Mundo

Funeral público de Michael Jackson parou o mundo

Paris, filha do cantor, foi responsável por desabafo emocionante

postado em 08/07/2009 08:21
O funeral público de Michael Jackson se aproximava do fim quando uma frase brilhou no telão do Staples Center: "Estou vivo e ficarei aqui para sempre". A profecia resumiu o tom de uma cerimônia que, nos moldes de um respeitoso espetáculo musical, celebrou o legado do astro pop. Cerca de 20 mil convidados lotaram o estádio no centro de Los Angeles para lembrar dos momentos mais luminosos da trajetória do artista - uma plateia formada por familiares e amigos do músico, além 11 mil fãs sorteados via internet. Uma das poucas surpresas do evento, que reuniu grandes nomes da indústria fonográfica, foi a participação emocionada da filha Paris Michael Katherine Jackson, de 11 anos. "Desde que nasci, ele foi o melhor papai imaginável. Eu só queria dizer que o amo muito", afirmou. No mundo, a despedida provocou comoção. Uma quantidade incalculável de espectadores assistiu ao tributo pela tevê e na web. A empresa Akamai, especialista em tráfego na internet, calcula que cerca de 3 milhões de canais de vídeo online eram acessados simultaneamente durante a transmissão - um número três vezes superior à média. As expectativas eram alimentadas pelo suspense criado pela família Jackson, que se recusava a divulgar detalhes sobre a programação do funeral. Já durante a madrugada, a imprensa norte-americana monitorava os portões do cemitério Forest Lawn, no sul da Califórnia, onde o corpo de Michael seria velado pela família numa cerimônia particular. Havia suspeitas de que o músico teria sido enterrado secretamente. Mas, às 8h30 (em Brasília, 12h30), as câmeras acompanhavam um comboio de 30 veículos, que deixava a residência dos Jackson, no distrito de Encino, em direção ao cemitério. O velório intimista durou apenas meia hora. Às 9h30, os carros já se aproximavam do ginásio - lá, cerca de 50 mil pessoas já aguardavam desde as 6h. Na área cercada pela polícia, só era permitida a entrada dos 17,5 mil fãs com convites e pulseiras de identificação. Desses, 6,5 mil assistiriam ao show no telão do Nokia Theatre, logo ao lado. Nos Estados Unidos, a cerimônia ainda seria exibida simultaneamente em 37 cinemas digitais. Uma rede luxuosa para um evento que reuniu ídolos como Stevie Wonder, Lionel Richie e Berry Gordy, fundador da Motown Records. Às 10h10, o soulman Smokey Robinson subiu ao palco e leu depoimentos de Diana Ross e Nelson Mandela, que não puderam comparecer à cerimônia. Depois de 20 minutos de silêncio, o evento começou com a apresentação do pastor Lucious Smith, amigo da família. Apesar dos ensaios realizados na noite de segunda-feira, o funeral também revelou momentos de espontaneidade e emoção. Às lágrimas, o cantor Usher interrompeu a interpretação de Gone too soon e abraçou a família Jackson. Stevie Wonder sussurrou um discurso comovido sobre o amigo. A atriz Brooke Shields chorou com as lembranças de um Michael inocente e fragilizado, o amigo de juventude. Nos momentos finais, a reunião da família no palco - onde subiram os três filhos do cantor - beirou a catarse. "Michael, quando você nos deixou, uma parte de mim se foi com você. E uma parte sua vai viver comigo para sempre", afirmou Marlon Jackson. Canções de sucesso como I%u2019ll be there, Human nature e We are the world foram lembradas por um elenco de astros que incluiu Mariah Carey, John Mayer, Jennifer Hudson e o irmão de Michael, Jermaine Jackson. A ex-mulher, Debbie Rowe, não apareceu. A política se fez presente nos discursos da deputada Sheila Jackson Lee, do Texas, e do reverendo Al Sharpton. Nos dois casos, foi destacada a importância de Michael para a afirmação dos negros nos Estados Unidos. Sharpton chegou a apontar a eleição de Barack Obama como consequência da popularidade do cantor. O presidente norte-americano, em viagem a Moscou, comentou a declaração com jornalistas. "Ele faz parte de uma longa tradição de artistas negros que provocaram impacto na nossa cultura", afirmou, citando personalidades como Sidney Poitier e Louie Armstrong. No funeral, que durou 2h30, os escândalos da carreira de Michael mal foram citados. O Rei do Pop renasceu como um líder humanitário, um artista brilhante e um filho carinhoso. "Michael seria até melhor no basquete. Era um gênio", definiu o ex-jogador Magic Johnson. Segundo o site de celebridades TMZ, o local do enterro de Michael não havia sido divulgado pela família. Mas o corpo não ficaria em Forest Lawn. Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre o sepultamento. Passo a passo 6h. Com barreiras de concreto, policiais fecham a área próxima ao Staples Center, no centro de Los Angeles. 