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Nova geração e censura oficial duelam na internet com notícias, imagens e mensagens que convocam protestos

postado em 23/06/2009 08:36
Mahkameh tem 21 anos e participou das últimas eleições para presidente no Irã, como 85% dos cidadãos em idade para votar - pode votar quem já tenha completado 18 anos. Questionada pelo Correio se acredita que houve erros na contagem dos votos, como alegam os opositores do presidente reeleito Mahmud Ahmadinejad, a jovem iraniana respondeu: "Você sabe que é perigoso falar sobre essa questão no meu país. Você pode ser um dos espiões que estão procurando pessoas que estão contra o governo". A resposta da nova geração tem a cara da modernidade: uma guerrilha cibernética, que por ironia atualiza o método pelo qual os aiatolás venceram a ditadura do xá Reza Pahlevi, há 30 anos. 1 [SAIBAMAIS]Em um país onde os jornalistas estrangeiros foram proibidos pelas autoridades de saírem de seus escritórios para cobrir as manifestações (proibidas) de rua, onde foi cancelada a renovação de vistos para os correspondentes, as novas ferramentas tecnológicas de comunicação se tornaram vitais para driblar a censura. Sites de relacionamento, como Facebook e Orkut, o YouTube e o serviço de microblogging Twitter estão sendo usados pelos iranianos para exercer a liberdade de expressão - e para convocar protestos no mundo real. "O Facebook está sendo filtrado aqui. Os jovens conseguem colocar vídeos na internet usando antifiltros", disse Mahkameh. O analista de redes Ricardo Fagundes Correa explicou à reportagem que para o bloqueio ser efetivo, o acesso à rede deve ser feito por um único local. "Na China, o acesso é único. Então, o governo consegue bloquear aquilo que entende que não deve ser visto", exemplifica. No caso do Irã, Ricardo afirma que o governo colocou bloqueios em apenas alguns provedores, o que deixa brechas. "Se houver algum provedor que passa por um local diferente, por um acesso diferente, sempre haverá uma forma de burlar", afirma. Caminhos As formas são muitas. Uma delas é utilizar sites de navegação anônima, como os criados por um doutorando em ciências da computação de Teerã, que pediu à reportagem para não ser identificado. Ele disponibilizou extensões para o Facebook pelo Firefox em maio, quando o site foi filtrado no Irã: "Todos os envios para o Facebook no país são encaminhados para um local inválido". Para Ricardo, o Facebook e o Google colaborarão com os manifestantes iranianos, "de forma que eles possam colocar outras extensões quando estiverem buscando o serviço deles, e consigam abrir o site". O analista brasileiro explica que os sites de navegação anônima eliminam a possibilidade de rastreamento do navegador usado. "Por exemplo, ele impede que sejam salvos cookies: o navegador, ao invés de fazer o acesso pela porta 80 (de recebimento e envio de dados do computador à rede), faz o acesso por uma outra porta, por meio de um servidor que pode estar na Europa, e a partir daquele servidor é feito o acesso ao site". Já o Twitter opera com várias formas de entrada, inclusive via celular, o que torna ainda mais difícil o bloqueio. Mesmo assim, a tradutora búlgara Neva Micheva, que dá apoio à guerrilha cibernética contra o regime islâmico, faz um apelo aos colegas de microblogging contra o que considera a "louca ditadura iraniana": "Se alguém estiver no Twitter, por favor, coloque seu local em Teerã e sua hora local em GMT 3.30". A tradutora explica que as forças de segurança estão "caçando" os blogueiros por origem e hora local. "Quanto mais gente usar Teerã como local, mais difícil será para as forças do governo fecharem o acesso dos iranianos à internet", esclarece Neva. O Facebook também possui um espaço para que o usuário conte aos demais "sobre o que está pensando". Uma cientista iraniana lembra palavras de Nelson Mandela: "Não há caminho fácil para a liberdade em lugar nenhum, e muitos de nós terão que passar pelo vale das sombras da morte, uma vez e outra, antes de alcançarmos o topo da montanha dos nossos desejos". Depoimento Verdade sob véu Nunca deixaram as pessoas saberem sobre os fatos e notícias reais sobre as manifestações. O fato é que milhões de manifestantes silenciosos em Teerã e outras grandes cidades se reúnem nas ruas todas as tardes e protestam contra o resultado das eleições. Eles acreditam que houve corrupção e fraude eleitoral e que o candidato da esquerda, Mir Hossein Moussavi, é o verdadeiro vencedor. Na semana passada, os manifestantes foram atacados pela polícia na capital e oito pessoas morreram em menos de uma hora. Desde que eles anunciaram os resultados fraudulentos, quase 35 pessoas já morreram de forma violenta nos protestos. Ahmadinejad e seu governo são apoiados pelo líder supremo, o aiatolá Khamenei. O líder insiste que os resultados estão certos e ele é quem dá a palavra final em todas as disputas no Irã. Infelizmente, a situação não vai bem. O autor é jornalista em Teerã e pediu para não ser identificado, por razão de segurança Passeata é dispersada Aos gritos de Allahu Akbar! ("Deus é grande", em árabe e farsi), centenas de homens e mulheres vestidos de negro reagiram ontem em Teerã às bombas de gás lacrimogêneo e tiros para o alto desferidos pela Guarda Revolucionária, força de elite do regime islâmico iraniano, leal ao líder religioso supremo, o aitolá Ali Khamenei. Os manifestantes, convocados por meio do Twitter - um site de relacionamentos da internet -, se reuniram nas praças Haft e Tir para homenagear a jovem Neda, morta no sábado. A imagem da estudante em agonia, com o rosto ensanguentado, deu a volta ao mundo pela internet. Os internautas acusam pelo crime o presidente Mahmud Ahmadinejad, cuja reeleição no último dia 12 foi considerada uma fraude pela oposição reformista. O regime endureceu a repressão às manifestações com intervenções violentas. No domingo, os pasdaran - como são chamados membros da guarda - prometeram usar %u201Cmétodos revolucionários%u201D para tirar de cena "os agitadores e todos os que violarem a lei". Por outro lado, os milicianos islâmicos atacaram com paus e barras de ferro os seguidores do candidato presidencial reformista, Mir Hossein Moussavi, que alega ter sido o vencedor legítimo e exige uma nova eleição. "Protestar contra as mentiras e a fraude é seu direito", defende o ex-primeiro-ministro em seu site na internet. Ontem, Moussavi pediu a seguidores que acendessem velas negras, em sinal de luto, e usassem braçadeiras verdes, a cor símbolo de sua campanha e dos protestos. Segundo uma rádio iraniana, a polícia já prendeu 457 pessoas e os hospitais afirmam que 19 iranianos morreram desde o início dos confrontos. Os carros que buzinavam nas praças em forma de protesto foram marcados pelos policiais com tinta, para que os motoristas fossem detidos mais tarde. Segundo Moussavi, essas "detenções em massa" criam um abismo entre a sociedade civil e o Exército. O líder da oposição ressaltou que sua luta %u201Cnão é contra os fundamentos%u201D da República Islâmica, mas "contra as mentiras". O Conselho dos Guardiães - órgão supervisor dos processos eleitorais e legislativos - reconheceu ontem que foram apurados mais votos do que eleitores em 50 dos 366 distritos eleitorais do país, mas considerou que o fato "não influiu" nos resultados. O líder religioso supremo, o aiatolá Khamenei, endossou a vitória de Ahmadinejad e determinou o fim das manifestações.

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