postado em 22/06/2009 08:38
O futuro de Ronald Biggs está nas mãos do ministro da Justiça britânico, Jack Straw. O italiano Giovanni Di Stefano, advogado do homem condenado pelo assalto ao trem pagador, recebeu na sexta-feira o sinal verde do Parole Board %u2014 painel independente criado em 1968 que tem a função de avaliar o risco representado por prisioneiros para decidir se podem ser libertados antes do cumprimento da pena. Se Straw seguir a decisão do órgão, Biggs será solto em 3 de julho. Em documento obtido com exclusividade pela reportagem, o Parole Board afirma ter analisado o caso em 15 de junho passado e considera "muito pobre" o estado de saúde do prisioneiro de Norwich. "Seu futuro risco tem sido profundamente afetado pelas deficiências fÃsicas", explica. "Os derrames que ele tem sofrido o privaram da fala e da habilidade de engolir. Ele se alimenta por tubos e se comunica por meio de gestos e de um painel com o alfabeto. Sua mobilidade é limitada", acrescenta o documento.
O Parole Board revela que Biggs foi colocado em um grupo de criminosos no qual 4% reincidem em dois anos, mas sustenta a baixa probabilidade de ele burlar a lei. Segundo o organismo, o britânico de 79 anos ficará em um asilo em Londres já identificado e aprovado pelas autoridades. "Ao levar em conta esses fatores, o painel está convencido de que o risco que ele representa é gerenciável e, consequentemente, recomenda sua liberdade", conclui.
Em entrevista ao Correio, o empresário e músico Michael Biggs, de 34 anos, afirmou que não vai celebrar a libertação de seu pai até que Straw assine a soltura. "Eu sou brasileiro e minha esperança é a última que morre", disse o ex-integrante do grupo Balão Mágico. "Sei que é impossÃvel o ministro contrariar a decisão do Parole Board, mas é o Biggs nessa história, né? E tudo pode acontecer".
Excessos
Mike acredita que a pena recebida pelo pai não condiz com o crime cometido e denuncia excessos. "Minha famÃlia passou provações muito ruins aqui. O Departamento de Imigração foi extremamente agressivo com minha mulher e minha filha, e eu fui expulso do Reino Unido quatro vezes", desabafa. "Um terrorista tem seis meses para apelar. Eu tive seis semanas. Foi o caso mais rápido de recusa dos direitos humanos na história do paÃs". De acordo com ele, o pai está esperançoso. "A gente quer ver a tinta no papel. Com a tinta lá, começaremos a celebrar".
Por sua vez, Di Stefano disse ao Correio que a libertação de Ronnie Biggs será o triunfo do senso comum. "Essa é minha maior vitória, já que o senhor Biggs vai ser solto cinco anos mais cedo do que ele teria sonhado", comenta. Segundo o advogado, que também representou o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, um dos bandidos mais famosos do Reino Unido viverá o resto de seus dias "com dignidade, compaixão e ao lado da famÃlia". Di Stefano conversou com o cliente na sexta-feira e garante que ele compreendeu a decisão do Parole Board.
O advogado confidenciou que foi mais difÃcil defender Biggs do que Saddam. Di Stefano teve de convencer o Ministério da Justiça a aplicar uma lei antiga, a fim de que o britânico fosse solto após cumprir um terço da pena de 30 anos, e não metade dela. "Foi duro porque o assalto ao trem pagador é um Ãcone da história criminal britânica", admite. Em 41 anos de história do Parole Board, jamais um ministro da Justiça se opôs à decisão do órgão.
Michael Biggs, filho de Ronald e ex-integrante do grupo Balão Mágico, fala sobre o caso