Mundo

Rivais hondurenhos têm diálogo indireto

Presidente da Costa Rica inicia mediação e topa com intransigência de ambas as partes

postado em 10/07/2009 08:28
A linguagem de corpo do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, deixou poucas dúvidas sobre a tarefa a que se propôs o governante da Costa Rica, Óscar Arias, ao aceitar o papel de mediador na crise do país vizinho. Arias, ganhador do Nobel da Paz de 1987 por seu papel na solução de conflitos armados na América Central, recebeu momentos depois Roberto Micheletti, chefe do governo hondurenho de fato, instalado após um golpe de Estado e sem reconhecimento internacional. À saída da residência presidencial costa-riquenha, Zelaya deu a entender com um gesto, respondendo a um jornalista, que não pretendia reunir-se cara a cara com o rival. "Avançamos numa primeira etapa", disse o presidente constitucional à imprensa depois de um encontro de meia hora com o anfitrião. Zelaya agradeceu o empenho de Arias e resumiu em poucas palavras o teor da conversa. "O presidente ouviu minha exposição e a dos setores sociais e políticos que me acompanham, em defesa da devolução imediata do cargo ao mandatário eleito". Nas imediações da residência, manifestantes gritavam palavras de ordem contra "o golpe militar" em Honduras e pediam a remoção de Micheletti. "Aqui, não há o que negociar: a única solução é devolver o poder a Zelaya", disse o sindicalista costa-riquenho Edgar Morales. A única coincidência de opiniões entre os dois políticos que reivindicam o governo de Honduras, até ontem, era justamente quanto ao propósito dos encontros com Óscar Arias: dialogar, e não negociar. O presidente de fato, Roberto Micheletti, chegou à residência oficial por volta das 13h locais, depois de ter esperado por mais de três horas no aeroporto até que Zelaya deixasse o local. Segundo a ministra costa-riquenha da Comunicação, Mayi Antillón, o anfitrião planejava manter mais tarde uma reunião com os assessores de ambas as partes, aos quais os dois presidentes se uniriam em um momento posterior. Micheletti, porém, embarcou de volta para Tegucigalpa depois de se reunir com Arias. Disse apenas que estava "plenamente satisfeito", convencido de que "podemos resolver nossos problemas internos entre nós mesmos, hondurenhos". Auxiliares do governo de fato sugeriram que seu objetivo era assegurar que o presidente deposto retorne a Honduras "para ser julgado". Quando decidiram remover Zelaya do palácio presidencial, no último dia 28, e enviá-lo em avião militar para a Costa Rica, os militares hondurenhos alegaram que o governante estava desacatando a Justiça ao insistir na realização de uma consulta popular desautorizada pela Suprema Corte Reservadamente, a assessoria de Óscar Arias admitia que encontrar uma fórmula capaz de restaurar pacificamente a ordem constitucional em Honduras - com a recondução de Zelaya ao poder, como exigiu por consenso a Organização dos Estados Americanos (OEA) - será missão quase impossível mesmo para um negociador com as credenciais do mandatário costa-riquenho. Em público, porém, Arias procurou demonstrar otimismo, ressaltando "a vontade de ambos os lados de buscar uma solução negociada por meio da diplomacia, do diálogo". Ele driblou a pressão dos repórteres indicando que não tem data para obter um acordo: "Pode haver uma solução em dois dias, mas igualmente pode ser que em dois meses não tenhamos nada".

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação