postado em 19/06/2009 16:41
O guia supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, defendeu nesta sexta-feira a legitimidade da reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad: "o povo escolheu quem queria" na semana passada; e exigiu o fim dos protestos contra os resultados do pleito.
Advertiu que não cederá ao movimento nas ruas e responsabilizou o "extremismo" da oposição por qualquer ato de violência.
Em pregação na Universidade de Teerã, na primeira aparição pública depois de uma semana de grandes manifestações, a personalidade mais importante do Irã excluiu a possibilidade de fraude em grande escala que pudesse alterar o resultado do pleito, e lembrou a participação popular excepcional de 85% nas eleições de 12 de junho.
"O povo elegeu quem queria" e Ahmadinejad "recebeu 24,5 milhões de votos" (63%), disse Khamenei, para milhares de fiéis, entre eles o presidente, antes da oração de sexta-feira.
Os três candidatos derrotados, que não presenciaram o discurso de Khamenei, haviam denunciado centenas de irregularidades. O conservador Mohsen Rezai (1,73% dos votos) questionou nexta sexta-feira taxas "absurdas" de participação de 140% em algumas circunscrições.
O aiatolá Khamenei declarou na Universidade de Teerã que não hesitará em denunciar aqueles que escolhem outra via senão a de participar na festa eleitoral.
Khamenei expressou apoio a Ahmadinejad. "As opiniões do presidente são mais próximas das minhas que as de Akbar Hachemi Rafsanjani", declarou, em referência ao ex-presidente da República Islâmica, que apoiou o candidato moderado Mir Hossein Moussavi que, segundo os resultados oficiais, teria recebido 34% dos votos.
E criticou a atitude de países ocidentais.
"Os representantes de vários países que usavam até agora uma linguagem diplomática mostraram sua verdadeira face, em primeiro lugar o governo britânico", disse Khamenei durante seu sermão. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, chegou a afirmar que o Irã deveria responder as sérias perguntas levantadas com a reeleição de Ahmadinejad.
A oposição não reagiu imediatamente ao discurso de Khamenei.
Os partidários de Moussavi, no entanto, cancelaram pela primeira vez desde o início de seu movimento manifestação prevista para esta sexta, justamente na Universidade onde Khamenei fez o pronunciamento.
O governo, por sua vez, anunciou a proibição de outra manifestação prevista para o sábado, em Teerã.
A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional (AI) denuncia a morte de 10 pessoas nos protestos desta semana, revisando o número de 15 que havia informado anteriormente.
A rádio estatal iraniana informou sobre sete mortes nos protestos após as eleições da sexta-feira passada.
A advogada iraniana e Prêmio Nobel de la Paz, Shirin Ebadi, conclamou a comunidade internacional a "impedir que o governo iraniano atire contra o povo".
Os líderes da União Europeia (UE) pediram ao Irã que dê ao povo iraniano o direito de se reunir e se expressar, pouco depois do discurso do guia supremo.
"O Conselho Europeu pede às autoridades iranianas que garantam o direito de reunião e expressão pacífica para todos os iranianos e se abstenham de recorrer à força contra manifestações pacíficas", assinalam os chefes de Estado e de Governo dos 27 países da União Europeia (UE), reunidos em Bruxelas, em documento obtido pela AFP com antecedência.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, expressou nesta sexta-feira preocupação com o "número crescente de detenções", realizadas no Irã.