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Entrevista: para analistas, teste nuclear de Pyonyang é desafio ao mundo

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postado em 26/05/2009 07:50
O sul-coreano Jing-dong Yuan é diretor do Programa de Não-Proliferação do Leste da Ásia do Institulo Monterey de Estudos Internacionais, com sede na Califórnia. O norte-americano Stephen Schwartz edita o jornal The Nonproliferation Review e foi diretor executivo do Bulettin of the Atomic Scientists. Em entrevista ao Correio, eles falaram sobre a repercussão do teste nuclear realizado na manhã de ontem pela Coreia do Norte. Que nível de ameaça representaria a explosão de uma bomba de até 20 kilotons, por parte da Coreia do Norte? JING-DONG YUAN: Eu acho que o significado desse teste é duplo. Em primeiro lugar, é um desafio de Pyongyang à objeção da comunidade internacional a tais ações e especialmente à Resolução 1.718 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), aprovada depois do teste de outubro de 2006. Em segundo lugar, ele demonstra que a Coreia do Norte continua a modificar e melhorar sua capacidade nuclear e se move na direção de desenvolver ogivas nucleares. STEPHEN SCHWARTZ: Apenas uma autoridade, na Rússia, afirmou que a explosão foi de 10 a 20 kilotons. Todos, no momento, dizem que ela foi muito menor, entre 3 e 6 kilotons. A bomba que destruiu Hiroshima tinha 15 kilotons, então algo em torno de 10 a 20 kilotons seria relativamente grande para um país como a Coreia do Norte. Nós deveremos ter mais detalhes da Comissão Preparatória para a Organização de um Tratado Compreensivo de Proibição de Testes Nucleares em até dois dias (o órgão que gerencia o Sistema de Monitoramento Internacinal), com mais medições precisas do local e da ogiva. No momento, parece que o dispositivo era bem maior que o do primeiro teste em outubro de 2006, mas ainda menor que os testes anteriores realizados por outros países nucleares. Por que a Coreia do Norte decidiu realizar esse teste? JING-DONG YUAN: Para mandar uma mensagem ao novo governo de Barack Obama e para aumentar seu poder de barganha. Pyongyang esperava que a Casa Branca se mostrasse mais conciliadora, mas aparentemente Obama quer continuar com o processo de desarmamento nuclear. Também devem haver assuntos internos ; Kim Jong-il está assegurando sua posição e alinhando apoio ao filho mais jovem como seu sucessor. STEPHEN SCHWARTZ: Ninguém sabe ao certo porque a Coreia do Norte decidiu realizar o teste agora. Com base em análises de outros especialistas, creio que haja uma combinação de razões. A Coreia do Norte continua a buscar a atenção e a legitimidade de países nucleares como a Índia e o Paquistão, ambos testaram suas armas em 1998 (e no caso da Índia, a primeira arma foi testada em 1974) e rapidamente se livraram da condenação internacional, em contraste com a Coreia do Norte. Também há o tema da frágil saúde de Kim Jong-il e da possibilidade de uma luta pela sucessão no regime, uma batalha que os linhas-duras parecem estar ganhando. Mas a atitude de Pyongyang parece uma mudança brusca de humor, um acesso de fúria nuclear. Quais seriam as repercussões a essa explosão nuclear? Uma guerra estaria mais próxima? JING-DONG YUAN: Não acredito que haverá uma guerra. Nós podemos antecipar algumas ações no Conselho de Segurança da ONU nos próximos dias. Eu acho que todos sabem que a guerra não é a solução para esse assunto e poderia ter consequências devastadoras. STEPHEN SCHWARTZ: Não vejo esse último teste como uma mudança dramática, especialmente caso ele se mostre outro pequeno teste (possivelmente, um fracasso parcial). O teste em si não altera as preocupações de segurança. Haverá especulações sobre o Japão ou a Coreia do Sul aderirem à nuclearização de seus arsenais, mas há pouca chance de isso ocorrer. O principal assunto será se a China e a Rússia vão se aproximar dos Estados Unidos e parar de bloquear os esforços para lidar com a Coreia do Norte. De que modo a comunidade internacional precisa responder a esse teste nuclear? JING-DONG YUAN: Como a posição da Coreia do Norte já é de isolamento, Pyongyang não pratica muito intercâmbio comercial com o mundo. Por isso, qualquer sanção econômica não ajudaria a resolver a crise nuclear. Mas algo precisa ser feito, e o impacto de qualquer punição dependerá de como a Coreia do Sul e a China agirão. Ambos os governos sabem que o impacto sobre o povo coreano afetará a estabilidade da Península Coreana, o que fará com que eles enfrentem as consequências mais diretamente. STEPHEN SCHWARTZ: Eu temo que a comunidade internacional pouco possa fazer. Houve uma época em que a Coreia do Norte estava genuinamente interessada em desmantelar suas capacidades nucleares e se acomodar com seus vizinhos e o Ocidente, mas esse tempo já passou. E há pouco que o mundo possa fazer para punir a Coreia do Norte, que já está bastante isolada do mundo. Acima de tudo, a Coreia do Norte ansia por respeito e atenção, mas não parece desejar o reconhecimento, de facto, como uma potência nuclear. É preciso uma nova abordagem, mas é difícil prever como ela seria. Quase todas as abordagens não funcionaram ou obtiveram apenas resultados parciais. Negociações diretas com os EUA devem ajudar a reiniciar o relacionamento, mas o presidente Barack Obama estará sob bastante pressão. A opção militar não é realmente uma opção, já que pode apenas destruir algumas instalações e, inevitavelmente, vai impedir novas negociações e levar a uma Coreia do Norte ainda mais linha-dura (e, possivelmente, uma reação militar contra a Coreia do Sul).

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