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Dia D: 65 anos do desembarque que mudou a história

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postado em 20/05/2009 12:55
Em 6 de junho próximo, aquela que é considerada a mais importante batalha da história moderna completa 65 anos. Em 1944, a região da Normandia, na França, abrigou a maior operação militar realizada até hoje. Na manhã chuvosa de 6 de junho daquele ano, começaram a desembarcar mais de 150 mil norte-americanos, britânicos, franceses, canadenses e australianos. Eles atravessaram o Canal da Mancha em cerca de 8 mil embarcações e aeronaves para iniciar a libertação da Europa dominada pelo exército alemão comandado por Adolf Hitler. Conhecido como o Dia D, o desembarque das tropas aliadas em território francês significou o início do fim da Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939 e terminada apenas em 1945. As estimativas para o total de vítimas da guerra variam, mas a maioria sugere que cerca de 60 milhões de pessoas morreram nos seus seis anos, sendo cerca de 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis. Muitos civis morreram devido à doenças, fome, massacres, bombardeios e genocídio. Só a União Soviética perdeu cerca de 27 milhões de pessoas, quase metade de todas as vítimas da Segunda Guerra.




A OPERAÇÃO OVERLORD Os comandantes aliados na Segunda Guerra Mundial passaram quase dois anos discutindo uma ofensiva definitiva contra as forças nazistas na Europa. Dirigida pelo general norte-americano e futuro presidente Dwight David Eisenhower e pelo comandante britânico Bernard Law Montgomery, a operação Overlord mobilizou 156,2 mil homens: 132,7 mil pelo mar e 23,4 mil pelo ar. Após dias de adiamento por causa do costumeiro mau tempo no Canal da Mancha, os aliados deflagraram a operação na noite de 6 de junho de 1944. Conhecido como o Dia D, o episódio envolveu 11,5 mil aviões. Eles voaram até as praias da Normandia, onde despejaram quase 12 mil toneladas de bombas. Tudo para abrir caminho para as tropas terrestres e marítimas entre os 150 mil alemães fortemente armados e bem posicionados no noroeste da França. O desembarque dividiu a região ocupada pelo exército alemão em cinco praias rebatizadas com os nomes de Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword, usados pelos habitantes locais até hoje. Muitas embarcações aliadas afundaram ou ficaram seriamente danificadas antes de alcançar a praia. No entanto, graças ao bom conhecimento da região, os soldados canadenses conseguiram entrar na praia às 10h30 após terem reduzido a cinzas a resistência alemã. A operação também custou muitas vidas. Entre os aliados, morreram 40 mil soldados, 200 mil ficaram feridos e 16 mil foram dados como desaparecidos. Do lado alemão, 55 mil morreram, 140 mil ficaram feridos e 200 mil acabaram presos. O povo da Normandia se tornou mártir desta vitória: 20 mil civis perderam a vida sob os bombardeios que reduziram muitas pequenas vilas a montanhas de escombros. AS PRAIAS DO DESEMBARQUE Gold Os britânicos ficaram responsáveis pela praia com mais de 8 km de largura e incluía as cidades costeiras de la Rivière e Le Hamel. Na extremidade ocidental da praia estava a vila de Arromanches, e ligeiramente mais distante a oeste, a cidade de Longues-sur-Mer. Dos primeiros veículos blindados que desembarcaram na praia, 20 tocaram em minas e sofreram alguns danos. Felizmente para os ingleses, não havia artilharia pesada alemã e a resistência da infantaria era ineficaz. Os britânicos sofreram 400 baixas nesta praia. Na noite de 6 de junho de 1944, a 50ª divisão havia desembarcado 25 mil homens, avançado 10km e estabelecido contato com os canadenses na praia de Juno. Juno A 7ª e 8ª brigadas canadenses enfrentaram uma sólida resistência dos alemães na manhã de 6 de junho de 1944. A praia tinha aproximadamente 10km, com dunas de areia fortificadas pelos alemães. A primeira leva de assalto desembarcou às 7h55, 10 minutos após a hora H, mas três horas após a melhor maré. Aproximadamente 30% dos barcos de desembarque foram destruídos ou danificados. Ao meio da manhã, a cidade de Bernières estava nas mãos canadenses, pouco depois Saint-Aubin era ocupada. Dos 21,4 mil homens canadenses desembarcados em Juno no Dia D, 1,2 mil morreram. Omaha Em 1944, Omaha era defendida pela 352ª divisão de infantaria alemã. Ao sair da água no Dia D, os soldados norte-americanos eram recebidos por balas de grosso calibre, minas e outros obstáculos que bloqueavam o acesso à praia. Expostas, as tropas americanas foram quase dizimadas. Tanto que a operação esteve a ponto de ser suspensa. Mas os ianques abriram um foco na defesa alemã e chegaram à cidade de Vierville no final da tarde. Durante o ataque, alguns