postado em 04/06/2009 10:52
PEQUIM - A China impôs medidas drásticas de segurança e um controle rígido da imprensa para evitar qualquer ato de homenagem nesta quinta-feira (4/6) ao aniversário de 20 anos da repressão do movimento pró-democracia da Praça da Paz Celestial (Tiananmen), ao mesmo tempo que rejeitou os pedidos de Washington de revisar o ocorrido.
O governo da China respondeu secamente os Estados Unidos pela sugestão de revisar o passado e publicar uma lista de vítimas, integrada por desaparecidos ou detidos após a repressão de 3 e 4 de junho de 1989. "Os Estados Unidos fazem acusações infundadas contra o governo chinês. Expressamos nosso profundo descontentamento", disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Qin Gang.
Em um comunicado, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu na quarta-feira ao regime chinês que divulgue um registro da repressão ao considerar que Pequim "deveria analisar abertamente as páginas obscuras de seu passado".
Centenas, talvez milhares, de manifestantes, estudantes e cidadãos solidários, morreram na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, depois que os tanques do Exército chinês invadiram as ruas de Pequim para acabar com sete semanas de reivindicações democráticas e pacíficas, qualificadas de "rebelião contrarrevolucionária" pelo regime comunista.
A China mantém a posição sobre o protesto da Praça da Paz Celestial e suas repercussões. "Sobre o incidente político que aconteceu no fim dos anos 80, o partido e o governo já apresentaram suas conclusões", declarou Qin Gang.
Esta posição inflexível das autoridades chinesas contrasta com as múltiplas manifestações ou cerimônias de recordação previstas em todo o mundo nesta quinta-feira, incluindo Hong Kong, onde são esperadas 100 mil pessoas para uma vigília.
A Praça Tiananmen, epicentro das manifestações que terminaram em banho de sangue, com entre 241 e milhares de mortos, de acordo com as fontes, estava aberta ao público nesta quinta-feira, mas em condições que revelavam uma tensão extrema.
Ao meio-dia, a maior e, provavelmente, mais vigiada praça do mundo estava dividida em zonas por centenas de policiais uniformizados e à paisana, que controlavam rigorosamente os visitantes com detectores de metal, inspeções das identidades e revistas de bolsas e mochilas.
Os jornalistas foram submetidos a algo inédito: obter uma autorização para visitar a Praça da Paz Celestial, o que impediu muitos jornalistas e correspondentes de fazer seu trabalho. O serviço de vídeo da AFP foi obrigado, inclusive, a apagar as imagens gravadas.
Este 20º aniversário da repressão, que terminou em tragédia nos arredores da Praça da Paz Celestial e outros bairros, traumatizando muitos chineses e surpreendento o mundo, não foi marcado por nenhum ato público na capital.
No bairro de Muxidi (zona oeste), onde muitos manifestantes morreram na ação do Exército, a forte presença policial não permitia nenhum tipo de ação simbólica. Dezenas de dissidentes foram levados para fora de Pequim ou ficaram confinados em suas casas pelas autoridades.
O regime comunista também trabalhou para evitar a presença do tema tabu na internet: serviços como o Bing, a ferramenta de buscas da Microsoft, o Hotmail e a rede social Twitter foram bloqueados.
A imprensa chinesa permaneceu em silêncio, com exceção de um único jornal, em língua inglesa, com uma nota prudente sobre o aniversário.