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Depois de 5 anos da missão da ONU, o Haiti é mais seguro, mas ainda pobre

Agência France-Presse
postado em 02/07/2009 16:54
Cinco anos depois do início das atividades da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), o país vive com maior segurança, e a situação política, ainda frágil, é considerada mais estável; mas a maioria de seus nove milhões de habitantes ainda vivem na mais absoluta miséria. Com mais de 9.000 integrantes (7.000 militares), a Minustah completou no dia primeiro de junho seu primeiro lustro, que começou com uma violenta recepção por parte de partidários do ex-presidente Jean Bertrand Airistide e bandos de delinquentes e ex-militares, até ser aceita pelas pessoas. As imagens de carros em chamas e linchamentos que percorreram o mundo em 2004, embora não tenham desaparecido da vida dos haitianos, são agora esporádicas. Ainda se observam traços daqueles combates: paredes com marcas de balas, ou "puntos fuertes", como os militares chamam os locais que arrebataram de grupos criminosos e que agora ocupam para marcar presença em zonas mais problemáticas. O atual é um equilíbrio precário, e todos parecem sabê-lo. À boca pequena, os haitianos admitem que as forças oficiais - pouco treinadas e mal equipadas - não seriam capazes de manter a ordem. Se os carros brancos com a placa "UN" (Nações Unidas) deixarem o Haiti, a barbárie poderia voltar a explodir, por conta da violência política latente ou de grupos de traficantes de drogas disseminados entre a população. É esta %u2019normalidade%u2019 a que precisamente permite verificar a terrível situação vivida pela maioria dos habitantes do Haiti, o país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo, que convive com a falta de eletricidade, água potável, e onde uma consulta médica é luxo que poucos podem permitir-se. "Estamos aqui para garantir a segurança de forma que outras agências, outras instituições, inclusive o governo, possam trabalhar e o façam para levar o país a uma condição de sustentabilidade, levando algum benefício a uma população extremamente miserável", disse à AFP o comandante militar da Minustah, o general brasileiro Floriano Peixoto. Mas "a segurança, embora condição fundamental para o desenvolvimento, não enche barriga, não mata a fome, não dá emprego direto. Quem faz isso é o governo, são as instituições do país", afirmou Peixoto, para quem é indispensável o apoio da comunidade internacional para fomentar o desenvolvimento que permita "sustentar esta condição de segurança". No último 14 de abril em Washington, países doadores prometeram ajudar o Haiti com 324 milhões de dólares. No dia 19 de junho passado, nem um dólar desse total havia chegado a um país no qual tudo está por ser feito, desde o saneamento básico até a construção de hospitais. No total, 80% da populaçãohaitiana vive com menos de dois dólares por dia, a mortalidade infantil chega a quase 60% e o desemprego conhece uma taxa de 70%, segundo dados da agência central de inteligencia americana (CIA) e da Minustah. A maioria das pessoas vive do comércio informal. Numa tentativa de aumentar o volume de ajuda para esta empobrecida nação, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, fez um apelo à influência e popularidade do ex-presidente americano Bill Clinton (1992-2000), a quem nomeou, em maio, seu enviado especial para o Haiti. Enquanto a ajuda chega a conta-gotas, a Minustah constrói algumas pontes, trechos de estrada e depósitos de água potável. A Minustah tem a seu cargo não apenas a segurança interna, mas a vigilância de fronteiras, uma tarefa fundamental pela posição estratégica da ilha La Hispaniola, que o Haiti compartilha com a República Dominicana. "O Haiti é um país de trânsito para a droga, por mar ou em aviões que chegam da Colômbia e da Venezuela. Aqui os aviões param em pistas clandestinas, se reabastecem e seguem, com seu carregamento de droga para os Estados Unidos", explicou à AFP uma alta fonte da Minustah que preferiu não ter o nome divulgado. Composta por efetivos de 50 nacionalidades, a Minustah viu seu mandato renovado várias vezes e permanecerá no Haiti, a priori, até 2011.

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