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Eleições no Irã e no Líbano obriga Obama a reforçar ofertas de diálogo

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postado em 14/06/2009 10:15
Nas duas últimas semanas, Barack Obama não pregou os olhos diante da possibilidade de mudanças no Oriente Médio. Ciente de que as eleições no Líbano e no Irã poderiam significar um novo horizonte para as relações com a região, o presidente dos Estados Unidos se antecipou e ofereceu ao mundo islâmico uma aproximação, em discurso no Cairo. Também agilizou encontros de seu enviado especial para a região, George Mitchell, com autoridades no Egito, em Israel, nos territórios palestinos e na Jordânia. Mas, apesar de toda essa movimentação, especialistas acreditam que os resultados obtidos nas urnas em pouco favoreceram a abertura ao diálogo entre os EUA e a ala radical do Islã, representada pelo governo do iraniano Mahmud Ahmadinejad e pelo partido xiita libanês Hezbollah. Na última sexta-feira, antes mesmo de confirmada a reeleição de Ahmadinejad no Irã, Obama tentou se garantir mais uma vez, declarando que o ;intenso debate; provocado no país por conta do processo eleitoral já era, por si só, positivo. ;O fato de que tenha ocorrido esse debate dá esperanças de que um engajamento será mais fácil por outras vias;, afirmou o presidente. Para a Casa Branca, no entanto, melhor teria sido uma vitória do candidato moderado Mir Houssein Moussavi, que já havia expressado a intenção de aceitar uma aproximação com Washington. ;Se Moussavi tivesse vencido, poderia ser criada uma abertura para o diálogo com os Estados Unidos. Já a continuação de Ahmadinejad será um grande obstáculo para as relações EUA-Irã;, avalia o especialista em Oriente Médio do Conselho de Relações Exteriores (CFR) Mohamad Bazzi, em entrevista ao Correio. Bazzi, contudo, lembra que o presidente não é a figura política mais poderosa no Irã. ;O líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, continuará ditando a política sobre as questões mais importantes, tais como o envolvimento com os Estados Unidos e desenvolvimento nuclear;, afirma. Para Mark Katz, professor de Relações Internacionais da Universidade George Mason, essa constatação é o que traz um pouco mais de otimismo a Washington. Segundo ele, é mais fácil haver uma mudança na instância acima de Ahmadinejad do que com o próprio presidente reeleito. ;Só o fato de um candidato como Moussavi ter tido a permissão (do Conselho dos Guardiões) para concorrer à presidência pode ser uma indicação de que o líder supremo está pronto para algo como uma détente (distensão);, arrisca. O cenário no Líbano também não foi substancialmente alterado pelo resultado das eleições. O partido xiita pró-iraniano Hezbollah, que os EUA classificam como ;grupo terrorista;, não conseguiu derrotar a coligação pró-Ocidente. Mas a coalizão que ele encabeça continuará com 45% das cadeiras no Parlamento, além da enorme influência política que exerce no país e do poderio bélico superior ao do próprio Exército libanês. De olho nessa perspectiva, Obama enviou Mitchell a Beirute, na última quinta-feira, para oferecer mais ajuda militar e dinheiro a programas de desenvolvimento que possam minar o apelo do Hezbollah. O governo norte-americano sabe que manter uma boa relação com o Líbano ; e tentar fazê-lo com os radicais xiitas ; é fundamental para avançar o processo de paz. Para Katz, entretanto, a visão de Washington deve considerar uma estratégia de ;reação em cadeia;. ;Se o Irã, que apoia o Hezbollah, se mobilizar para avançar nas relações com os EUA, então o grupo do Líbano deverá fazer o mesmo;, considera. A perspectiva, porém, é melhor em relação a outros obstáculos na região. O grupo radical Hamas, que mantém o poder na Faixa de Gaza, por exemplo, parece ter recebido com boa vontade as palavras de Obama no Egito. ;É um discurso cheio de cortesia e de diplomacia suave, diferente dos presidentes anteriores dos Estados Unidos;, disse o porta-voz do Hamas em Gaza, Fawzi Barhum. Evidentemente, o grupo mantém ressalvas a Washington, mas a declaração não nega um certo avanço na relação. ;Apesar da oposição de conservadores dentro do país e de fundamentalistas fora, não há dúvida de que Obama teve sucesso em seu objetivo de ;apertar o botão; para reiniciar as relações dos EUA com os quase 50 países de maioria muçulmana;, destaca Juan Cole, especialista da Universidade de Michigan. Obstáculos de peso O presidente americano discursou no Cairo propondo a reconciliação dos EUA com o mundo árabe e islâmico, mas não faltam obstáculos a sua política para o Oriente Médio: Hamas As palavras amistosas de Obama não convenceram os radicais islâmicos palestinos. Embora os líderes do Hamas tenham considerado o discurso ;diferente; do praticado pelos antecessores, querem que o presidente americano reconheça como legítimo o governo do Hamas na Faixa de Gaza e exija com voz firme o fim do bloqueio imposto por Israel ao território. Hezbollah O partido xiita pró-iraniano libanês criticou o tom de ;sermão; usado por Obama. Eles querem que os EUA condenem a ;agressão israelense; na região e retirem suas tropas do Iraque e do Afeganistão. Mesmo tendo perdido as eleições de última semana, o Hezbollah é militarmente mais poderoso que o próprio governo e recusa a ideia de se desarmar. O governo americano inclui o Hezbollah em sua lista de grupos terroristas. Israel O atual premiê, Benjamin Netanyahu, diverge de Obama em questões fundamentais sobre o processo de paz. Enquanto para o presidente americano é imprescindível que Israel freie a colonização nos territórios ocupados e aceite a criação de um Estado palestino, Netanyahu está mais interessado no apoio de Washington contra o Irã. Além disso, não gostou de ver Obama considerar a legitimidade do Hamas e reconhecer a ;situação; dos palestinos. Iraque Assim que assumiu, o presidente americano anunciou a retirada parcial das tropas americanas do Iraque até 31 de agosto de 2010. Depois dessa data, apenas um contingente reduzido ficaria no país. Entretanto, é preciso garantir o mínimo de segurança no território iraquiano e a capacidade das forças de segurança locais de lidar com a violência. Afeganistão e Paquistão Obama sabe que o principal desafio para sua política externa está no Afeganistão, e não no Iraque. Segundo Washington, a situação no país se deteriorou rapidamente nos últimos dois anos ; quadro que os EUA pretendem reverter com o envio de mais 21 mil homens. A violência, no entanto, atravessou a fronteira, com o fortalecimento também dos talibãs no Paquistão. Osama bin Laden Além de conter a violência no Afeganistão, Obama sabe que tem uma missão particular contra o líder da rede terrorista Al-Qaeda. As autoridades americanas acreditam que o líder extremista esteja no Paquistão, o que limita as ações dos EUA e os torna dependentes do apoio de Islamabad. Segundo a CIA, a Al-Qaeda, que ;continua sendo a mais grave ameaça; para os EUA, planeja mais ataques contra o país. Irã Os EUA não têm relações diplomáticas com Teerã desde 1980. No governo de George W. Bush, o regime iraniano foi considerado um dos pilares do ;eixo do mal;. Antes mesmo de tomar posse, Obama ofereceu abertura para o diálogo, mas uma possível aproximação é muito mais complicada do que parece. O regime iraniano não abre mão de seu programa nuclear. Teerã ainda representa uma grande ameaça para países aliados dos EUA, como Israel e Arábia Saudita.

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