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Nova encíclica de Bento XVI pede que o mundo administre a globalização

Agência France-Presse
postado em 07/07/2009 15:22
O Papa Bento XVI pediu ao mundo que administre a globalização, na terceira encíclica de seu pontificado, "Caritas un Veritate" (Caridade na Verdade), apresentada nesta terça-feira, na véspera da reunião de cúpula dos oito países mais ricos do mundo (G8) em L'Aquila (centro da Itália). "Para governar a economia mundial, para sanear as economias afetadas pela crise, para prevenir seu agravamento e maiores desequilíbrios consequentes, para alcançar um oportuno desarmamento integral, a segurança alimentar e a paz (...) urge a presença uma verdadeira Autoridade política mundial", afirma o Sumo Pontífice em sua terceira encíclica, a primeira de cunho social, "Caritas in Veritate". No documento, Bento XVI afirma que o desenvolvimento econômico foi positivo, na medida em que tirou milhões de pessoas da miséria e deu a muitos países a possibilidade de se tornarem atores eficazes da política internacional. Mas, segundo o papa, a crise econômica atual evidenciou anomalias e problemas que devem ser analisados sem ideologias que tendem a simplificara realidade. "A Autoridade política mundial deverá estar regulada pelo direito, atendo-se de maneira concreta aos princípios do subsídio e da solidaridade, estar ordenada à realização do bem comum", afirma o texto de 150 páginas. "Diante do incessante aumento da interdependência mundial e também na presença de uma recessão de alcance global, sente-se a urgência da reforma, tanto da Organização das Nações Unidas como da arquitetura econômica e financeira internacional", destaca o Papa. No texto, o Pontífice reconhece a necessidade de "um grau superior de ordenação internacional para o governo da globalização, para que se alcance uma ordem social em conformidade com a ordem moral". A nova encíclica é interpretada como uma mensagem clara aos líderes dos países ricos e das economias emergentes, que são citados nas análises. Bento XVI, conhecido por suas posições tradicionalistas, aborda desta vez graves e importantes problemas sociais, morais e éticos do mundo moderno para condenar o "egoísmo, a cobiça e a falta de solidariedade". "O exclusivo objetivo do lucro, sem o bem comum como fim último, ameaça destruir a riqueza e criar pobreza", escreve. Também analisa "as distorções" do desenvolvimento, como a atividade "especulativa" financeira, os fluxos migratórios "provocados" e o aproveitamento "não regulado" dos recursos da terra. "A crise nos obriga a revisar nosso caminho, a estabelecer novas regras e a encontrar novas formas de compromisso", reconhece. No documento, o Papa aponta a "atividade financeira especulativa, fluxos migratórios muitas vezes provocados e depois mal administrados, e o uso desregrado dos recursos da terra, como alguns dos principais fatores da crise. Além disso, o Papa afirma que a busca apenas do lucro, sem pensar no bem comum, pode destruir a riqueza e gerar mais pobreza. "A economia precisa de uma ética amiga das pessoas para um correto funcionamento.(...). A crise atual mostra que os princípios de ética social, transparência, honestidade e responsabilidade não podem ser negligenciados", diz o Papa. O texto aborda a necessidade de construir novas regras para uma economia cada vez mais globalizada e pede que os mais pobres do planeta sejam levados em consideração. Na avaliação do Papa, a riqueza mundial cresce em termos absolutos, mas aumentam as disparidades e surgem novas pobrezas. De acordo com o documento, a Igreja não sugere soluções técnicas para os problemas desencadeados pela crise econômica internacional, mas indica a doutrina social como guia, além de recordar aos homens públicos que o primeiro capital a ser preservado e valorizado é o homem, em sua integridade. Cópias da encíclica - traduzida a vários idiomas e também ao latim - serão enviadas aos líderes mundiais reunidos em L'Aquila. No documento, o Papa analisa a "Populorum Progressio" (1967) de Paulo VI e a "Centesimus Annus" (1991) de João Paulo II, com o objetivo de examinar as últimas fases do deteriorado capitalismo global. Bento XVI, cujo pontificado começou em 19 de abril de 2005, publicou sua primeira encíclica em 25 de janeiro de 2006, sobre a caridade e o amor divino, com o título em latim "Deus caritas est", e a segunda em 30 de novembro de 2007, "Spes salvi", sobre a esperança cristã. Para elaborar o novo texto, o Papa consultou vários especialistas, entre eles vários economistas, teólogos e prelados.

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