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Estados Unidos e Israel acompanham com apreensão o resultado das eleições no Líbano

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postado em 07/06/2009 09:26
Três dias depois de o presidente Barack Obama ter pronunciado no Cairo o discurso no qual propôs reconciliação ao mundo islâmico, a política externa do novo governo norte-americano estará em questão no Líbano. A eleição deste domingo (07/06) para renovar o Parlamento libanês, segundo o complexo e controverso sistema político-eleitoral que distribui poder entre as comunidades religiosas, tem desdobramentos potenciais para todo o Oriente Médio. As projeções são arriscadas em uma disputa decidida distrito por distrito, mas os observadores coincidem em que dificilmente sairá das urnas uma maioria consistente para algum dos dois blocos que dividem atualmente o governo: a Aliança 14 de Março, majoritária e pró-ocidental, e a Coalizão 8 de Março, encabeçada pelo Hezbollah (Partido de Deus, pró-iraniano). Mas é considerável a chance de que este se torne determinante para a formação do próximo governo.

;Os libaneses são suficientemente inteligentes para compreender que isso afetará as relações (com os Estados Unidos);, disse o secretário de Estado adjunto para o Oriente Médio, Jeffrey Feltman, comentando sem reservas a hipótese de ver uma organização que a Casa Branca classifica como terrorista em posição predominante na fronteira norte de Israel. ;Espero que os libaneses se perguntem se querem estar ao lado da comunidade internacional e próximos às posturas do presidente Obama;, completou Feltman.

É ainda mais sombria a avaliação do especialista em Oriente Médio, Elliot Abrams, que foi assessor especial de política externa do ex-presidente George W. Bush e auxiliou também o governo de Ronald Reagan. ;Uma vitória do Hezbollah seria um desastre para a democracia libanesa, pois permitiria a eles combinarem terrorismo e poder militar com uma posição majoritária no Parlamento;, disse Abrams em entrevista por e-mail ao Correio. ;Nas capitais do mundo árabe, isso será percebido como uma ampliação da influência do Irã e colocaria a Síria ainda mais na órbita de Teerã;, completou o analista, que atualmente integra a equipe do Conselho de Relações Exteriores, uma espécie de laboratório político do Departamento de Estado.

A preocupação é ainda mais próxima em Israel, que há pouco menos de dois anos travou uma breve guerra não declarada com o Hezbollah na zona de fronteira. ;Se eles tiverem de fato maioria, sem dúvida vão querer formar o governo ou influir decisivamente na composição;, arrisca, também em entrevista por e-mail, o especialista em contraterrorismo Ely Karmon, do Centro Interdisciplinar de Herzliya, um instituto independente que produz estudos para o governo israelense. ;A questão será até que ponto eles seguirão uma política de ;iranização; do Líbano;, diz Karmon. Colocando em perspectiva a evolução política e demográfica do país vizinho, onde a comunidade xiita é hoje a mais numerosa caminha para tornar-se majoritária entre a população, ele traça um paralelo com a trajetória do movimento extremista palestino Hamas, que ganhou terreno progressivamente sobre os nacionalistas do partido Fatah e acabou tomando pela força o poder na Faixa de Gaza ; o que resultou, para Israel, em outra guerra-relâmpago, no início deste ano.

Estratégia

A julgar pelo que disse em campanha o secretário-geral do Hezbollah, o xeque Hassan Nasrallah, o plano não é seguir os passos do Hamas. No discurso que fez por videoconferência para uma multidão reunida em Beirute, no encerramento da campanha, Nasrallah (nome árabe que significa ;vitória de Deus;) renovou o compromisso de procurar os adversários para compor um governo de união nacional. A aparente moderação pode esconder uma estratégia de médio e longo prazo, capaz de representar uma armadilha para os EUA e seus aliados libaneses. Ao longo do debate eleitoral, o xeque abordou o ponto crítico da instabilidade política no país, e propôs um debate nacional sobre a revogação do sistema confessional de divisão de poderes. Consciente da força numérica de seus fiéis, o Hezbollah apropriou-se do conceito norte-americano e ocidental da democracia: os eleitores se pronunciam e vence o partido que conquistar mais votos.

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