postado em 19/05/2009 18:47
Trinta anos após a primeira votação direta para o Parlamento Europeu, a campanha para as eleições europeias, de 4 a 7 de junho, permanece dominada por questões de interesse nacional, sem uma verdadeira opinião pública continental.
"Paradoxalmente, enquanto o Parlamento não para de acumular poderes desde 1979, a participação nas eleições é cada vez menor e não há uma verdadeira campanha eleitoral europeia", lamenta o eurodeputado social democrata alemão Jo Leinen.
"Em todas as partes da Europa, se tem a impressão de que há 27 campanhas nacionais, nas quais os assuntos europeus ficam relegados a um segundo plano", disse Corinne Deloy, pesquisadora da Fundação Robert Schuman.
Na Espanha, as eleições europeias são vistas como um plebiscito sobre a forma como o governo socialista tem administrado a crise econômica e as pesquisas indicam que os eleitores pretendem reprová-lo, votando na oposição conservadora.
Também na França, a esquerda opositora pede um "voto de reprovação" ao presidente, o conservador Nicolas Sarkozy.
Na Alemanha, a eleição europeia será um teste para os grandes partidos diante das eleições legislativas do final do ano.
A falta de interesse dos eleitores vai de mãos dadas com a ausência de entusiasmo dos políticos, reticentes, em alguns casos, de entrar na corrida europeia e perder espaço na política nacional, segundo Corinne Deloy.
A campanha europeia também é obscurecida pela ausência de poderes claros do Parlamento, segundo Deloy: "Vota-se em um Parlamento que segue sem o poder de eleger o governo da Europa, que é a Comissão Europeia".
Outro elemento de dissuasão nas urnas é a poderosa fronteira entre a esquerda e a direita no Europarlamento.
De fato, um trabalhista britânico pode se entender melhor com um conservador espanhol do que com um socialista sobre um amplo leque de temas, ou os eurodeputados de apenas um país podem se unir para defender os interesses nacionais.
Estas diferenças bloqueiam o surgimento de partidos multinacionais fortes. Os socialistas europeus são incapazes, hoje, de obter consenso sobre uma alternativa à candidatura do conservador José Manuel Durão Barroso, que tenta a reeleição à frente da Comissão Europeia.
Para Leinen, não haverá uma campanha eleitoral europeia real enquanto a UE não fixar critérios mínimos comuns, como evitar o fechamento das listas eleitorais no último minuto, como ocorreu este ano na França.
Além destes atrasos, Leinen estima que deveria ser generalizada a proibição de acumular mandatos e propõe que ao menos parte dos eurodeputados sejam eleitos por meio de listas multinacionais, em escala europeia, para "se superar as fronteiras políticas nacionais".