7h. É liberada a entrada dos fãs na área que cerca o Staples Center. São mais de 200 pessoas, com convites e pulseiras de identificação. Na porta do ginásio, elas escrevem mensagens para o ídolo num grande painel. 8h. Chefe da polícia de Los Angeles confirma que o corpo de Michael seria transportado até o Staples Center. Em 30 carros, família Jackson deixa casa em Encino em direção ao cemitério Forest Lawn. Trechos de três pistas foram bloqueados. 8h30. Família e amigos chegam ao cemitério. No portão, 200 jornalistas os aguardavam. Eles confirmam que o corpo de Michael estará no Staples Center. 9h. Caixão de Michael é colocado em carro pelos irmãos. Família começa a deixar o cemitério. É aberto o acesso do público ao Staples Center. Os lugares são marcados. Cada pessoa recebe revista com o programa do evento. Na capa, uma foto de Michael de braços abertos e o título: "Uma celebração da vida de Michael Jackson". Dentro do estádio, a organização ainda arruma detalhes do palco. 9h30. O comboio da família e dos amigos de Michael deixa o cemitério e segue para o Staples Center. Na região, polícia estima a presença de 50 mil pessoas - bem menos que as 700 mil esperadas. Um fã foi preso por provocar arruaça fora do ginásio. 9h50. Carros da família chegam ao Staples Center. 400 fãs sem convite tentam ver o caixão do ídolo, sem sucesso. 10h10. Antes do início da cerimônia no Staples Center, o cantor Smokey Robinson lê mensagens de Nelson Mandela e Diana Ross, que não compareceu ao evento: "Michael é uma lenda da indústria da música. Estamos de luto", diz o texto de Diana. 10h35. Começa o funeral. Um coro canta uma canção religiosa enquanto o caixão é levado ao pé do palco pelos irmãos de Jackson. O pastor Lucious Smith, amigo da família, faz a apresentação. "Michael foi e sempre será parte da querida família Jackson. Vamos celebrar todo o amor que ele trouxe para as nossas vidas", afirma. 10h45. Com Trey Lorenz, Mariah Carey canta I%u2019ll be there, sucesso do Jackson 5. No telão, imagens de Michael quando criança. Em seguida, a atriz Queen Latifah fala em nome dos fãs do cantor: "Ele era a maior estrela na Terra. Nós éramos ele". 10h50. Lionel Richie canta Jesus in love, emocionado. Em seguida, Berry Gordy, fundador da gravadora Motown, fala sobre o início da carreira do cantor: "Rei do Pop não era um título grandioso o suficiente para o maior artista que já viveu". É aplaudido fortemente. 11h05. No telão, um clipe com imagens da carreira de Michael. Entre os trechos, cenas do vídeo They don%u2019t care about us, gravado no Rio de Janeiro. 11h10. Ao piano, Stevie Wonder, em momento emocionante, canta Never dreamed you%u2019d leave in summer. "Eu não queria ter vivido para ver este momento", diz. 11h20. Os jogadores de basquete Magic Johnson e Kobe Bryant lembram trabalho beneficente do artista. "Devemos agradecer pela forma como Michael abriu portas para os afro-americanos", observou. Em seguida, Jennifer Hudson canta Will you be there, do álbum Dangerous (1991). Uma gravação da voz de Michael, trecho da canção, toma conta do ginásio. 11h30. Reverendo Al Sharpton faz ode à família Jackson. Depois, o guitarrista John Mayer interpreta versão instrumental de Human nature, do disco Thriller. A atriz Brooke Shields lembra dos dias de adolescência com Michael. 11h50. O irmão Jermaine Jackson, de luva branca com detalhes prateados, interpreta Smile, de Charlie Chaplin. É seguido de Martin Luther King III e Bernice A. King. "Ele foi um homem brilhante, assim como nosso pai", afirma Bernice. 14h. A deputada do Texas Sheila Jackson Lee chama Michael de "bom samaritano" e anuncia a criação de uma resolução, em debate no Congresso norte-americano, que garante ao músico o título de líder humanitário. Pouco depois, Usher interpreta Gone too soon. Interrompe a canção, chora e é abraçado pela família Jackson. 14h15. Depois de vídeo com trecho de apresentação do Jackson 5, Smokey Robinson lamenta a morte do "irmãozinho". O menino Shaheen Jafargholi (finalista no programa Britain's got talent) canta Who%u2019s lovin%u2019 you. Ele participaria da turnê que Michael iniciaria neste mês em Londres. Kenny Ortega, que dirigia as coreografias do show, fala sobre o ídolo. 14h30. Convidados se juntam no palco para cantar o hino We are the world. No telão, imagens de pessoas de várias nacionalidades. Os irmãos Jackson sobem ao palco para os últimos depoimentos. "Ele foi o melhor pai do mundo", diz Paris, filha do cantor. A última canção é Heal the world. 14h45. Os irmãos levam o caixão para fora do ginásio. Um holofote ilumina o palco por alguns minutos. O pastor Lucious Smith retorna e se despede. "Que Deus o abençoe", diz. No telão, uma foto de Michael brilha ao lado da frase: "Estou vivo e estou aqui para sempre". 15h. Os carros da família deixam o Staples Center. (Horário de Los Angeles)

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