Veja vÃdeo de outro jovem baleado nos protestos
Às 16h de hoje (hora local), os manifestantes, vestidos com camisas pretas, ocuparão a Praça 7th Tir, situada no centro de Teerã, se sentarão no local e renderão uma homenagem à jovem assassinada. A maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica* de 1979 deixou 13 mortos, entre 17h e 22h de sábado. Milhares de eleitores de Mir Hossein Moussavi, candidato derrotado nas eleições, não se intimidaram e mediram forças ontem à noite com policias e milicianos. A situação obrigou o ex-premiê a pedir "prudência" aos partidários. Por sua vez, Ahmadinejad decidiu enfrentar o Ocidente e exigiu que os governos norte-americano e britânico parem de interferir nos assuntos internos do Irã. O ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, acusou o Reino Unido, a Alemanha, a França e a mÃdia ocidental de insuflarem os protestos. E prometeu "derrotar os inimigos". A cerca de três ruas do local onde Neda foi executada no sábado, Raad (nome fictÃcio), estudante de engenharia mecânica na Universidade de Teerã, viu seu grito ser sufocado pelos mesmos homens que mataram a moça. "Os sepah basij estavam batendo em todos. Havia uns 2 mil deles em 3 km de ruas ruas que se ligavam à Praça Enghelab. As pessoas foram até lá de metrô, carro ou a pé", conta ao Correio, por um software de videoconferência, o rapaz de 24 anos. "Nós nos sentamos na avenida. Contaram até três para que saÃssemos, mas não o fizemos. Foi então que atingiram o meu rosto com um cassetete e quebraram meu nariz. Quando fugimos, bateram em nossas costas e lançaram gás lacrimogêneo", acrescenta Raad, que não buscou ajuda no hospital por medo de ser capturado por um dos milicianos. Mehran G., de 26 anos, se recusa a aceitar Ahmadinejad como presidente. "Ele é um traidor do meu paÃs, um traidor da democracia", desabafa o iraniano, que faz uma viagem de negócios à Ãndia. "Meus familiares foram à s ruas. No próximo mês, quando eu voltar ao Irã, com certeza lutarei por nossos direitos", comenta, sem esconder o pessimismo. "Há 30 anos, tivemos a mesma situação. No meu Irã, a vida não tem muito valor", conclui. O paÃs que Ahmadinejad desejaria "varrer do mapa" saudou ontem a atitude de Mehran, Raad, Neda e tantos outros jovens iranianos. "Estamos diante de um regime que reprime seu próprio povo e semeia o terror. A verdadeira natureza deste regime foi desmascarada graças aos atos incrÃveis de coragem dos cidadãos iranianos", afirmou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, à rede de TV norte-americana NBC. Para o iraniano Nader Entessar, um cientista polÃtico da University of South Alabama, a situação no Irã demonstra que a "clara fissura" entre os grupos no poder atingiu um estágio crÃtico. "Ao apoiar Ahmadinejad, o aiatolá Khamenei tem se tornado menos um árbitro e mais um polarizador. Enquanto ele estiver no controle, a posição de Ahmadinejad estará segura. Mas se o controle de Khamenei começar a se enfraquecer, então a posição do presidente será menos sustentável", alerta. Ele não tem dúvidas de que a repressão sangrenta a demonstrações pacÃficas terá impacto a longo prazo na legitimidade do regime. "Ahmadinejad usa agora a retórica da confrontação, mas a relação entre Estados Unidos e Irã será decidida por um corpo liderado por Khamenei". *O REGIME DOS AIATOLÃS Movimento no qual fundamentalistas islâmicos e simpatizantes derrubaram o xá Reza Pahlavi do poder, sob o comando do lÃder religioso aiatolá Ruhollah Khomeini, entre 1978 e 1979. Os revolucionários desmantelaram a monarquia secular e estabeleceram a República Islâmica do Irã.