Mundo

Israel: Oportunidade de diálogo aberto

postado em 19/07/2009 08:00

Às vésperas da primeira visita de um chanceler israelense ao Brasil em duas décadas, o embaixador do país em Brasília, Giora Becher, avalia esse como o melhor momento da relação bilateral nos últimos anos. Apesar disso, defende que, tanto no campo econômico quanto no político, a interação pode avançar. Para Becher, o fato de o novo governo israelense ser composto por líderes mais conservadores, como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o próprio chanceler, Avigdor Lieberman, não será um empecilho para o diálogo com o Brasil. "Essa vai ser uma oportunidade para nosso chanceler expressar suas ideias e a política do novo governo, que é de assegurar a paz no Oriente Médio com segurança para Israel", disse em entrevista ao Correio. Ele ainda garante que a intenção do governo israelense não é ditar como deve ser a relação entre Brasil e Irã, mas "falar abertamente e entender melhor o que cada lado pensa" sobre Teerã. Admite, contudo, que Israel "quer que o mundo exerça mais pressão sobre o Irã", inclusive o Brasil. "O governo de Israel acredita que é melhor não permitir ao Irã se tornar um país nuclear", disse.

O Brasil é um dos primeiros países a ser visitado pelo chanceler Avigdor Lieberman. Isso simboliza um grande interesse do novo governo israelense em estreitar as relações bilaterais?


Certamente. O novo governo de Israel quer demonstrar a atenção que vai dedicar ao continente latino-americano e ao Brasil, o país mais importante (da região). As relações entre Israel e Brasil já são muito boas, mas podemos e devemos fazer mais não só nos campos econômico e político, como também no cultural e no do turismo. Do ponto de vista econômico, o comércio entre os dois países movimenta US$ 1,5 bilhão, e sabemos que podemos chegar a um número maior. Por isso, já assinamos o Tratado de Livre Comércio entre Israel e os países do Mercosul e esperamos que ele seja ratificado.


O que Israel espera das relações entre os dois países na área econômica?


Queremos dobrar a cifra de US$ 1,5 bilhão no comércio bilateral. Acreditamos ser facilmente possível chegar a US$ 3 bilhões, principalmente após a ratificação desse tratado de livre comércio. Mas quando falamos de relações econômicas, falamos também de setores como o de turismo, no qual vamos assinar acordos para aumentar o número de vôos semanais entre Brasil e Israel. No último ano, Israel recebeu mais de 30 mil turistas brasileiros. O potencial é maior, e queremos chegar a 50 mil por ano. O Brasil também já é um destino turístico muito conhecido em Israel, mas queremos trazer mais israelenses para cá.

Mas a conversa entre os dois governos também será política. O que está na pauta do encontro?


Essa será uma oportunidade para os dois chanceleres trocarem ideias sobre o Oriente Médio e a América Latina. Será um momento importante para entender melhor o que se passa neste continente, quais são as perspectivas do Brasil sobre as suas relações com outros países, mas também para falar sobre o Oriente Médio ; que é um assunto muito importante para nós ; e a capacidade nuclear e de mísseis do Irã. A proposta é falar de uma maneira aberta, expondo as nossas perspectivas e compreendendo melhor a forma como o governo brasileiro vê a situação no Oriente Médio.

O Irã será o principal assunto da visita. Que tipo de ajuda Israel quer do Brasil em relação a Teerã?


A ideia é que ambos os lados entendam melhor como o outro país vê a situação com o Irã. Temos mecanismos de consulta política entre os dois ministérios das relações exteriores, mas essa é uma boa oportunidade para trocar ideias entre os dois governos. O que Israel deseja é que todo o mundo exerça mais pressão sobre o Irã em termos de seu programa nuclear-militar. O governo de Israel acredita que é melhor não permitir ao Irã se tornar um país nuclear.

O Brasil tem mantido uma certa aproximação com o Irã, evidenciada com o anúncio da visita do presidente Mahmud Ahmadinejad ao Brasil, que foi cancelada de última hora. Lieberman deverá pedir um afastamento do Brasil em relação a Teerã?


Não acredito que esse seja o motivo da viagem. A ideia é falar abertamente e entender melhor o que cada lado pensa. Depois, os dois governos vão analisar se é possível mudar a política, ou algum aspecto da política, em relação ao Irã.

O governo brasileiro tem dito que tem interesse em ampliar sua participação nas negociações de paz entre israelenses e palestinos. Como o Brasil pode ajudar?


O Brasil é um país que tem relações muito boas com Israel mas também com os outros países árabes e os palestinos, podendo sempre dialogar com todos os lados. Creio que o Brasil deveria se concentrar em dar apoio a governos moderados do mundo árabe e ao governo legítimo dos palestinos, representado pelo presidente Mahmud Abbas.

No mandato de Lula, o Brasil se aproximou muito dos países árabes. O senhor acha que o governo brasileiro pode entrar com uma posição não tão "isenta" para contribuir com o processo de paz?


Você tem razão quando fala da aproximação do governo brasileiro com os países árabes, mas também acredito que os governos de Brasil e Israel melhoraram muito as relações bilaterais. As relações agora são melhores que no passado, e isso mostra que o Brasil está preocupado em ter um bom diálogo com ambos os lados.

Em seis anos e meio de mandato, no entanto, o presidente Lula não fez uma visita oficial a Israel. Isso é visto por seu governo como descaso?


Não creio que isso tenha tido efeito sobre as relações bilaterais entre Israel e Brasil. O fato é que temos agora uma visita do chanceler israelense ao país ; a primeira vez em mais de 20 anos ; e também vamos ter, no fim deste ano, a vinda do presidente Shimon Peres. Espero que, em 2010, o presidente Lula possa também visitar Israel.

O novo governo israelense está mais voltado para a direita do espectro político e o chanceler, inclusive, é um político de posições muito polêmicas em relação ao conflito com os palestinos e a segurança de Israel. A composição desse governo vai atrapalhar as relações com o Brasil?


Realmente não acredito que vá atrapalhar, e essa vai ser uma oportunidade para nosso chanceler expressar suas ideias e a política do novo governo, que é de assegurar a paz no Oriente Médio com segurança para Israel ; o que é muito importante. Acredito que essa vai ser a chance de mostrar que o novo governo está comprometido, como todos os governos anteriores, a alcançar a paz na nossa região.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação