h30, com samba, axé, funk, rap, reagge, forró e pagode. Se houvesse alguma desconfiança da clientela, o movimento teria caído, mas a casa continua cheia, completou.
Maurício da Almeida, administrador do restaurante Rei do Bacalhau, na Praia da Bica e onde os rapazes também estiveram no domingo, dia 3, registrou movimento ligeiramente superior ao do Dia das Mães do ano passado, mas o lucro subiu 20%. É claro que as pessoas estão preocupadas, porque existe uma falta de informação muito grande, ninguém sabe direito o que é essa gripe nem governo, nem médicos, ninguém.
Segundo Maurício, sua filha, que vive em Roma há três anos e meio com o marido, mexicano, executivo de uma multinacional da área de alimentos, tem mostrado a mesma preocupação que ele vê no dia-a-dia da Ilha do Governador. O desconhecido causa pânico, por isso é bom manter a calma, recomendou.
O restaurante, há 30 anos no mesmo endereço e um dos mais tradicionais da ilha, esteve lotado das 11h30 s 15h30 e atendeu, nesse período, cerca de 900 pessoas. Eu não vi, mas me disseram que tinha até um sujeito usando máscara de proteção, de brincadeira. Mesmo na preocupação, o pessoal brinca, disse Maurício.
Na Panificação Jardim Guanabara, uma das maiores do bairro, o gerente Carlos Soares Silva disse que a única conseqüência da chegada do vírus da gripe suína é que alguns fregueses, agora, pedem café em copo descartável, mas são poucos. Pode ser que a realidade mude, não sei, mas estou tranquilo porque aqui não há contato manual dos funcionários nem com o pãozinho: ou usam a pinça ou luvas de plástico.
Na calçada, a barraquinha de frutas e verduras atendida por Marcos Antônio Matos conserva a mesma clientela, com as preferências habituais, sem nenhuma exigência quanto ao manuseio das maçãs, mangas, bananas e hortaliças expostas ao ar livre. Até agora ninguém reclamou de nada. A gente ouve os comentários sobre a gripe, mas nada mudou, pelo menos na minha barraca, garantiu.
E na Escola Modelar Cambaúba, numa das principais ruas do bairro a rotina é a mesma para os cerca de 750 alunos da pré-escola até o ensino médio. Não adotamos qualquer medida excepcional, nem para alertar as crianças, porque não houve nenhuma orientação neste sentido, contou a auxiliar de secretaria Patrícia. Segundo ela, as crianças recebem rotineiramente os cuidados com a higiene pessoal, sobretudo nos horários de lanches e de recreio.