tanques ficaram com medo de desembarcar na praia junto com os soldados, desembarcando antes da zona prevista. Ao realizarem tal operação, acabaram afundando nas águas frias da praia. Utah A praia a mais distante à direita das cinco áreas de desembarque na Normandia. Comparando as fortificações alemãs na praia de Omaha e as defesas em Utah, compostas de posições fixas de infantaria, as últimas eram escassas. Cerca de 20 mil homens e 1.700 veículos desembarcaram na Utah com muito poucas baixas, menos de 300 homens. Os alemães não tinham contra-atacado o assalto, devido ao sucesso das tropas aerotransportadas, e também à confusão entre os comandantes alemães a respeito de onde o ataque principal estava a ocorrer. Sword Com 8km de extensão, a área tinha muitas casas de férias e estabelecimentos turísticos atrás de uma escarpa. Os alemães fortificaram a área com defesas que consistiam em obstáculos na praia e em fortificações nas dunas de areia. Cabia ao 2º exército britânico desobstruir o caminho. Às 16h de 6 de junho de 1944, a 21ª divisão de Panzer lançou o único contra-ataque alemão sério no Dia D: o 192º regimento de Panzer Grenadier alcançou a praia às 20h, mas seus 98 tanques foram detidos por armas anti-tanque e o contra-ataque foi anulado. No fim do dia, os Ingleses tinham desembarcado 29 mil homens, com 630 baixas. Pointe du Hoc A escarpa situada entre as praias de Omaha e Utah era um objetivo atribuído aos rangers do exército dos Estados Unidos. Eles escalaram os penhascos para eliminar peças de artilharia da infantaria alemã que poderiam bombardear ambas praias norte-americanas. Os outros rangers na praia, não vendo o sinal do Pointe, desembarcaram em Omaha, sem poder cumprir a missão de atacar Pointe du Hoc porque ficaram envolvidos na luta desesperada da outra praia. Às 9h, os rangers no Pointe tinham cortado a estrada atrás e posto os canhões fora da ação. Eram assim a primeira unidade americana para realizar sua missão no Dia D com o custo de metade da sua força de combate. Para o fim do dia ocupavam apenas um pequeno pedaço de terreno nas alturas do Pointe, os alemães contra-atacavam. Os rangers resistiram dois dias até que a ajuda chegou. A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A Segunda Guerra Mundial teve início em 1º de setembro de 1939 e só acabou em 2 de setembro 1945. Foi o conflito com mais vítimas na história da humanidade. Ela opôs os aliados e as potências do eixo. As principais forças aliadas eram a China, a França, o Reino Unido, a União Soviética e os Estados Unidos. O Brasil se integrou aos aliados em agosto de 1942. A Alemanha, a Itália e o Japão, por sua vez, formava o eixo. Muitos outros países participaram na guerra. Uns porque se juntaram a um dos lados mesmo sem terem sido atacados. Outros, porque foram invadidos ou porque participaram de conflitos laterais. Em algumas nações (como a França e a Jugoslávia), a Segunda Guerra Mundial provocou confrontos internos entre partidários de lados distintos. O líder alemão de origem austríaca Adolf Hitler, führer (çídere) do Terceiro Reich, pretendia criar uma "nova ordem" na Europa, baseada nos princípios nazistas que defendiam a superioridade germânica, na exclusão ; e consequente extermínio ; de algumas minorias étnicas e religiosas, como os judeus e os ciganos, bem como deficientes físicos e homossexuais; na supressão das liberdades e dos direitos individuais e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas. Tanto a Itália quanto o Japão entraram na guerra para expandir seus territórios. As nações aliadas (como a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos) se opuseram aos planos do eixo. Estas nações, juntamente com a União Soviética, após a invasão desta pela Alemanha, constituíram a base do grupo dos aliados. ROTA TURÍSTICA DO DIA D Os cenários das batalhas ainda são quase os mesmos. A diferença está na paz, silêncio e construções intactas ; a maioria, restaurada. As estradinhas bucólicas continuam ladeadas por bocages, emaranhado de espinheiros e de matagal que formam uma barreira natural de proteção usada como esconderijo pelos soldados. As pistas de asfalto atravessam vilarejos cercados por fazendas feitas de pedra, com muros baixos, também de pedra, e castelos ducais. As pequenas e médias cidades têm suas exuberantes abadias, todas bem preservadas, além de restaurantes e lojinhas que justificam uma parada. A Normandia conserva também um dos maiores tesouros franceses, o Mont Saint-Michel, mosteiro do século 15 cercado pelo mar e um cinturão de muralhas e torres. Caen Não fica à beira-mar, mas tem um memorial com ótimo acervo do desembarque dos soldados aliados na Segunda Guerra Mundial. Também deram fama à Caen as igrejas erguidas