postado em 30/06/2009 08:25
Um pequeno país da América Central está conseguindo mobilizar negociações continentais. A destituição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, provocou repúdio generalizado no âmbito interamericano e também da União Europeia - todos contra a solução golpista para um impasse institucional. A nomeação do presidente do Congresso, Roberto Micheletti, como governante provisório não teve reconhecimento internacional, nem mesmo da parte de Washington.
[SAIBAMAIS]"Os Estados Unidos trabalharam com nossos sócios na Organização de Estados Americanos (OEA) para obter um sólido consenso condenando a detenção e a expulsão do presidente Zelaya e pedindo a restauração plena da ordem democrática em Honduras", ressaltou ontem a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. As declarações demonstram a disposição do presidente Barack Obama para decisões negociadas com os demais países no continente, uma guinada na história das relações do país com a América Latina. No entanto, Hillary indicou que ainda não pensa em cortar a ajuda à promoção da democracia em Honduras.
O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, afirmou que o organismo só dialogará caso Zelaya seja reconduzido ao poder. "Não há lugar para militares golpistas", disse Insulza. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também foi veemente e destacou que não reconhecerá outro governo que não seja o de Zelaya. "É inaceitável. Temos que exigir a volta do governo eleito democraticamente, porque senão, daqui a pouco, vira moda outra vez", disse Lula, referindo-se ao ciclo de golpes militares que varreu a América Latina nos anos 1960 e 1970.
A Nicarágua foi ponto de encontro de três movimentos para o restabelecimento da ordem democrática em Honduras. O Grupo do Rio, integrado por 23 países latino-americanos, se reuniu liderado pelo presidente de turno, o mexicano Felipe Calderón. O Sistema de Integração Centro-americana (Sica) agrupou os países centro-americanos convocados pelo presidente costa-riquenho, Óscar Arias. E a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), sob a batuta do presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou a retirada da capital hondurenha, Tegucigalpa, dos embaixadores da Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador, San Vicente e Granadinas, Nicarágua, e Antigua e Barbuda.
A União Europeia também defendeu o respeito às instituições "eleitas democraticamente" em Honduras, e deixou em suspenso o acordo comercial com a América Central. A comissária europeia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, reúne-se hoje em Bruxelas com o um representante do governo hondurenho para examinar o futuro da associação comercial entre a UE e a América Central. Honduras, Costa Rica, Guatemala, Nicarágua e El Salvador pretendiam negociar o tratado entre 6 e 10 de julho.
Ameaças
Roberto Micheletti, presidente provisório de Honduras com respaldo do Congresso, começou a destituir o gabinete de Zelaya. Ontem, escolheu cinco novos ministros para as pastas de Relações Exteriores, Economia, Seguridade Social e Defesa, além de um novo diretor para a Empresa Hondurenha de Telecomunicações.
Micheletti colocou o país sob toque de recolher. A hondurenha Karen Lara reclamou ao Correio, pela internet, que ninguém pode sair de casa entre 19h e 6h. "Nós o chamamos de 'residente das 48 horas', porque nos impôs um toque de recolher com essa duração. Esperamos que também o derrubem nesse intervalo de tempo", desabafou. Ela também revelou que diversos sites de notícias foram bloqueados no país e que "os meios de comunicação atuam como se não estivesse acontecendo nada". Por outro lado, outra residente em Tegucigalpa, Barbara Cinco, criticou os meios internacionais por tratarem Zelaya como "um injustiçado", sem analisar "as ilegalidades cometidas", e avaliou que "a população está contente que Zelaya tenha sido tirado do país".
Em apenas um ponto as duas concordam: há poucos hondurenhos nas ruas, porque estão com medo de sair para se manifestar, seja por Zelay ou contra ele.