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Iraque denuncia silêncio dos árabes ante a violência contra os xiitas

BAGDÁ - O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, denunciou nesta quinta-feira (25/6), cinco dias antes da data prevista para a retirada das tropas americanas das cidades iraquianas, o silêncio dos países árabes e muçulmanos frente à multiplicação dos atentados cometidos contra os xiitas. "Pedimos à comunidade internacional, e principalmente aos países árabes e muçulmanos, que assumam uma posição clara frente a esses crimes hediondos, pois o silêncio não é mais aceitável", disse o premier em comunicado. Os sunitas são a corrente majoritária do Islã. Segundo as estimativas, o mundo muçulmano é formado por 87% de sunitas e 13% de xiitas. Os xiitas são majoritários no Irã e no Iraque. Em duas semanas, mais de 150 pessoas morreram em atentados perpetrados contra a comunidade xiita em várias cidades do país. Na noite de quarta-feira, 62 pessoas morreram na explosão de uma motocicleta no bairro pobre de Sadr City, na periferia de Bagdá. Nesta quinta-feira, duas pessoas morreram e outras 31 ficaram feridas em dois ataques, um com bomba e o outro com carro-bomba, na entrada e dentro da estação ferroviária do bairro de maioria xiita de Bayaa, no sudoeste de Bagdá. Sábado, no atentado mais mortífero em um ano e meio no Iraque, 72 pessoas morreram na província de Kirkuk, 250 km ao norte de Bagdá, quando um homem detonou seu caminhão abarrotado de explosivos no centro da cidade de Taza, onde mora uma comunidade de turcomanos xiitas. Maliki acusou, sem nomeá-lo, o mufti de Meca, xeque Adel al-Gilbani, um dos mais eminentes dignitários religiosos da Arábia Saudita - país que se considera como o feudo do sunismo -, de incentivar estes atos de violência. "Infelizmente, observamos um silêncio suspeito de muitos governos sobre as fatwas (decretos religiosos) que incitam ao ódio e à violência", disse o premier em comunicado. No início deste mês, Gilbani declarou à BBC que "os religiosos xiitas são renegados, e pode haver um debate para saber se todos os xiitas são ou não apóstatas". De acordo com o Islã, é permitido matar um renegado, e o autor do assassinato não pode ser processado. Governado pelos sunitas durante mais de 80 anos, o Iraque é dirigido pelos xiitas desde a queda de Saddam Hussein, em 2003. O Iraque não tem boas relações com a Arábia Saudita. O rei saudita Abdullah se negou pelo menos duas vezes a receber Maliki, a quem acusa de marginalizar a comunidade sunita. Para o premier iraquiano, "os takfiris (extremistas sunitas) e os simpatizantes do Baath estão por trás dos crimes terroristas de Sadr City e Bayaa". "Enquanto se aproxima o dia 30 de junho, data da retirada americana das cidades, a raiva dos autores da violência religiosa vai aumentando, e as pessoas que os incentivam propagando uma ideologia takfiri estão por trás dos terríveis massacres perpetrados contra os iraquianos nestes últimos anos", afirmou Maliki. "O plano deles é fomentar o caos, fazer fracassar o processo político e impedir o povo iraquiano de restabelecer sua soberania", insistiu.