durante o reinado de Guilherme, o Conquistador, no século 14. Os templos são sobreviventes da Segunda Guerra. Sofreram na Batalha da Normandia, em que britânicos e norte-americanos soltaram 22,5 mil toneladas de bombas, até a libertação de Paris, em 25 de agosto de 1944. Muitas dessas bombas começaram a cair sobre Caen enquanto os milhares de navios cruzavam o canal da Mancha no Dia D. O martírio de Caen durou 33 dias, até que os canadenses tomaram a margem esquerda do rio Orne, em 9 de julho de 1944. As bombas e os disparos de artilharia mataram ao menos 2,3 mil civis em Caen. Nove mil imóveis foram arrasados e outros quatro mil danificados, de um total de 15 mil. Mais de 70% da cidade foi destruída. Bayeux Distante 276 km de Paris, tem cerca de 2 mil habitantes e fica a apenas 10km de algumas das praias do Dia D. Foi a primeira cidade francesa a ser libertada pelos aliados após a travessia pelo Canal da Mancha. Também é conhecida pela tapeçaria que leva o seu nome, uma obra feita em bordado, datada do século 12. Produzida na Grã-Bretanha para comemorar os eventos da batalha de Hastings (14 de Outubro 1066) e o sucesso da Conquista Normanda da Inglaterra, levada a cabo por Guilherme II, Duque da Normandia. A peça mede cerca de 70m de comprimento por 50cm de altura. O trabalho de bordado representa 58 cenas que retratam a caminhada de Guilherme desde a Normandia, passando pelo desembarque de 28 de Setembro e a batalha de Hastings, até à sua coroação como rei de Inglaterra em 1066. La Cambe Em La Cambe fica o cemitério alemão, onde estão enterrados 20 mil soldados, é relativamente pequeno e sombrio, com cruzes de bronze, e dominado pelo Monumento ao Soldado Desconhecido. Omaha Na rota do Dia D, há inúmeros cemitérios. De soldados aliados, de soldados alemães, de judeus. Mas nenhum atrai tantos visitantes quanto o da praia de Omaha, onde há 10 mil cruzes brancas. Uma para cada soldado norte-americano morto em combate. A maioria perdeu a vida em 6 de junho de 1944, o Dia D, como pode ser constatado nas pequenas placas, que além da data da morte traz o nome e local de moradia da vítima.
PARA VER Band of Brothers Aclamada minissérie de televisão lançada pela HBO em 2001, co-produzida por Tom Hanks e Steven Spielberg. Dividida em 10 episódios, se baseia no livro de mesmo título, da autoria de Stephen E. Ambrose. Narra a história da Companhia E (Easy Company) do 506º Regimento de Infantaria Pára-quedista do Exército Americano, 101ª Divisão Aerotransportada, na sua campanha na Segunda Guerra Mundial. Tal companhia participou da invasão dos exércitos americano e inglês na Normandia, no Dia D. Destaca-se, dentre vários motivos, pelos esforços em sua ambientação e veracidade. Para reproduzir com maior fidelidade os campos de batalha, foram necessários mais de 10 mil atores extras, cerca de 700 armas autênticas, 400 armas de borracha e cerca de 14 mil caixas de munição em cada dia de filmagem. Ike: O Dia D (Ike: Countdown to D-Day) Filme norte-americano lançado em 2004 e dirigido por Robert Harmon. Conta a história dos 90 dias que antecederam a invasão da Normandia, em 6 de junho de 1944. Enfatiza as decisões estratégicas e relações políticas de Dwight Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas para batalhas européias. Dwight "Ike" Eisenhower é interpretado por Tom Selleck e a grande qualidade da película é demonstrar o drama de um homem com o poder de colocar milhões de vidas em risco, bem como as dificuldades de organizar diferentes estratégias militares em uma mesma operação. O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan) Filme norte-americano de 1998, dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Tom Hanks no papel do capitão John Miller e Matt Damon como o soldado Ryan. Famoso pelas cenas realistas cenas de batalha e inspirado numa história real. Recebeu cinco Oscars e um Globo de Ouro; também faturou US$ 479 milhões e é uma das 50 maiores bilheterias da história. Começa e termina no cemitério militar de Omaha. Ele retrata a saga de um grupo de militares na busca por um soldado paraquedista em meio à linha de frente na guerra contra os nazistas. O Mais Longo dos Dias (The Longest Day) Longametragem norte-americano de 1962, dirigido por Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wicki e Darryl F. Zanuck. Relata o ataque ocorrido em 6 de junho de 1944, conhecido como o Dia D, que desbancou o domínio nazista na Europa e marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial. A ofensiva foi uma das mais ousadas e sangrentas estratégias militares da era moderna. Vencedor do Oscar 1963 nas categorias de melhor fotografia em preto e branco e melhores efeitos especiais.

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