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Uribe reata parceria estratégica com EUA

No primeiro encontro com o novo governo norte-americano, presidente da Colômbia arranca declaração de apoio ao livre comércio e ao combate contra as drogas

postado em 30/06/2009 08:33
Quando ainda era senador e candidato do Partido Democrata à Casa Branca, Barack Obama não poupou críticas à ratificação, pelo Congresso, do Tratado de Livre Comércio (TLC) com a Colômbia. Ontem, porém, ao lado do colega colombiano, Álvaro Uribe, o presidente dos Estados Unidos se disse %u201Cconfiante%u201D de que os dois países terão em breve o acordo aprovado no Capitólio. A declaração veio logo após o primeiro encontro bilateral entre os dois chefes de Estado, em Washington, no qual Uribe reforçou a "imensa luta" contra o narcotráfico, o enfraquecimento da guerrilha esquerdista e o compromisso de seu governo com os direitos humanos dos sindicalistas. A aprovação do TLC com a Colômbia, defendida pelo governo de George W. Bush mas freada no Congresso pelos democratas, é atualmente o principal tema da agenda bilateral. O grande entrave para a ratificação do acordo é a oposição de grande parte dos parlamentares à dura repressão contra o movimento sindical no país sul-americano. Horas antes do encontro com Obama, no entanto, o presidente colombiano fez questão de lembrar que uma lei já existente garante a segurança dos sindicalistas no país, autorizando a aplicação de sentenças mais severas para assassinatos. O compromisso de Uribe, aliado ao pragmatismo de Obama - que sabe a importância de manter boas relações com Bogotá -, fez com que o tom fosse de otimismo ao fim da reunião. Segundo o presidente americano, permanecerão algumas "dificuldades claras", mas um acordo de livre comércio "será bom para os dois países". Obama disse já ter instruído o representante comercial dos EUA, Ron Kirk, a trabalhar com a equipe de Uribe para avançar na questão. "Durante sua campanha, Obama condenou fortemente a violência antissindical na Colômbia, mas agora ele sabe qual é a força do lobby ptó-TLC nos EUA, assim como a importância de manter um aliado próximo na América do Sul", observa Larry Birns, diretor do centro de estudos Council on Hemispheric Affairs. Na opinião do vice-diretor de Política no centro de pesquisas Interamerican Dialogue, Michael Shifter, o presidente americano também sabe o peso simbólico que a não ratificação do TLC pode ter na relação com outros países. "O governo Obama está consciente de que esse TLC se tornou um teste para avaliar seu comprometimento com o comércio mundial. Qualquer decisão sobre o tratado com a Colômbia será interpretada como um sinal indicando se Washington está ou não se tornando protecionista", avalia. Narcotráfico O livre comércio, porém, não foi o único assunto tratado na primeira viagem do colombiano a Washington na gestão Obama. O futuro do Plano Colômbia, lançado em 2000 para combater o narcotráfico, foi tratado não apenas no encontro com o presidente americano, como em uma reunião anterior com o diretor do Gabinete de Política Nacional de Fiscalização de Drogas dos Estados Unidos, Gil Kerlikowske. Na ocasião, Uribe pediu que a ajuda americana não seja reduzida, reafirmando a vontade de seu governo de erradicar toda a produção de drogas ilegais. Segundo ele, a redução do cultivo de folha de coca no país em 2008, apontada no último relatório (1) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tema, é um bom resultado, mas o governo deve ir além. Para Shifter, o Plano Colômbia não será "abortado" na administração Obama, mas há a possibilidade de que o nível de apoio diminua, ou que seja "transformado de uma questão de segurança para uma de assistência social". "O plano vem sendo aplicado por uma década e, mesmo não tendo sucesso em reduzir o problema das drogas, tanto na Colômbia quanto nos EUA, ele ao menos ajudou o governo colombiano a reafirmar alguma autoridade e melhorar a segurança". 1. ERRADICAÇÃO Segundo o relatório anual divulgado na última semana pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a área total de plantações de coca em território colombiano diminuiu 18% no último ano, passando de 99 mil hectares para 81 mil hectares. Já a produção de cocaína caiu de 600 para 430 toneladas. As reduções observadas nos últimos 12 meses representam um retorno aos níveis de cultivo de coca registrados no período entre 2004 e 2006. Boa parte dessa queda é resultado do processo de erradicação manual de 96 mil hectares de coca, um aumento de 44% em relação a 2007. E eu com isso? Apesar de a relação entre Estados Unidos e Colômbia ser muito particular, seu futuro pode ter impacto no Brasil. As decisões em Washington, como uma eventual redução do apoio norte-americano ao Plano Colômbia, podem debilitar em alguma medida, a médio prazo, o combate ao narcotráfico %u2014 o que teria implicações para os países vizinhos e a região. "O Brasil tem uma enorme fronteira com a Colômbia, e o que ocorre lá certamente tem influência aqui. É só lembrar o que aconteceu alguns anos atrás (1991), quando guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) mataram três soldados brasileiros em nosso território", lembra o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Argemiro Procópio.

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