Mundo

Entrevista Soren Peter Andreasen: "O Brasil não está entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas"

;

postado em 30/05/2009 07:00
O dinamarquês Soren Peter Andreasen dirigiu a produção do relatório do Fórum Humanitário Global. Cientista social do Dalberg Global Development Partners, ele afirmou ao Correio, por e-mail, que os governos precisam assinar um acordo global que limite as emissões de gases do efeito estufa. Também previu impactos consideráveis nas populações mais vulneráveis do planeta. Andreasen não considera o Brasil no topo da lista de risco, mas admite que o país já sofre os efeitos da mudança climática. Como os senhores chegaram aos números do relatório? Essas estimativas se baseiam em dois componentes principais: o primeiro são as projeções de impactos na saúde relacionadas à degradação ambiental provocada pela mudança climática. Elas se baseiam no estudo Carga global de doenças, da Organização Mundial de Saúde. Esses impactos serão a fonte da grande maioria das pessoas afetadas e das mortes em 2010. É bastante preocupante o aumento da desnutrição, diarreia e malária no mundo em desenvolvimento. O segundo é uma análise do aumento na frequência de desastres relacionados ao tempo, como enchentes e tempestades desde 1980. De que modo seria possível evitar uma catástrofe humanitária? O passo mais importante a ser tomado a longo prazo precisará ser dado pelos governos: a obtenção de um acordo para um tratado global que limite as emissões de carbono, durante a cúpula em Copenhague, em dezembro. Investimentos em políticas que protejam populações vulneráveis podem definitivamente também ajudar a lidar com esses problemas a curto prazo. Tais investimentos são quase sempre chamados de "adaptação climáticas", É possível estimar o número de pessoas desalojadas por causa das mudanças climáticas? Essa situação pode provocar um colapso econômico em alguns países que receberiam imigrantes? Uma estimativa das "pessoas desabrigadas pelo clima" sugere que mais de 25 milhões estão sem suas casas. A Organização Internacional sobre Migração divulgou hoje um relatório sugerindo que o número passará dos 200 milhões até 2050. Pelo menos 12 nações insulares do Pacífico introduziram uma resolução ; que deve ser aprovada na Assembleia Geral da ONU ; ligando as mudanças climáticas à segurança internacional. Algumas ilhas não serão mais locais viáveis, devido ao aumento no nível do mar. A escassez de água e a erosão costeira também podem forçar multidões a migrarem, potencialmente provocando tensões nos países de destino. Quais países sofrerão mais perdas econômicas, graças às mudanças climáticas? Uma significativa partilha dessas perdas impactará países que já são vulneráveis a doenças, pobreza e desastres. O Sul da Ásia e a África Subsaariana são particularmente vulneráveis. Mas os países desenvolvidos e as economias emergentes também estão expostos aos efeitos econômicos, particularmente onde os recursos hídricos são escassos e os grãos não são mais fontes viáveis de agricultura. A Austrália é uma exemplo de país que tem sofrido muito com a seca na última década. A Califórnia é outro exemplo de área exposta. Como o Brasil se apresenta nesse contexto? O Brasil não está entre os países mais vulneráveis. Mas o país está certamente exposto aos efeitos da mudança climática. As principais áreas expostas ao impacto humano da mudança climática incluem as lavouras, a escassez regional de água e doenças provocadas por vetores, como a malária. A mudança climática funciona como multiplicador dos desafios e riscos existentes para o desenvolvimento nessas áreas. Também há complexas relações entre os riscos provocados pela mudança climática e o desmatamento. Se a humanidade pretende evitar esse cenário de catástrofe, o que é necessário fazer? Os impactos humanos discutidos no relatório não são irreversíveis. Mas por um longo tempo nós teremos de aprender a como lidar com eles. Mesmo se as emissões de carbono forem reduzidas de modo significativo, os efeitos de aquecimento das emissões passadas permanecerão por décadas. A única solução viável a longo prazo é limitar as emissões. Durante a coletiva de imprensa no lançamento do relatório, Kofi Annan convocou todos os grandes emissores ; EUA e União Europeia ;, além de China, Índia e Brasil a unirem forças em um acordo climático global. A ligação entre crescimento e desenvolvimento sustentável foi destacada como um dos desafios atuais da comunidade internacional.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação