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Presidente checheno processa ONG que o acusou de assassinato

Agência France-Presse
postado em 17/07/2009 16:06
Acusado pela ONG russa Memorial de ter ordenado o assassinato da militante dos direitos humanos Natalya Estemirova, o presidente da Chechênia, Ramzan Kadyrov, recorreu à justiça nesta sexta-feira, em nome de sua honra de "pai de família" e de "filho de presidente mártir". "Processo a ONG Memorial por atentado à honra, à dignidade e à reputação do presidente checheno Ramzan Kadyrov", declarou o advogado Andrei Krasnenkov, citado pela agência Interfax. Trata-se de duas queixas enviadas a um tribunal de Moscou e à polícia da capital, uma contra um dirigente da Memorial e a outra por difamação, destacou Krasnenkov. Um dos dirigentes da Memorial, Oleg Orlov, acusou o líder checheno de estar por trás do assassinato de Natalya Estemirova, uma colaboradora da ONG assassinada quarta-feira no Cáucaso russo. "Todos nós conhecemos o culpado. O nome dele é Ramzan Kadyrov", declarou. "Estou seguro de que vamos ganhar os dois casos, porque as declarações de Orlov são claramente difamatórias", afirmou o advogado do presidente checheno. Não foi possível contactar Orlov, que assisitia nesta sexta-feira a uma cerimônia fúnebre na Chechênia, para comentar a informação. Antes de processá-lo, Kadyrov ligou para Orlov e lhe deu uma lição de moral sobre a presunção de inocência. "Você não é nem procurador, nem juiz, e suas afirmações sobre minha culpa não são éticas, mas estranhas", disse Kadryrov, em declarações publicadas em seguida pelo site da presidência chechena. "Além de presidente da Chechênia, sou pai de sete filhos e filho de uma mulher que perdeu seu marido na luta contra os terroristas", acrescentou, em alusão a seu pai, Akhmad Kadyrov, presidente checheno morto em atentado em 2004. "Você tem que pensar nos meus direitos antes de falar para o mundo inteiro que sou culpado da morte de Estemirova", prosseguiu. Natalya Estemirova foi sequestrada quarta-feira em Grozny, a capital chechena, e seu corpo foi encontrado algumas horas depois na Inguchétia vizinha com vários impactos de balas na cabeça e no tórax. O drama suscitou uma onda de indignação no Ocidente, lembrando o assassinato, em outubro de 2006, da jornalista Anna Politkovskaia, que também denunciava as violações dos direitos humanos na Chechênia e tinha trabalhado com Estemirova. Na época, Kadyrov também foi colocado no topo da lista dos suspeitos. Porém, afirmou então que a jornalista, muito crítica sobre sua política, não o perturbava. "Os chechenos não fazem acertos de contas, sobretudo com mulheres. Penso que as pessoas que a mataram queriam sujar o nome de Kadyrov. Não mato mulheres, nunca matei mulheres", garantiu ainda o presidente checheno. Quinta-feira, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, rejeitou as acusações da ONG Memorial contra Kadyrov, cujas forças são constantemente acusadas de cometer sequestros e execuções. "Os que cometeram este crime sabiam que as versões mais primitivas e mais inaceitáveis para o poder seriam imediatamente veiculadas", declarou o dirigente russo.

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