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Entrevista: Técnica simplifica diagnóstico do mal de Alzheimer

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postado em 18/06/2009 11:50
O canadense Hyman Schipper, neurologista da Universidade McGill (em Montreal), desenvolveu uma técnica que simplifica o diagnóstico do mal de Alzheimer, doença que compromete a memória, ao provocar a perda de neurônios. Em entrevista exclusiva ao Correio, ele contou como o teste por meio do sangue poderá detectar indícios de Alzheimer antes mesmo dos sintomas iniciais. Qual é o nível de eficácia do novo método de detecção do mal de Alzheimer? Nós obtivemos 75 microlitros de sangue venoso de pacientes com mal de Alzheimer em estado precoce, com enfraquecimento médio da memória -- estado intermédio entre a cognição normal e a demência por mal de Alzheimer -- e com idosos saudáveis. Nós processamos as amostras em uma centrífuga para obter o componente do plasma. Usando um espectroscópio infravermelho, irradiamos as amostras com luz e conseguimos o espectro (sinais) em uma gama próxima ao infravermelho do espectro de luz. Então, nos focamos em cinco larguras de banda representando componentes químicos no plasma, que são conhecidos por terem sido modificados pelo estresse oxidativo. O estresse oxidativo já havia sido mostrado aumentado no cérebro e no sangue de pacientes com mal de Alzheimer. Usando esse método, observamos importantes diferenças entre os indivíduos com mal de Alzheimer e os idosos do grupo de controle. A sensibilidade de nosso teste (a correta identificação do mal de Alzheimer) foi de 80% e a especificidade (correta identificação da ausência do mal de Alzheimer) foi de 77%. Alguns de nossos pacientes do grupo controle foram registrados como "portadores de Alzheimer" em nosso teste, indicando que a análise pode ter sido capaz de identificar estágios pré-clínicos da demência. Quais as vantagens da nova técnica, em comparação aos diagnósticos atuais? O único biomarcador confiável de mal de Alzheimer envolve a medição de peptídeos de amiloide e de fósforo na proteína tau no fluido cerebroespinhal. Mas o exame é consideravelmente mais invasivo que um sistema teste e não ajustável ao monitoramento em massa de idosos com perda de memória. Nosso teste requer ; ínfimos volumes de sangue venoso e é minimamente invasivo, além de permitir acompanhar uma ampla gama de populações em risco. De que modo essa técnica mudará a forma com que a medicina olha o mal de Alzheimer? Se nossas descobertas forem validadas em amplas populações de pacientes com Alzheimer, o teste poderá revolucionar o modo pelo qual diagnosticamos a doença. Os testes poderão estar disponíveis em clínicas e hospitais de todo o mundo. As vantagens do nosso teste incluem: 1) diagnóstico em pacientes incapazes de se submeterem a uma avaliação clínica para demência (por exemplo, portadores de grave depressão, confusão mental causada por infecção ou desordem metabólica; ou coma). Também, seremos capazes de usar o teste para prognosticar (prever) quais pacientes terão demência incipiente e quais permanecerão saudáveis nos próximos anos. Quando essa técnica estará disponível em hospitais ao redor do mundo? A tecnologia tem sido licenciada à Universidade McGill pela Molecular Biometrics Inc. Este primeiro produto é o uso de bioespectroscopia para a fertilização in vitro (seleção de embrião). As aplicações neurodegenerativas são a próxima linha para desenvolvimento. Em primeiro lugar, haverá a necessidade de documentar nossas descobertas em amplas parcelas de pacientes com Alzheimer e idosos saudáveis. Então, levaremos o teste ao mercado. Se tudo correr bem, acreditamos que o teste estará disponível por volta de 2011 ou 2012.

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