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Brasileiros descobrem variante do vírus H1N1

Cientistas do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, realizam o sequenciamento genético do microorganismo. Cepa não é mais letal

postado em 17/06/2009 08:27
O projeto envolveu entre 15 e 20 cientistas brasileiros. Foram usados microscópios eletrônicos de última geração, capazes de ampliar a imagem de um microorganismo em até 1 milhão de vezes. Os especialistas se debruçaram então sobre o vírus H1N1 retirado da secreção respiratória de um paciente de 26 anos que apresentou os sintomas da gripe suína ao retornar de uma viagem ao México. Em 24 de abril, o rapaz foi internado com a doença no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Dos laboratórios do Instituto Adolfo Lutz, entidade subordinada à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, os especialistas anunciaram ontem que detectaram naquela amostra uma variante diferente do H1N1, dotada de leve mutação. O ;novo vírus; recebeu então o nome de A/São Paulo/1454/H1N1. Pela primeira vez, o Brasil conseguiu isolar e realizar o completo sequenciamento genético do vírus que já infectou 35.928 pessoas ; inclusive 79 brasileiros ; em 76 países e matou 163 . Em entrevista ao Correio, por telefone, Clélia Aranda, coordenadora de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo e responsável pela pesquisa, afirmou que o processo de isolamento já era de domínio do Instituto Adolfo Lutz, membro de uma rede laboratorial mundial de detecção de vírus influenza. ;Nós ainda não tínhamos uma caracterização do vírus pandêmico H1N1 no Brasil, mas apenas um perfil parcial da matriz identificada na Fiocruz. Agora, podemos determinar qual é o tipo de vírus que existia em um brasileiro, participar do mapeamento genético no mundo e comparar nossa variante do H1N1 com aquelas caracterizadas em outros países;, explicou. ;Ao contrapormos nossa amostra à do vírus H1N1 inicial, chamado de ;Califórnia;, percebemos um pouco de mutação.; De acordo com Clélia, as mutações já eram esperadas, dado o próprio comportamento do H1N1. ;Essa primeira identificação não apontou uma maior virulência. Trata-se de uma mutação pequena;, garantiu a cientista. Ao ser transmitido entre pessoas, o influenza se desenvolve nas células, a fim de se multiplicar, e produz ;cópias; nem sempre totalmente idênticas. O Instituto Adolfo Lutz tem buscado isolar as cepas após a confirmação de casos positivos da doença. Diante do surgimento do A/São Paulo/1454/H1N1, Clélia não vê motivos para pânico. ;As medidas que adotamos até agora serão mantidas. Não há necessidade de modificação. O que temos é um avanço, pois poderemos comparar outros possíveis vírus isolados no território brasileiro.; Método O estudo atual contemplou a identificação das bases do H1N1 e o sequenciamento dos genes do microorganismo, por meio de equipamentos. O primeiro passo foi submeter a amostra de secreção respiratória à reação da polimerase em cadeia em tempo real (PCR). A técnica consiste em produzir várias cópias de um determinado fragmento gênico. Por meio dela, o biólogo molecular Claudio Macchi e sua equipe constataram que se tratava de um novo subtipo viral. O isolamento foi realizado em abril pela virologista Terezinha Maria de Paiva. ;O que fizemos foi cultivar o H1N1 nas células, até que ele crescesse, se desenvolvesse e se reproduzisse. Depois, fizemos o sequenciamento genético;, afirmou Clélia. No Departamento de Microscopia Eletrônica do Adolfo Lutz, os cientistas Marli Ueda e Jonas Kisielius identificaram várias partículas do vírus a partir da cultura infectada. Eles usaram um microscópio de US$ 650 mil, capaz de mostrar até estruturas internas do vírus. Durante o processo de sequenciamento genético da nova cepa, os especialistas se concentraram nas sequências nucleotídicas completas de dois segmentos de genes: o 4 (codificador da proteína Hemaglutina e responsável pela virulência) e o 7 (codificador das proteínas da matriz). A análise molecular revelou que o segmento 4 ; para o qual são produzidos anticorpos protetores ; apresentou um número discreto de alterações nucleotídicas e de amino-ácidos, com taxas de similaridade em torno de 99,7% e 99,5%, respectivamente, em relação ao H1N1 ;Califórnia;. ;Essa caracterização é uma linha de base para compararmos com os próximos isolamentos. Aí teremos condições de responder se existem diferentes estirpes do H1N1 no Brasil;, comentou Clélia. ;Tudo nos leva a crer que o desenvolvimento da vacina anunciada pela Novartis vá proteger contra a caracterização feita por nós;, concluiu. Ouça Clélia Aranda, responsável pelo isolamento e sequenciamento genético do vírus H1N1

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