Agência France-Presse
postado em 08/07/2009 17:55
A primeira visita oficial à Rússia do presidente americano, Barack Obama, marcou o início de uma nova era na relação entre os dois países, que há menos de 20 anos ainda se consideravam arqui-inimigos.
Após oito anos de presidência de George W. Bush, criticada pelo enfoque moralista, os russos descobriram um novo tom capaz de melhorar as relações bilaterais, azedadas por uma série de contendas.
"O estilo mudou por completo na administração americana. Chegaram homens novos, que não têm um enfoque negativo das relações com Moscou", resumiu o especialista russo Fedor Lukianov, diretor da revista Rússia na Política Mundial.
Em uma série de questões - desarmamento, Irã, Afeganistão - Obama revindica um pragmatismo que rompe com o ambiente de Guerra Fria da época de Bush e Vladimir Putin. Com um grande objetivo em mente: obter a cooperação de Moscou em dois temas cruciais de sua presidência, o Irã e o Afeganistão.
"Já não se manifesta irritação contra a Rússia sobre o assunto da Geórgia, da Ucrânia ou da democracia. Estes assuntos não desapareceram, mas agora estão em segundo plano", estimou Lukianov.
Nas negociações sobre desarmamento, até os militares russos - sempre na defensiva contra seus antigos rivais da Guerra Fria - parecem também apreciar a mudança de atmosfera.
"A antiga administração americana simplesmente não nos escutava, a atual está disposta a ouvir nossas perguntas e a falar", afirmou o chefe do Estado Maior russo, Nikolai Makarov, citado pela agência Interfax.
A imprensa russa também festejou a nova distensão. "A reativação que há tempos se esperava aconteceu", escreveu na terça-feira o jornal pró-governo Izvestia. "Apertaram a tecla (de reinício)", anunciou por sua vez o Vremia Novostei.
Entretanto, é bom não perder de vista que em 2001, nos primeiros meses da presidência Bush, as duas capitais falavam de "reativação" das relações bilaterais. O que aconteceu foi menos promissor.
"Não nos esqueçamos de que Bush e Putin mantinham relações excelentes, mas nada avançava", lembrou Viktor Kremeniuk, vice-diretor do Instituto USA-Canada em Moscou.
"A cúpula de Barack Obama e Dimitri Medvedev é um sucesso. Os presidentes encontraram uma linguagem comum (...). Mas ainda é cedo demais para dizer se isso vai durar", alertou, afirmando que o receio entre as duas potências "continua sendo profundo".
A lista de problemas, por sua vez continua sendo longa, incluindo, por exemplo, os termos da nova redução dos armamentos estratégicos, o projeto de escudo antimísseis americano na Europa e a ampliação da Otan no quintal da Rússia.
Em matéria de desarmamento, Obama e Medvedev fixaram na segunda-feira com seus negociadores objetivos muito amplos de redução de arsenais, numericamente falando. O número de vetores nucleares será limitado entre 500 e 1.100, o mínimo corresponde às exigências russas e o máximo das americanas.
"Estas limitações são muito vagas. Isto mostra que eles não conseguiram aproximar posições", apontou Viktor Essine, antigo chefe do Estado Maior das forças estratégicas russas.
Sobre o escudo antimísseis, Moscou não foi capaz de convencer os Estados Unidos a abandonar o projeto, que percebe como uma ameaça contra sua segurança.
"Continuamos sem saber se os americanos levaram em consideração nossas preocupações (...). Vamos ter que trabalhar muito para chegar a um acordo sobre os armamentos estratégicos", estimou Essine.