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Obama e Medvedev concordam em reduzir arsenal nuclear em um terço

postado em 06/07/2009 17:52

Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Dimitri Medvedev, concordaram nesta segunda-feira (6/7) em reduzir em um terço os arsenais nucleares de seus países, um primeiro e importante passo para reparar a deteriorada relação bilateral, embora alguns temas, como o escudo antimísseis, permaneçam sem solução.

"Estados Unidos e Rússia, as duas principais potências nucleares, devem dar o exemplo. E isto é o que estamos fazendo hoje", declarou Obama, que faz sua primeira visita oficial a Moscou.

Os dois chefes de Estado assinaram um princípio de acordo que estabelece os objetivos do tratado que sucederá ao histórico START, de 1991, que reduziu os enormes arsenais nucleares da Guerra Fria. O novo START "será concluído este ano", garantiu Obama na entrevista coletiva conjunta ao lado de Medvedev. Estados Unidos e Rússia concordaram em reduzir para entre 1.500 e 1.675 o número de ogivas nucleares, e para entre 500 e 1.100 a quantidade de vetores nucleares (mísseis intercontinentais, embarcados a bordo de submarinos e de bombardeiros estratégicos) de cada um dos dois países.

As reduções devem ser aplicadas "nos sete anos seguintes à entrada em vigor do acordo", explicaram o Kremlin e a Casa Branca em uma declaração conjunta, divulgada ao término da reunião entre Medvedev e Obama. Rússia e EUA possuem cada um entre 2.000 e 3.000 ogivas mobilizadas - ou seja, prontas para uso imediato. Os atuais acordos limitam em 1.600 o número de vetores.

Partindo "deste entendimento", os negociadores russos e americanos darão continuidade às conversações para tentar concluir um novo tratado sobre a redução dos arsenais nucleares para suceder o histórico START, que expira em dezembro. Washington e Moscou detêm juntos mais de 90% do número total de bombas atômicas existentes.

Por outro lado, a Rússia autorizou o uso de seu espaço aéreo para o trânsito de soldados e material militar dos Estados Unidos destinados ao Afeganistão - um acordo importante para Obama, que fez da guerra neste país asiático uma de suas prioridades internacionais. Os Estados Unidos poderão utilizar o espaço aéreo russo para transportar soldados, armas, munições, peças soltas e veículos (inclusive blindados) em 4.500 voos anuais sem precisar pagar direitos por sobrevoo ou fazer escalas em território russo, explicou um membro do governo americano.

A ampliação do uso do espaço aéreo russo reforça o "já robusto" apoio oferecido por Moscou à questão afegã, destacou a Casa Branca, estimando que a Rússia é "um membro valioso" da coalizão internacional que respalda o esforço militar no Afeganistão.

Outro sinal de distensão bilateral chegou com o acordo alcançado por Moscou e Washington para retomar as atividades militares conjuntas que foram suspensas em agosto de 2008 em consequência da guerra russa na Geórgia. De todo modo, as negociações do novo START foram o foco das atenções desta visita de Obama à capital russa, cujo principal objetivo é limpar o terreno das tensões provocadas pelos últimos meses de George W. Bush na Casa Branca - e, segundo palavras da administração Obama, impulsionar as relações bilaterais.

"O presidente (Medvedev) e eu concordamos que a relação entre Rússia e EUA sofria de uma certa impressão de deriva. Decidimos reativar as relações russo-americanas", disse Obama. "É exatamente o que fizemos". No entanto, algumas rusgas permanecem, começando pelo polêmico projeto do escudo antimísseis americano na Europa, que há meses azeda as relações entre Moscou e Washington. "Em algumas horas, não conseguiríamos fazer desaparecer o peso de todos os problemas", admitiu Medvedev.

Os russos insistiram na necessidade de vincular este projeto às negociações do novo START, enquanto os americanos defendiam manter separadas as discussões sobre os dois temas.

Terminado o encontro entre Obama e Medvedev, cada uma das partes fez uma leitura diferente: os russos proclamavam que os americanos haviam aceitado ligar uma coisa à outra, enquanto os americanos afirmavam que Obama só havia admitido um vínculo "teórico". A cúpula também foi dedicada a discutir os diferentes pontos de vista sobre o Irã: Obama citou a ameaça bélica iraniana para justificar o projeto do escudo antimísseis na Europa.

Segundo o assessor da Casa Branca Denis McDonough, o Irã foi "central" na conversa com o presidente russo. Medvedev, no entanto, foi suficientemente cuidadoso para sequer mencionar o nome "Irã" durante a entrevista coletiva.

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