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Sonda da Nasa detecta traços de lago em Marte

Cientista italiano descobre depósitos de sedimentos comuns em deltas de rios. Achado reforça hipótese de que Planeta Vermelho abrigou vida

postado em 19/06/2009 08:01
Cientistas da Universidade do Colorado em Boulder (Estados Unidos) conseguiram uma prova cabal de que um imenso lago existia na superfície de Marte. Há 3 bilhões de anos, o reservatório de água se estendia pela região de Shalbatana Vallis ; um vale com mais de 1.300km de comprimento, situado na região equatoriana do Planeta Vermelho. Tinha pelo menos cinco vezes a área do Lago Paranoá, era quase 10 vezes mais profundo e permaneceu intacto por alguns milhares de anos até secar. O geólogo italiano Gaetano Di Achille, responsável pela descoberta, visualizou a primeira pista do lago em 2007, utilizando imagens feitas pela Câmera Estéreo de Alta Resolução (HRSC, pela sigla em inglês), a bordo da sonda Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA). Mas a margem do lago só pôde ser detectada alguns meses atrás, quando o Experimento Científico de Imagens de Alta Resolução (HRSIE) orbitou Marte a uma altitude de 320km, por meio da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa (agência espacial americana). ;Essa câmera nos permitiu detectar objetos de até um metro na superfície marciana. Com os dados em mãos, finalmente confirmamos a existência do lago, ao detectarmos a antiga linha costeira;, contou Gateano, por e-mail, ao Correio. ;As pistas do lago são representadas pela presença de poucos depósitos de sedimentos deltaicos, que se formam na Terra quando um rio invade um corpo de água permanente;, acrescentou Gaetano, citando, como exemplos, os deltas dos rios Nilo e Mississippi. ;Com os dados em alta resolução, encontramos as antigas linhas costeiras do lago sobre a superfície desse delta marciano;, explicou o autor da pesquisa. A água esculpiu um cânion de 48km de comprimento, que desembocou no vale. Para o geólogo italiano, se Marte alguma vez abrigou vida, certamente os sedimentos do antigo lago são candidatos a uma investigação futura sobre assinatura biológica. ;Na Terra, sedimentos de lagos e deltas são os melhores coletores e preservadores de sinais de vida no passado. O material encontrado no lago pode ter enterrado esses indícios;, sugere o cientista. Um fato intriga os especialistas: o lago se formou durante uma época na qual acreditava-se que Marte tinha uma superfície fria e seca. Gaetano afirmou à reportagem que, definitivamente, as características vistas no Shalbatana Vallis são análogas às formas geográficas relacionadas ao fluxo de água na Terra. ;Esse lago durou pelo menos milhares de anos. Ali, a vida pode ter surgido em uma forma bastante simples;, aposta. O cientista acredita ser possível que o lago tenha arrastado materiais biológicos das redondezas, por meio da erosão. Nesse caso, formas vivas teriam sido fossilizadas no solo do antigo lago. Conceitos A descoberta pode mudar conceitos geológicos sobre a existência de água no planeta situado a cerca de 54,6 milhões de quilômetros. ;Pela primeira vez, vimos claramente indícios de linhas costeiras antigas, o que confirma que havia água em Marte;, comenta Gaetano. Até então, era consenso entre os astrônomos e geólogos o fato de que o líquido desapareceu de Marte 3,7 milhões de anos atrás. ;Mostramos que esse lago se formou centenas de milhões de anos além daquele limite, sugerindo que as condições para a existência de água no planeta possam ter durado mais do que imaginávamos.;

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